Por Teresa Gouvêa
Esse texto relata os esconderijos da morte e seus efeitos sobre a vida de uma criança. Esperou pelo pai por seis anos, não foi esclarecida. Ela desperta e o pai sumiu de sua vida. As despedidas, de qualquer ordem, merecem aviso, não viramos estrelinhas, morremos ou vamos embora, deliberadamente, da vida de alguém. Com as permissões do amor vamos dar licença para a dor.
Esconderam a morte. Fecharam as portas e as cortinas. Entenderam que pequena como era não saberia colocar legendas na dor. Seu pai não voltou. Quando ele se foi levou junto as brincadeiras, o sorriso, a conversa boba, todas essas coisas que a infância pede e que nos lembram que somos crianças.
O amor vazava do coração, espiava pelos olhos, ouvidos, boca e esperas. Nos horários de sua chegada corria para a porta, sentava-se e aguardava. Era tanta espera que achou por bem aliar-se ao sol, nas horas em que este ameaçava deitar-se caminhava seus olhos para um caminho sem chegadas.
Sentava-se e esperava.
Aguardava seu pai como quem espera as pernas alongarem, o cabelo crescer, os ombros caírem. Dessas esperas que parecem uma mistura de lonjura e proximidade, lugares onde o relógio não existe, as estações do ano se tornam uma só.
Esperou por seis longos anos. Nesse tempo mudou de voz, de roupa e de expressão. Descobriu que não haveria chegada quando a mãe apareceu com o namorado. Acompanhada dos seus vazios travou conversas solitárias.
Menina, sabia pouco das chegadas e partidas da vida, mas o choro que veio do coração sussurrou que não poderia mais viver esse amor através dos olhos.
O desamparo residiu muito tempo em sua vida, fruto dessas gestações em que impedimos que nossos filhos saibam das tristezas e dores da vida, inquilino dessa mania de protegermos ou desconsiderarmos que crianças precisam de mãos entrelaçadas para compreenderem os desatinos, as chegadas e partidas.
Não viramos estrelinhas, partimos. Falar da morte é falar da vida e de tudo que acompanha esse “pacote”, dar passagem para a tristeza é um modo de conversarmos com os dias de sol e fazermos as pazes com os dias nublados. Com as permissões do amor vamos dar licença para a dor.
Imagem de capa: Shutterstock/luxorphoto
Teresa Vera de Sousa Gouvea- Psicóloga