Por Teresa Gouvea
As despedidas pedem que a gente descubra onde fica o nosso céu, particular, tão nosso que independa da previsão do tempo, do outro e da própria vida. Sobra espaço no vazio, a dor faz eco nas gavetas e armários, o perfume fica com medo de se perder nos dias que passam. A esquina fica longe, falta coragem, sobra dor.
O silêncio, esse barulho que reside na alma, se aconchega em nossos braços. Chega sorrateiro e conta das coisas vividas e do que faltou viver, das juras perdidas no chuveiro aberto, no café costumeiro, no lençol cansado.
A gente chora, como se o mundo se perdesse dentro de um cômodo, dilúvios, tsunamis, enxurradas, tempestades da alma, pedindo tempo para o corpo voltar pra onde reside. Anoitecer e amanhecer, várias vezes, vira uma janela pra isso tudo, olhos que atravessam paredes, vozes que ensurdecem, músicas que acalmam.
Aí, a gente procura o próprio céu, perdido no meio das coisas deixadas, amontoadas, amarrotadas. Volta no tempo, refaz os caminhos, estende as mãos pra quem fomos e quem somos. Serve um café pra solidão, beija o silêncio, abraça o que sobrou de nós e pede gentileza pro relógio. O nosso céu, timidamente, pede licença pra chuva chegar, molhar as plantas, trazer o cheiro da vida. Olhando pra dentro de nós, agradecemos o céu que ainda reside ali, abrimos a cortina, ouvimos notícias da vida que segue, alguém que partiu e alguém que chegou…
Teresa Gouvea está no Facebook e no site Laços e Lutos.