Esperava um grande amor, começou lá atrás, acreditando em príncipes, castelos e magias. Cresceu, esperando. Teceu colchas com os retalhos dos pequenos amores, aqueles que aconteciam nas baladas, nos bares e noites da sua adolescência. Cada lugar era um acontecimento, conhecia alguém e esperava. Esperava telefonemas e mensagens que não aconteciam, chorava, desistia, revigorava e prosseguia.
Nas suas desistências tentava entender onde andavam os amores descritos nos livros e filmes. Ainda não conhecia Clarice Lispector, Caio Fernando de Abreu, lia pouco sobre esses amores que machucam.
Cresceu, adulta, percorreu outros universos. Tentou ginástica, não porque precisasse, mas disseram que ajudaria a encontrar alguém. Não deu certo. Tentou cremes, muitos cremes. Nada. Fez plástica, dinheiro mal utilizado.
Parou de esperar um grande amor. Queria um príncipe que virasse sapo e desse no saco, como naquela música da Cassia Eller. Nada. Olhava as redes sociais e não entendia, todo mundo feliz, na balada, amando… O que mais poderia fazer?
Decidiu olhar pra sua alma, lugar ainda pouco explorado. Conheceu outros lugares, passeou pelo país de Almodóvar, Frida Kahlo, Modigliani. Nossa! Quanta gente sofrendo! Conheceu o amor dos livros e filmes, aqueles que falavam das procuras, incertezas e dores.
Foi trabalhar como voluntária. Conheceu a história do cara do elevador, da moça do trabalho, aquela que vivia quieta. Plantou flores no quintal. Comprou pães, fez café, chamou os amigos. Amou quem era, amou quem estava, pronta para amar quem chegasse, se chegasse, seu pequeno grande amor. Quem sabe…