Mônica Reis

Se ele se foi, deixe que vá

Não é difícil perceber a maneira como muitas mulheres assumem a responsabilidade por relacionamentos que não dão certo, enaltecendo as boas características das pessoas com as quais já se relacionaram, assumindo a culpa pelo comportamento inaceitável de seus parceiros. Infelizmente ainda hoje ouvimos algumas pessoas atribuindo exclusivamente a elas a responsabilidade pelo “sucesso” no relacionamento, isso é uma crença encontrada em vários lugares e está relacionada a mais uma das muitas cobranças culturais direcionadas à mulher. O alvo da nossa reflexão, porém, estará relacionada ao final dos relacionamentos.

Primeiro é importante considerar que a forma como enxergamos as pessoas com as quais nos relacionamos está inexoravelmente relacionada com a maneira como vemos a nós mesmos. É aquela velha história de que medimos os outros com a nossa própria régua. O que parece simples acaba por causar uma série de “confusões” nos relacionamentos e em outras áreas da vida. Situações que não ficam bem entendidas, mal ditos e não ditos permeiam as nossas vidas. Isso pode ocorrer por que tendemos a acreditar que as pessoas agem de acordo com princípios que na verdade são nossos.

É difícil entender que nem sempre as pessoas vão se importar com as mesmas coisas pelas quais que você se importa. Algumas pessoas acreditam realmente que são culpadas pelo final de um relacionamento por que disseram algo que não deveriam ou por que deveriam ter dito algo que não disseram e ainda supõem… “Será que se eu tivesse feito assim ou daquela outra maneira não teria sido tudo diferente!?”

Por outro lado, encarar a solidão pode ser especialmente desafiador para algumas pessoas, isso pode ocorrer por uma série de fatores, incluindo histórias de vida de abandono, vivência de situação de violência relacionadas a abusos e/ou negligência, características pessoais, desenvolvimento de esquemas e crenças disfuncionais sobre si mesmo e relacionamentos interpessoais que são carregadas como verdades absolutas desde a infância. Enfim, parece que são tantas as possibilidades que podem estar relacionadas a dificuldade de alguém em estar sozinho que algumas pessoas simplesmente empacotam tudo isso e chamam de “carência”. Por causa desse “desconforto” causado pela solidão algumas pessoas permanecem em relacionamentos abusivos, cuja conduta do parceiro é inaceitável.

Aceite uma triste realidade: nem todo mundo que está disponível para um relacionamento está pronto para se relacionar. E isso não tem relação direta com idade, independência financeira, formação acadêmica e qualquer outro fator que possa fazer alguém acreditar que está pronto para se relacionar. Algumas pessoas não conseguem lidar com os seus medos, suas frustrações, seus traumas e ao menor sinal de que a imagem que tanto tentam exibir e impressionar os outros e a si pode vir abaixo, essas pessoas simplesmente ‘abandonam o navio’. Agora pense comigo: se uma pessoa tem dificuldade em lidar consigo mesma, com qual responsabilidade afetiva ela irá encarar um relacionamento?!

Muitos de nós passa a vida inteira se escondendo da própria sombra. Encarar a solidão pode ser um convite a percebê-la como uma trajetória de autoconhecimento, o que à primeira vista pode não parecer um convite importante. Essa visão negativa da solidão pode afastar de uma experiência incrível num relacionamento eterno que você sempre estará envolvida: você, com você mesma.

Por outro lado, Hollywood nos mostrou que “o amor romântico” pode ser a maior realização de um ser humano e envolvidas com essas ideias de plenitude relacionadas ao amor, a busca pelo “par ideal” pode levar algumas pessoas a viverem de um relacionamento a outro, buscando incessantemente no outro algo que com certeza não está lá. Com isso, o “amor” começou a ser banalizado e em tempos líquidos o mais nobre dos sentimentos nunca esteve tão ameaçado por desejos tão egoístas e ideias tão efêmeras associadas a ele.

Algumas pessoas terminam relacionamentos realmente abaladas e confusas com os comportamentos dos seus antigos parceiros, sentem-se excessivamente culpadas, o que não as ajuda a lidar com o luto pelo final do relacionamento. Em alguns casos é difícil que a pessoa ferida perceba que existem pessoas que simplesmente não se importam e talvez o seu antigo parceiro seja exatamente essa pessoa.

Pessoas que não se importam com o estrago que causam, não se importam com a dor desnecessária que impõe aos outros, algumas pessoas realmente não se preocupam com os seus sentimentos. E o mais incrível é que no começo dos relacionamentos são justamente essas pessoas que fazem juras e demonstrações de amor, fazendo muitas vezes um enorme esforço em conquistar o parceiro, mas mesmo assim muitos relacionamentos não passam dessa fase. Outros relacionamentos duram anos a fio, mas um belo dia algo muda e tudo se acaba. E isso não acontece por que você “errou” em alguma atitude ou alguma palavra não dita… Isso provavelmente não está relacionado a um problema seu.

O seu desafio agora é se reconstruir, se reencontrar e seguir em frente. Algumas situações que num primeiro momento nos parecem ser especialmente desafiadoras podem ser maravilhosas oportunidades de passar a enxergar a vida com outras lentes. Muitas lindas histórias começam disfarçadas por dolorosos finais.

Foto de Rémi Walle no Unsplash

Mônica Reis de Oliveira

Psicóloga Clínica CRP03-9757

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