Enquanto nos utilizamos de um determinado recurso disponível não imaginamos que, pouco tempo depois, ele se tornará obsoleto. Com relação aos filmes tivemos a era de ouro do cinema, a televisão, depois os vídeos cassetes, DVD´s, a breve passagem dos Blue rays, e, finalmente, lá estavam os filmes e séries disponibilizados nos canais de streaming, como a Netflix, que foi a pioneira dessa revolução que mudou seriamente os hábitos de quem assiste a esse tipo de conteúdo.
O curioso, todavia, é que junto com a mudança da oferta, também acontece uma mudança na forma de consumo do usuário e no significado social desse hábito. Abaixo, elencamos alguns dos motivos pelos quais as pessoas estão cada vez mais viciadas em séries de tv.
O fenômeno das plataformas de streaming fez com que, do dia para noite, um catálogo imenso de séries e filmes estivesse acessível ao consumidor sem tempo de espera, sem idas a locadoras e, o melhor de tudo, sem comerciais. Assim, no caso de uma série, se antes a pessoa tinha que esperar por uma semana para ver um capitulo inédito, agora ela conseguia consumir, ininterruptamente, a toda uma temporada em uma maratona de um dia. Tudo isso, através de uma assinatura de valor quase simbólico e socialmente acessível para o público médio. Isso, entretanto, fez com que as pessoas, uma a uma, rapidamente ficassem envolvidas com a programação e aumentassem o tempo que dedicavam ao consumo desses produtos. E, como todos sabem, quanto mais tempo alguém passa fazendo uma única coisa, menos tempo ela dedica a outras esferas da sua vida. O resultado disso foi menos tempo direcionado a encontrar amigos, ter outras formas de lazer e hobbies, postergação de trabalho e assim por diante.
Como falamos no item acima, a facilidade de acesso e o prazer inicial encontrados no consumo das programações fez com que as pessoas gastassem mais tempo no seu consumo. As séries, por exemplo, são produzidas de forma a manipular as emoções de quem as assiste alternando momentos de mais calmaria com picos de emoção e pontos de virada, que normalmente ficam no final de cada capítulo. Assim, sempre que um capítulo termina, a pessoa já está emocionalmente preparada pelo próprio enredo para consumir “só mais um capítulo”. Esse exemplo te traz alguma lembrança com aquela máxima de bar “Traga a saideira”? Pois é exatamente isso: nosso cérebro está abastecido com a química do prazer fica muito difícil não querer mais. Assim, as curvas de produção das séries que afetam o nosso emocional e geram ansiedade por “conseguir mais” afetam diretamente nossos mecanismos de recompensa e fazemos “quase qualquer coisa” para conseguir um pouco mais de prazer. E eis aí que se instala a dependência.
O problema do prazer que causa dependência, entretanto, é que ele não se sustenta a longo prazo e, assim como a dependência de álcool, medicações, compras ou jogos, existe um limite onde a prática deixa de ser saudável e pode se tornar dependência.
Uma pessoa que gosta de jogar, por exemplo, e ter momentos incríveis de divertimento de forma agradável e saudável. A questão principal que gera o problema, é quando a pessoa não consegue controlar o seu tempo, deixa de fazer outras coisas que gosta, não sente mais prazer na atividade, mas, mesmo assim, não consegue deixar de fazê-la. O consumo do que gera a dependência, então, não dá mais prazer. Ele vira uma obrigação.
No caso das séries nós percebemos isso quando a pessoa passa a ver inúmeras séries e se sente na obrigação de termina-las, de “devorar” todas as suas temporadas, de estar por dentro de tudo novo que aparece e fica incomodada por não ter mais tempo para conseguir tudo isso, essa nova obrigação que adquiriu.
Somando- se ao item anterior nós também temos algo que é coletivo, pois o fenômeno desse consumo exagerado dos conteúdos de streaming é algo socialmente aceito e valorizado, muitas vezes considerado cult e se tornou a nova conversa de elevador uma vez que todo mundo vê alguma coisa. Sendo assim, quando a pessoa não está por dentro das séries novas e mais badaladas ela pode se sentir até mesmo socialmente excluída. Logo, temos mais ansiedade, mais tempo dedicado ao consumo, menos prazer adquirido durante a prática.
Através das considerações anteriores, então, pudemos perceber que algo deixa de ser saudável quando gera ansiedade ou outros sentimentos conflituosos, como a tristeza, quando achamos que precisamos consumir cada vez mais desse “produto” e quando o prazer associado a esse ato diminui e ele vira uma obrigação, ora social, ora pessoalmente imposta. Nesses casos podemos considerar a “seriefilia”.
Assim, se você identificar alguns desses sinais em si mesmo ou em pessoas que conhece, é hora de refletir sobre os hábitos atuais que levaram a isso e reorganizar a rotina. No começo pode ser difícil mudar, mas se houver real conscientização e estipulação de limites para o consumo, um hábito mais saudável pode ser reconquistado.
Se você achar que não consegue sozinho, não tenha vergonha e procure ajuda: converse com amigos, familiares e lembre-se que também existem profissionais aptos para esse tipo de assistência.
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Imagem de capa: reprodução/divulgação
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