Para termos clareza do perfil de uma criança tirana, precisamos compreender que uma criança é um ser que ainda não chegou à fase da puberdade. No sentido mais amplo envolve todas as idades da infância: desde um recém-nascido até à pré-adolescência.
No Brasil um menino ou menina é considerado como criança até seus 12 anos, a partir dessa idade já é um adolescente. O desenvolvimento de uma criança implica uma série de aprendizagens, que serão vitais para a sua formação e depois na fase adulta.
Porém, a criança tirana não se tornou um ser social, que deveria aprender a lidar com os primeiros sentimentos e emoções, a fim de se relacionar com o mundo e se socializar com os outros. O que ela faz é o inverso: inicia cedo com as birras, possui uma tendência ao egoísmo exagerado, uma agressividade visível e nenhum autocontrole.
Desse modo, a criança tirana quer dominar tudo ao seu redor e não respeita os seus pais, familiares e professores. Aliás, quando contrariada têm ataques de fúria em público: dá empurrões, bate nos coleguinhas, diz palavrões e ameaça os progenitores, ou seja, é um ser que tem baixa tolerância às frustrações.
Por esse motivo, que a síndrome da criança tirana também é classificada de síndrome do “pequeno grande autoritário” e síndrome do “imperador.” E no livro de Javier Urra, ele denomina de “O Pequeno Ditador Cresceu”, que são crianças com mais direitos do que deveres e que tendem a viver em uma sociedade onde tudo gira à sua volta.
Esse comportamento infantil impera em nossa sociedade de consumo, que estimula todos os desejos, vontades e instintos da criança. Em outras palavras, é uma educação permissiva que se distanciou totalmente dos padrões das gerações anteriores, em que os pais e professores eram figuras respeitadas e admiradas.
Entretanto, essa síndrome não é uma predisposição genética e nem uma psicopatia. Na verdade, é uma disfunção educativa que permitiu que a criança se tornasse uma pessoa teimosa e egoísta, que não desenvolveu o seu Ego (princípio da realidade) para ajustar o seu Id (princípio do prazer) ao ambiente em que vive.
Para corrigir isso, os pais devem agir como adultos que não alimentam o sentimento de culpa, que os impulsiona a fazer concessões além do necessário na educação dos seus filhos. É função deles ensinar às suas crianças, que elas não podem fazer ou ter tudo o querem, mas precisam enfrentar as frustrações e os problemas da vida.
Nesse contexto, a comunidade escolar funciona como o Superego, um lugar que a criança vai encontrar resistência a sua tirania, como um mecanismo de alerta sobre o que é ou não moralmente aceito. Assim, a escola deve disciplinar o aluno tirano, o que é uma tarefa árdua para os professores que necessitam do apoio dos pais.
Enfim, a criança tirana não pode ser vista com preocupação pelos pais e professores, porque temos a educação socioemocional que ajuda a mudar o coração e a mente desse pequeno ditador, para não se transformar em um adulto difícil, pois a “educação tem raízes amargas, mas os seus frutos são doces”, afirmou Aristóteles.
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Jackson César Buonocore é Sociólogo e Psicanalista
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