Se você perguntar aos casais que conhece porque se casaram ou estão juntos, todos ou quase todos, dirão que é por amor. O amor é considerado pela sociedade como a base, o alicerce de uma relação. Tanto é que quando as pessoas identificam que alguém fugiu à regra de casar-se por amor surgem os julgamentos, prova disso é o repertório de piadas dizendo que as mulheres são interesseiras, buscam homens ricos e não o amor. As pessoas alimentam a crença que amor é o mais importante, que é o elemento que mantém a relação. De fato, é muito importante, mas a questão que quero trazer aqui, é que não é tudo. Uma relação não sobrevive de forma saudável nem só por dinheiro, tampouco só por amor.

Talvez o ponto “x” da questão é diferenciar amor de relação amorosa. O amor é uma emoção, um sentimento, um desejo de estar junto, a relação amorosa é a capacidade de relacionar-se com o outro, de se desenvolver e permitir que o outro se desenvolva. Portanto, só amor não é suficiente para manter uma relação, outras emoções e sentimentos são necessários, várias  aprendizagens e mudanças também. Acreditar que só amor basta na construção de uma relação saudável é uma grande cilada. Sabe por quê?

  1. O casal que acredita nisso, que amor basta, deixa de se autoavaliar, não consegue enxergar o que cada um precisa melhorar, pois eles depositam toda sua confiança no sentimento que tem um pelo outro.
  2. Ao admitir e aceitar que o amor é o mais importante as pessoas se prendem em relacionamentos que não são saudáveis, cheio de conflitos, estresse, ofensas, violência, com a desculpa de que acima de tudo se amam, ou seja, isso as impedem de mudar, melhorar, redefinir contratos e posturas para uma relação feliz e de prazer.
  3. Impede de visualizar outros elementos que são importantes numa relação como parceria, respeito, responsabilidade, compaixão, flexibilidade, aprendizagem, crescimento.

Aqueles que enxergarem que uma relação necessita de outros elementos além do amor, conseguirão construir uma relação mais saudável e feliz. Darão conta de perceber a si mesmo e o outro como parte atuante e responsável do que vivenciam a dois. O amor precisa cumprir o seu papel, não pode ser o álibi para aceitar-se uma vida frustrada, uma convivência desgastante, sem crescimento e cheia de mágoas e desqualificações. Se você dar ao amor à função que cabe a ele e assumir a sua função na relação, poderá melhorar aquilo que te incomoda e viver aquilo que deseja. Não utilize o amor com uma desculpa para você não responsabilizar-se.

Angelica Neris

Olá, sou psicóloga e professora de língua espanhola. Trabalho como psicoterapeuta de casais, famílias, indivíduos e grupos, além da psicoterapia atuo em projetos de saúde laboral, psicologia do esporte e do exercício e orientação profissional.

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