SERIEFILIA: 5 considerações sobre como as pessoas estão cada vez mais viciadas em séries

Enquanto nos utilizamos de um determinado recurso disponível não imaginamos que, pouco tempo depois, ele se tornará obsoleto. Com relação aos filmes tivemos a era de ouro do cinema, a televisão, depois os vídeos cassetes, DVD´s, a breve passagem dos Blue rays, e, finalmente, lá estavam os filmes e séries disponibilizados nos canais de streaming, como a Netflix, que foi a pioneira dessa revolução que mudou seriamente os hábitos de quem assiste a esse tipo de conteúdo.

O curioso, todavia, é que junto com a mudança da oferta, também acontece uma mudança na forma de consumo do usuário e no significado social desse hábito. Abaixo, elencamos alguns dos motivos pelos quais as pessoas estão cada vez mais viciadas em séries de tv.

1- O fácil acesso ao produto;

O fenômeno das plataformas de streaming fez com que, do dia para noite, um catálogo imenso de séries e filmes estivesse acessível ao consumidor sem tempo de espera, sem idas a locadoras e, o melhor de tudo, sem comerciais. Assim, no caso de uma série, se antes a pessoa tinha que esperar por uma semana para ver um capitulo inédito, agora ela conseguia consumir, ininterruptamente, a toda uma temporada em uma maratona de um dia. Tudo isso, através de uma assinatura de valor quase simbólico e socialmente acessível para o público médio. Isso, entretanto, fez com que as pessoas, uma a uma, rapidamente ficassem envolvidas com a programação e aumentassem o tempo que dedicavam ao consumo desses produtos. E, como todos sabem, quanto mais tempo alguém passa fazendo uma única coisa, menos tempo ela dedica a outras esferas da sua vida. O resultado disso foi menos tempo direcionado a encontrar amigos, ter outras formas de lazer e hobbies, postergação de trabalho e assim por diante.

2- Os mecanismos da dependência;

Como falamos no item acima, a facilidade de acesso e o prazer inicial encontrados no consumo das programações fez com que as pessoas gastassem mais tempo no seu consumo. As séries, por exemplo, são produzidas de forma a manipular as emoções de quem as assiste alternando momentos de mais calmaria com picos de emoção e pontos de virada, que normalmente ficam no final de cada capítulo. Assim, sempre que um capítulo termina, a pessoa já está emocionalmente preparada pelo próprio enredo para consumir “só mais um capítulo”. Esse exemplo te traz alguma lembrança com aquela máxima de bar “Traga a saideira”? Pois é exatamente isso: nosso cérebro está abastecido com a química do prazer fica muito difícil não querer mais. Assim, as curvas de produção das séries que afetam o nosso emocional e geram ansiedade por “conseguir mais” afetam diretamente nossos mecanismos de recompensa e fazemos “quase qualquer coisa” para conseguir um pouco mais de prazer. E eis aí que se instala a dependência.

3- O problema da dependência

O problema do prazer que causa dependência, entretanto, é que ele não se sustenta a longo prazo e, assim como a dependência de álcool, medicações, compras ou jogos, existe um limite onde a prática deixa de ser saudável e pode se tornar dependência.

Uma pessoa que gosta de jogar, por exemplo, e ter momentos incríveis de divertimento de forma agradável e saudável. A questão principal que gera o problema, é quando a pessoa não consegue controlar o seu tempo, deixa de fazer outras coisas que gosta, não sente mais prazer na atividade, mas, mesmo assim, não consegue deixar de fazê-la. O consumo do que gera a dependência, então, não dá mais prazer. Ele vira uma obrigação.

No caso das séries nós percebemos isso quando a pessoa passa a ver inúmeras séries e se sente na obrigação de termina-las, de “devorar” todas as suas temporadas, de estar por dentro de tudo novo que aparece e fica incomodada por não ter mais tempo para conseguir tudo isso, essa nova obrigação que adquiriu.

4- O novo peso social das séries

Somando- se ao item anterior nós também temos algo que é coletivo, pois o fenômeno desse consumo exagerado dos conteúdos de streaming é algo socialmente aceito e valorizado, muitas vezes considerado cult e se tornou a nova conversa de elevador uma vez que todo mundo vê alguma coisa. Sendo assim, quando a pessoa não está por dentro das séries novas e mais badaladas ela pode se sentir até mesmo socialmente excluída. Logo, temos mais ansiedade, mais tempo dedicado ao consumo, menos prazer adquirido durante a prática.

5- Consideração final

Através das considerações anteriores, então, pudemos perceber que algo deixa de ser saudável quando gera ansiedade ou outros sentimentos conflituosos, como a tristeza, quando achamos que precisamos consumir cada vez mais desse “produto” e quando o prazer associado a esse ato diminui e ele vira uma obrigação, ora social, ora pessoalmente imposta. Nesses casos podemos considerar a “seriefilia”.

Assim, se você identificar alguns desses sinais em si mesmo ou em pessoas que conhece, é hora de refletir sobre os hábitos atuais que levaram a isso e reorganizar a rotina. No começo pode ser difícil mudar, mas se houver real conscientização e estipulação de limites para o consumo, um hábito mais saudável pode ser reconquistado.

Se você achar que não consegue sozinho, não tenha vergonha e procure ajuda: converse com amigos, familiares e lembre-se que também existem profissionais aptos para esse tipo de assistência.

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Imagem de capa: reprodução/divulgação






JOSIE CONTI é psicóloga com enfoque em psicoterapia online, idealizadora, administradora e responsável editorial do site CONTI outra e de suas redes sociais. Sua empresa ainda faz a gestão de sites como A Soma de Todos os Afetos e Psicologias do Brasil. Contato para Atendimento Psicoterápico Online com Josie Conti pelo WhatsApp: (55) 19 9 9950 6332