Por Muriel Maignan Wilkins
São cabeças-duras. Não abrem mão da própria opinião. Você as conhece bem — pessoas vítimas da própria inflexibilidade. Embora seja fácil apontar o dedo para outros com esse comportamento, pode ser difícil reconhecer essa característica em si mesmo. Confira alguns indícios de teimosia:
Você insiste fixamente em uma ideia, um plano ou em esclarecer um ponto, mesmo sabendo que está equivocado.
Bate o pé para fazer o que gosta mesmo que ninguém mais aprove.
Quando outros apresentam uma ideia, sua tendência é apontar as razões pelas quais não irá funcionar.
Você fica visivelmente irritado, frustrado e impaciente quando outros tentam te persuadir de algo que não concorda.
Você dá pouca importância para os pedidos dos outros quando pretende fazer algo completamente diferente.
A teimosia é o lado sombrio da perseverança. Indivíduos com esse atributo costumam ser apaixonados, decididos, cheios de convicção e capazes de defender seu território — características de liderança admiráveis. Ser insistente nem sempre é algo negativo, claro. Mas será que bater o pé por razões duvidosas (somente para provar um ponto de vista) é uma atitude pertinente?
Considere o exemplo de Joe, um executivo de nível sênior de quem fui coach. Ele era conhecido por sua presença marcante e pelos excelentes resultados na organização. Sua determinação e capacidade de se concentrar em questões-chave e soluções o tornaram valioso para a empresa. No entanto, houve momentos em que seu próprio talento o cegou e Joe ficou incapaz de enxergar melhores alternativas para a organização e stakeholders importantes.
Certa vez, o executivo se mostrou inflexível em relação a reorganizar a divisão, a despeito da objeção de seu chefe e do conselho. “Ele é tão focado no que quer fazer que não percebe que poderá ganhar a batalha, mas perder a guerra”, descreveu seu chefe de maneira bastante acertada.
Assim como Joe, muitos indivíduos excessivamente teimosos não percebem que conquistam vitórias à custa de grandes derrotas — enquanto lutam pelo que querem, desconsideram os danos pelo caminho, que não compensam os resultados.
Procure ser mais compreensivo.
Basicamente, tente ouvir mais os outros. Em vez de simplesmente ignorar o que dizem, busque entender pontos de vista alheios. Muitos evitam escutar outras pessoas simplesmente por medo, acreditando que isso trará a impressão de que concorda com tudo que disserem. Esse não é um motivo convincente para deixar de considerar outras perspectivas. Procurar compreender os outros, obviamente não significa estar de acordo. De fato, pode te permitir afirmar sua posição se puder mostrar que tem uma visão panorâmica sobre o assunto. E talvez, com a cena completa na mente, possa até mudar de opinião.
Esteja aberto às possibilidades.
Pessoas teimosas, não raro, acreditam que existe apenas um meio viável para determinadas ações. Assim, muitas tendem a permanecer estancadas em suas posições. Conseguir se abrir para se aproximar de uma situação para, pelo menos, explorar alternativas, mostra alguma flexibilidade — mesmo que, no final, volte de onde começou. Quando alguém tenta persuadi-lo de algo que você se opõe veementemente, pergunte a si mesmo: “Que condições são necessárias para que eu me convença dessa ideia?”. Pensar sobre suas posições pode te permitir cogitar outras possibilidades que a principio não estavam no seu campo de visão.
Admita quando estiver enganado.
Estar convencido de que está certo é uma coisa. Insistir quando sabe que está errado, porém, é indesculpável — assuma suas falhas e se responsabilize por suas ações e decisões. No longo prazo, você pode ganhar muito mais credibilidade do que se continuar com o plano original.
Considere situações com as quais pode conviver.
A teimosia pode virar um hábito. Embora defender o que acredita com afinco possa ser admirável, nem tudo justifica esse tipo de firme convicção. Não é preciso forçar suas ideias, seus planos e suas escolhas o tempo todo. Procure reconhecer quando é possível aceitar decisões que não te agradam totalmente. Mostrar-se flexível no curto prazo talvez possa te render benefícios ao longo do tempo.
O medo de perder as próprias ideias, convicções, o poder de decisão e até mesmo a identidade podem estar na raiz da teimosia.
“Qualquer mudança real implica a dissolução do mundo como se conhecia… No entanto, somente quando um homem é capaz, sem amargura ou autopiedade, de abrir mão de um antigo sonho ou de privilégios de que desfruta há um bom tempo se torna livre… para sonhar mais alto e alcançar maiores privilégios”, declara com grande eloquência o renomado autor James Baldwin. Em muitos casos, se desprender de posições excessivamente firmes pode trazer mais benefícios do que o inicialmente esperado.
Imagem de capa: Shutterstock, por FXQuadro
Este artigo foi escrito por Muriel Maignan Wilkins cofundadora e sócia-gerente da Paravis Partners, uma empresa boutique de coaching e desenvolvimento de liderança executiva, para a Havard Bussiness Review
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