POR NATHALIE AYRES
A autoestima é um tema importante na vida das pessoas, e uma parte dela está ligada à imagem que temos de nós mesmos e do nosso corpo. Essa é uma noção que começamos a construir desde muito cedo.
“Com aproximadamente quatro anos de idade, quando a criança começa a fazer desenhos de pessoas e não apenas rabiscos, podemos dizer que ela já tem uma maior noção de que ela se diferencia do mundo e de seu próprio corpo”, explica a psicanalista Joana de Vilhena Novaes, pós-doutora em Psicologia Social (UERJ) e coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa e Intervenção Social (LIPIS) da PUC-RJ.
Já na escola, quando os coleguinhas começam a apontar o que é diferente nos outros, a criança pode começar a ter conceitos negativos sobre seu corpo. “Ela passa a ter um retorno da imagem que tinha antes, e então começa a precisar de uma autoestima, por isso o discurso positivo dos pais precisa ser sólido para ela se defender”, considera Joana. Porém, é na adolescência que essa noção de imagem corporal fica mais abalada, por diversos fatores físicos e emocionais. Conheça quais são eles e entenda melhor o que passa na cabeça dessa moçada:
Mudanças físicas
Para a psicopedagoga Julia Milani, pedagoga e arte-terapeuta da Assessoria Educacional Terceiro Passo, a noção de autoimagem corporal muda ao longo dos anos, conforme nosso próprio corpo sofre mudanças. “Este esquema está em constante movimento, já que o corpo não é algo estático, e sim dinâmico”, ensina a especialista. Isso torna a adolescência um período ainda mais conturbado, já que é o período em que o organismo mais se modifica: “nessa fase, além das mudanças de caracteres sexuais secundários, temos mudanças em órgãos internos também, como seu crescimento – e isso acontece para acompanhar o novo corpo que se forma”, explica a hebiatra Andrea Hercowitz, do Hospital Israelita Albert Einstein. Parece que o corpo fica completamente fora de proporção, já que os braços e pernas costumam crescer antes do tronco. E a mudança muitas vezes é tão rápida que o cérebro demora a entender. Nesses casos, o mais importante é dialogar com seu filho e explicar que essa fase é transitória e que no final dela, ele estará mais acostumado com a forma que seu corpo terá.
Busca da identidade pessoal
As mudanças do corpo são aliadas a diversas questões psicossociais, fazendo com que a autoimagem do adolescente sofra vários abalos. Um deles é a busca por uma identidade própria. “Para isso, ele tem que se diferenciar como sujeito autônomo, e a imagem está intimamente ligada à construção de identidade”, considera a psicanalista Joana de Vilhena Novaes, pós-doutora em Psicologia Social pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa e Intervenção Social (LIPIS) da PUC-RJ. Porém, muitas vezes a imagem que ele tem de si mesmo não bate com sua identidade pessoal. “Isto gera sim conflitos, como se houvesse uma oposição entre como este corpo se apresenta e como o adolescente gostaria que ele fosse”, considera a pedagoga Julia. O mais importante nesses casos também é dialogar com o jovem, ver até que ponto a insatisfação com o corpo dele pode ser resolvida (com dieta e exercícios, por exemplo) e também conscientizá-lo que nem tudo vale a pena ser mudado.
Se encaixar em um padrão
Apesar de o jovem buscar uma identidade individual, ele também tem uma ânsia de se encaixar em um padrão, muitas vezes trazido pela mídia e adotado pelos amigos e resto do grupo. “Essa busca é comum do ser humano e é mais dramática na adolescência, pois como o jovem não entende o que está havendo com ele mesmo, a identidade é reforçada pelo grupo”, classifica Joana. O problema é que muitas vezes o padrão vindo dos meios de comunicação pode ser irreal ou mesmo inalcançável. “Muitas vezes a criança e o jovem começam a achar que emagrecendo ou ficando mais fortes, ou seja, mudando de alguma forma, eles terão mais valor e posses, como os artistas”, considera a psicanalista.
Opinião dos amigos
Com o afastamento dos pais, que normalmente ocorre no período, os amigos passam a ser modelos para o jovem. “A adolescência é um tempo de experimentação e não há um código de conduta que os atenda, então o jovem fica o tempo todo tentando se descobrir”, considera Joana. Por isso, é comum que o jovem mude de estilos, experimente grupos e use os amigos como referência não só da aparência, como no modo de ser. Nisso, eles se vestem da mesma forma e buscam alcançar as mesmas referências.
Aprovação dos colegas
Por outro lado, a aprovação dos colegas além do grupo de amigos, como de outros adolescentes da escola, pode exercer algum papel na autoimagem. “Nesta fase de desenvolvimento, na qual o corpo passa por grandes mudanças, a aprovação do grupo que este adolescente pertence é muito importante”, considera a pedagoga Julia. Porém, pode haver um efeito contrário, em que o jovem queira diferenciar-se desse grupo dominante. “É comum a criação de grupos em que os jovens se juntem para que não se sintam tão excluídos”, considera Joana. Porém, por mais que isso faça com que o bullying pareça comum nessa fase da vida, ele não é. “As crianças apontam para a diferença das outras, enquanto o adolescente já tem sozinho essa sensação de ser diferente e não se encaixar”, diferencia a especialista.
Início da vida amorosa
Durante a adolescência, a opinião do gênero pelo qual o jovem se sente atraído também ganha um peso considerável. Afinal, a aparência é a primeira característica que vai atrair a atenção de um potencial namorado, e em alguns ambientes ela acaba sendo mais valorizada. “Nessa fase, geralmente a opinião dos outros sobre a sua aparência é muito importante e pode levar o adolescente a ter um desconforto com seu corpo, ou até mesmo, em casos mais graves, desenvolver distúrbios na imagem corporal”, considera Julia. Porém, no caso das meninas, a psicanalista Joana acredita que a opinião masculina tem um peso menor do que a feminina. Isso porque as mulheres são educadas dentro de um padrão de imagem erotizado e ensinadas desde cedo a segui-lo, usando-o como parâmetro. “Se você pensar nas mulheres, elas se arrumam e se enfeitam para passar no crivo de outras mulheres! A critica feminina é muito mais ferrenha nesse aspecto”, acredita a especialista.
Referências da família
Por mais que a maior parte dos jovens queira se afastar do referencial dos pais, eles também têm um papel essencial nessa construção. “Considerando que a autoimagem é a maneira como nosso corpo apresenta-se para nós mesmos, isso vai também vai ser influenciado pelo entorno: como nosso corpo foi apresentado?”, provoca a pedagoga Julia. Portanto, os feedbacks dados pela família na infância têm uma influência fundamental. Além disso, a visão que os pais têm do jovem muitas vezes é aquela com que eles convivem grande parte do tempo, e a forma como os pais apresentam críticas e opiniões, mesmo na adolescência, pode fazer bem ou mal. “Falar de forma ríspida pode ser um tiro no pé, causando teimosia ou mesmo traumas. O ideal não é negar as limitações que seu filho tem, mas também não associar uma característica física a um defeito que o marginalize, como condená-lo pelo excesso de peso, por exemplo”, diferencia a psicanalista Joana.
Fonte indicada: Minha Vida
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