Problemas com a saúde mental sempre foram um tabu. Há algum tempo, a mídia e pessoas influentes estão tentando reverter essa situação por se tratar de complicações sérias e que precisam ser tratadas o quanto antes. Pensando nisso, nesta terça-feira (18), a cantora americana Lady Gaga uniu forças com a família real britânica e, juntos, lançaram um vídeo em que comentam sobre distúrbios na saúde mental , estimulando as pessoas a falarem sobre o assunto e buscarem ajuda. Veja na íntegra:
A conversa entre ela e o príncipe William, que aconteceu por videoconferência, foi postada nas redes sociais de ambos. A cantora, que já havia dito publicamente que sofre de problemas psicológicos desde que foi estuprada quando tinha 19 anos, conta ao membro da realeza como se sente. “Acordar todos os dias me sentindo triste e ir para o palco é algo muito difícil de descrever. Há muita vergonha relacionada às doenças psicológicas. Você sente como se algo estivesse errado com você”, diz ela.
Recentemente, o irmão de William, o príncipe Harry, revelou que sofre de transtornos mentais por não superar a morte da mãe, Diana. Conversando com Gaga, William, que foi um dos apoiadores para que o irmão procurasse ajuda, incentiva a importância de não esconder o assunto por vergonha.
“Está tudo bem, é muito importante ter essa conversa. Você não será julgada. É tão importante deixar o medo de lado e o tabu só vai levar a mais problemas”, disse o príncipe.
O vídeo é parte da campanha Heads Together, que tem o objetivo de mudar a maneira de lidar com a saúde mental. Os organizadores da ação são o príncipe e a duquesa de Cambridge, Kate Middleton, e ainda contam com o apoio de instituições de saúde psicológica.
Em um experimento psicológico feito com adultos dos Estados Unidos, com idades entre 18 e 64 anos, o número de pessoas com distúrbios psicológicos foi de 8 milhões de pessoas, ou seja, 3,4% da população americana.
A pesquisa foi feita pelos Centros para Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, e publicada no jornal Psychiatric Services. A análise consistia em questionar quantas vezes no último mês a pessoa sentiu certos sentimentos, como o de tristeza profunda, como se nada pudesse animá-la, ou que tudo o que fez até o momento foi um esforço inútil. Conforme a frequência que o entrevistado se sentia assim, maior o sofrimento mental.
Essas alterações psicológicas podem estar ligadas a doenças graves, como depressão e ansiedade. E também podem estar relacionadas à problemas crônicos, baixo nível socioeconômico, tabagismo, ingestão de bebidas alcoólicas e uma vida útil reduzida.
A epidemiologista do NYU Langone Medical Center Judith Weissman estudou os dados da pesquisa de 200.000 entrevistados entre 2006 e 2014. Ela descobriu que os problemas psicológicos apareciam mais em mulheres do que em homens, em adultos de meia-idade em relação a adultos mais jovens e em hispânicos e negros do que em pessoas brancas.
Weissman também descobriu que enquanto as taxas dos disturbios estavam subindo, o acesso aos cuidados de saúde mental estava diminuindo.
Crise pode aumentar problemas psicológicos
Nos EUA, a recessão que durou de 2007 a meados de 2009 pode ter contribuído para o aumento da doença mental, e as consequências financeiras teriam sido mais duras para aqueles que mais precisam de cuidados de saúde, analisou a epidemiologista.
Entre 2006 e 2014, o acesso aos serviços de saúde psicológica aumentou para as pessoas que não tiveram níveis de sofrimento mental tão altos. Mas, durante o mesmo período, o acesso à ajuda médica piorou para as pessoas com problemas mais sérios. Houve também uma diminuição acentuada na proporção de pessoas que poderiam ter recursos para comprar medicamentos após 2008.
“As pessoas que tinham alguma doença mental simplesmente não conseguiam se recuperar. Talvez elas estivessem escondendo o problema enquanto tinham um emprego e alguns recursos. Mas quando foram demitidas com a crise, haviam problemas mais ‘importantes’ para que elas se importassem”, afirmou a especialista.
Até 2014, o número de pessoas que podiam pagar medicamentos aumentou, mas aqueles sem doença mental se recuperaram mais rápido da recessão e em uma taxa mais elevada. “As pessoas com doença mental ficaram para trás”, disse Weissman.
“Há uma geração de adultos de meia-idade que realmente estão sofrendo agora e se as políticas públicas mudarem, se aumentarmos o acesso aos cuidados de saúde psicológica e aumentarmos a cobertura para esses cuidados, podemos salvar a próxima geração”, declarou ela.
Em um estudo feito pelo Ministério da Saúde em 2013, no Brasil, o número de pessoas que passam por problemas psicológicos é de 23 milhões, sendo que ao menos 5 milhões sejam em níveis moderado a grave.
Aqui, a maneira como esses transtornos são vistos pela medicina sofreu uma reforma há alguns anos. Desde 2001, a perspectiva do tratamento é baseada na valorização do ser humano no entendimento de que o transtorno mental pode não ser apenas uma doença, mas um problema social.
Em 2016, a Previdência Social já afirmava que os problemas mentais já eram a terceira razão de afastamentos do trabalho no país.
Além disso, levantamentos da Organização Mundial da Saúde (OMS), apontam que cerca de 30% da população mundial sofre de ansiedade, e o Brasil está entre os primeiros da lista como um dos países onde há mais casos.
Os dados são alarmantes, e é por isso que campanhas como a da família real e Lady Gaga são tão importantes. É preciso que as pessoas saibam que sofrer com problemas psicológicos não é algo normal. O tratamento precisa ser feito o quanto antes.
No Sistema Único de Saúde (SUS), o atendimento é gratuito e feito pelos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) que, segundo o Ministério da Saúde, “são locais de referência e tratamento para pessoas que sofrem com transtornos mentais, psicoses, neuroses graves e demais quadros, cuja severidade e/ou persistência justifiquem sua permanência num dispositivo de cuidado intensivo, comunitário, personalizado e promotor de vida”.
A saúde mental deve e precisa ser levada a sério, sem preconceitos ou vergonha. Procure uma ajuda assim que perceber sintomas como tristeza profunda, ansiedade, alucinações e delírios.
TEXTO ORIGINAL DE IG
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