Por Raquel Baldo
Você já ouviu falar a respeito da síndrome do impostor ou conhece alguém com esses sintomas? A síndrome do impostor é identificada quando uma pessoa desmerece os próprios talentos, capacidades e resultados. Isso é, apesar da pessoa possuir uma boa capacidade e ter um registro de bons resultados em seu desempenho profissional, estudantil e até mesmo pessoal, ela tende sentir que não é boa o suficiente e que precisa melhorar ainda mais.
Como assim? A pessoa costuma ser bem-sucedida, tirar boas notas, ter um bom cargo, mas sempre que o sucesso aparece, ela associa seus bons resultados e competência a uma sorte do momento ou ao fato de ter boas indicações pessoais e profissionais ou mesmo ao fato de ela ser uma boa pessoa, como se suas conquistas apenas tivessem sido um acaso.
O fato de não conseguir reconhecer seus sucessos acaba sendo um meio causador de angústia e sofrimento contínuo, pois a pessoa costuma usar seus pensamentos para se cobrar ainda mais. Através destes pensamentos, ela passa a sentir vergonha de si, sente-se menos ou insuficiente em relação outras pessoas e costuma se avaliar como uma fraude, gerando sentimentos de culpas e cobranças contínuas.
A síndrome do impostor vem sendo estudada e citada cada vez mais em diversas ocasiões, textos, artigos e propostas de pesquisas devido a frequência que estas queixas têm aparecido como angústias atuais, tanto em consultórios, como em empresas, escolas e famílias.
Seus efeitos costumam levar ao desgaste emocional e gerar interferências significativas no âmbito social e até profissional. Isso ocorre, em primeiro lugar, porque como a pessoa não consegue ou sabe estar satisfeita consigo mesma e seus resultados, ela costuma desencadear um esforço e dedicação contínuos para atingir um resultado melhor (ela nunca considerará atingido, visto que ela não consegue reconhece-lo). Este processo faz com que a pessoa com síndrome do impostor trabalhe e estude muito mais, realize mais atividades e use seu tempo de vida na ideia de que depois irá ser compensada.
Porém, como a pessoa não sabe reconhecer suas conquistas e valores, tende a embarcar neste ritmo frenético, que acaba atrapalhando sua vida pessoal. Por exagerar no envolvimento técnico e profissional, ela também pode entrar em um quadro de estafa e angústia imensa, pois sabe que suas energias uma hora irão acabar e ela sente que então será desmascarada e que não terá mais valor ou chance de arrumar sua imagem e resultado.
Há também a consequência inversa: em vez de a pessoa se dedicar e correr atrás de melhores resultados intensamente, como na primeira opção, ela deixa tudo para último momento, pois acaba se envolvendo e se perdendo em outras atividades e necessidades que atrasam e atrapalham o foco, sabendo assim e de certa forma que por isso não irá conseguir apresentar um bom resultado ou resultado tão adequado. A pessoa se apoia na ideia que é boa, mas que não pode atingir as conquistas esperadas porque foi atrapalhada por intercorrências no meio do caminho, justificando que sabe que poderia fazer mais e fazer melhor, mas que por impedimento externo a ela, não poderá ser tão boa ou tão presente ou tão dedicada.
Os sintomas da síndrome do impostor não possuem uma especificidade de gênero, ou seja, pode acontecer tanto com homens como mulheres e costumam estar associados a meios competitivos e desamparo afetivo pessoal e social. As pessoas que apresentam estes conflitos e sofrem com estes sintomas costumam ter em comum uma estrutura emocional com históricos de desamparos na vida, isto é, possuem certas faltas e falhas no reconhecimento existencial, podendo ser tanto por âmbito familiar quanto por desempenhos no desenvolvimentos e aprendizados contínuos e conforme pressão social e cultural. E por isso, provavelmente essa síndrome tem sido relacionada ou notada com frequência nas mulheres.
É comum perceber mulheres em alto cargo ou profissões tidas como masculinas, assim como meninas que gostam de estudar matérias e cursos relacionados ao desempenho e habilidade masculina, apresentarem os sintomas da síndrome do impostor, assim como também quando se tornam mães ou quando possuem ideais bem estereotipados sobre o gênero feminino.
Ao que tudo indica um grande fator da causa tem sido a enorme pressão cultural e social que limita ou impede as mulheres de se sentirem autorizadas pelo meio que cresceram e/ou que vivem, e também consequentemente por si mesmas, a reconhecerem suas capacidades, potencias e sucessos. Isso ocorre mais vezes com elas do que com os homens, gerando uma queixa de estar em débito com o meio ou reduzirem os elogios para suas conquistas direcionando-os para outras pessoas e causas, como receber ajuda ou ser bolsista ou ser uma boa menina ou ter tido sorte.
Uma pessoa que sofre com esta síndrome precisa de ajuda tanto psicológica quanto afetiva, para poder ter a chance de reestruturar suas emoções e ideias de forma que se possa reconhecer como capaz e suficiente para si mesma. Mas também, por vezes, precisa de ajuda direta e breve em atividades e atitudes concretas que mostrem claramente seus resultados e conquistas como merecedoras de reconhecimentos de seu desempenho através da avaliação e entendimento que vem de fora, como referência para poder revisar seus entendimentos sobre si mesmo.
Esta síndrome e seus sintomas nos colocam para pensar na importância do olhar que recebemos ou que nos falta na vida, como oportunidade de existirmos no meio, isto é, para sermos e reconhecermos a nós mesmos é preciso que antes e tudo, tenhamos sido percebidos e reconhecidos por um olhar que vem do meio onde nascemos, vivemos, aprendemos e crescemos. Para sermos reconhecidos é preciso aprender e sentir sobre autovalor e ao contrário do que muitos acreditam, isso não é algo que acontece naturalmente, mas sim é adquirido do meio podendo fazer parte ou não da nossa essência de ser.
Imagem de capa: Shutterstock/KieferPix
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