Por Renata Coutinho
Na luta contra um câncer, além dos tratamentos do corpo, estão os cuidados com a mente. No entanto, como se manter firme para o tratamento mergulhada num turbilhão de emoções como medo, angústia, pânico e revolta, que muitas vezes tomam as pacientes diante do diagnóstico? As saídas não são padronizadas. Elas adequam-se ao estilo de vida e à forma que cada mulher encara a doença. Algumas encontram no apoio psicológico a força que precisam. Outras vão em busca da religiosidade ou da família e amigos no suporte para a batalha à frente. Apesar dos contratempos que o câncer pode trazer para a vida cotidiana, a regra primordial é não se entregar.
A advogada Maria Paula Lopes, 30 anos, reencontrou seu “eixo” com a ajuda de terapia iniciada há dez meses e nos relatos da sua jornada na rede social Instagram, onde já tem mais de 14 mil seguidores. A ideia de usar a internet para criar uma espécie de diário virtual começou para poder dar notícias da saúde a várias pessoas ao mesmo tempo e, também, manter atualizadas outras tantas que ficavam com vergonha de ligar. “Aquilo esvaziava minha cabeça, esvaziava meu coração. E, em troca, eu estava recebendo muitas mensagens positivas. Percebi que poderia ajudar outras pessoas”, contou.
Os relatos dela buscam dar esperança. “Escrevo com meu coração e acabo retratando uma rotina. É uma forma de mostrar a quem está com a doença que é possível ter uma qualidade de vida, de sair, de estar com amigos, apesar das limitações”, ressaltou Maria Paula. A advogada, que teve câncer de mama em 2011, viu o tumor voltar neste ano, desta vez metastático (uma forma que mostra que a doença se espalhou). Se, no passado, ela preferiu encarar o diagnóstico com ajuda da família e amigos, agora, achou que era hora de ser acolhida por um psicólogo.
“Da primeira vez achava que seria uma demonstração de fraqueza, que eu conseguiria superar sozinha, mas depois vi que era o contrário, era uma prova de amadurecimento.
Desta vez, eu senti essa necessidade, porque agora é um diagnóstico para sempre. Eu vou me manter em tratamento para o resto da vida. A terapia foi muito importante para pensar melhor minha vida”, disse.
A idosa Elisabete Bezerra, 61, já teve um câncer de mama há nove anos. Hoje, curada, é voluntária do Hospital de Câncer de Pernambuco (HCP). Na sua história particular, confessou o impacto com o resultado positivo diante do tumor. “Câncer é uma palavra muito pesada. Dá um desespero.” A superação veio com ajuda da família, dos amigos, de muita oração e de trabalho. Paralelo ao tratamento, ela resolveu ajudar outras mulheres no Espaço Renascer do HCP. Para o grupo, a conversa entre iguais funciona como remédio.
A psicóloga do Serviço de Quimioterapia de Pernambuco (Sequipe), Divamar Albuquerque explicou que a intervenção de um especialista para cuidar da saúde emocional pode acontecer desde a suspeita da doença. “Tem aquela que fica ansiosíssima para saber logo o que tem e resolver o mais rápido possível. E tem outras que entram em pânico. O psicólogo vai esclarecer o necessário, ouvir os medos, ouvir as angústias. O foco é manter a paciente estável do ponto de vista emocional”, comentou.
O trabalho não é fácil e gera, em algumas pessoas, sinais de depressão, o que é um risco para a batalha. “Estar triste e deprimida vai interferir no sistema imunológico. Por isso, temos que trabalhar em cima da alegria, estimular essa paciente a uma vida normal.”
TEXTO ORIGINAL DE FOLHA PERNAMBUCO
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