Por Giovana Felix para Saúde Abril
Dita em voz baixa, calma e até um pouco enigmática, a frase “Fale-me sobre sua infância” é provavelmente a primeira que vem à cabeça de quem imagina um psicoterapeuta. E essa pergunta acaba de ganhar mais um reforço da ciência: uma tese de mestrado defendida na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) determinou a importância da primeira infância (até os 6 anos de idade) para a saúde mental dos adultos.
Para isso, foram analisados 120 indivíduos de 26 a 42 anos — 30 eram saudáveis, enquanto o restante possuía transtornos de ansiedade ou de estresse pós-traumático. Essas condições costumam ter um sintoma em comum, que também foi avaliado atentamente: o chamado déficit de discriminação ambiental. Ele consiste na dificuldade de interpretar o meio social em que o indivíduo está inserido. Pode ser na família, no trabalho ou na faculdade, por exemplo.
Pesquisadora responsável pelo levantamento, a psicóloga Vanessa Fernandes Fioresi descobriu que a maioria dos que sofriam de transtornos pós-traumáticos tinha passado por experiências chocantes de cunho mais geral durante a primeira infância. São situações de violência, por exemplo, ou desastres naturais — e geralmente acontecem de forma abrupta.
Já os participantes com transtorno de ansiedade generalizada tendiam a ter passado por traumas mais emocionais que os demais quando crianças. Isso envolvia desde abusos sexuais até a percepção de não ter valor como pessoa. Na hora de reconhecer os sentimentos no rosto de outras pessoas, boa parte deles tinha mais facilidade do que o comum para identificar a expressão do nojo.
Por outro lado, não foi possível relacionar a fobia social a eventos na infância. A psicóloga por trás das descobertas explica que, para o surgimento essa condição, o mais determinante é ter uma personalidade com traços de neuroticismo. Características como impulsividade, instabilidade emocional e baixa tolerância à frustração, portanto, estão relacionadas à encrenca.
Com o diagnóstico de transtornos de ansiedade se multiplicando a cada dia ao redor do mundo (principalmente no Brasil, que lidera o ranking da Organização Mundial da Saúde), é provavelmente o caso de voltarmos nossas atenções para a qualidade de vida proporcionada a nossas crianças. Não é mesmo?
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