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Sobrevivo a uma traição conjugal?

Quando iniciei na advocacia, atendia muitos casais em processo de separação. Era visível, em grande maioria que um dos cônjuges sofria mais intensamente o impacto da ruptura que o outro. Em grande parte, argumentar com o cônjuge que sai ferido da relação não é uma tarefa das mais fáceis.

Na condição de psicoterapeuta, diria hoje. De fato, não é uma tarefa fácil, mas sim. Você pode sobreviver a uma traição. E ainda manter o casamento? Bem, um pouco mais complexa a resposta, há que observar algumas circunstancias, os agravantes e os atenuantes, já que cada caso é um caso. E não existe receita pronta.

Nós, seres humanos somos um complexo conjunto de experiências que foram estruturadas envolvendo: personalidade, temperamento, que em interação com situações externas, ambientais; resultarão no significado que cada um traz em si , oriundas das interpretações ,das mais diversas situações, e assim abrem-se em um leque de possibilidades, respostas emocionais e consequentes reações.

Você já conheceu algum casal, em que a parte traída acaba perdoando; ou casais que se separam em clima de ódio e revolta do ofendido e de muitas justificativas do que traiu? Semelhantes situações, desfechos totalmente distintos, neste último caso não houve conversa nem negociação: foi o término e fim!

Isso significa que a resposta certa é: depende? Sim, para a sobrevivência da relação, ou superação de uma séria crise, é preciso considerar o significado de traição para cada um. A ideia pode remeter a lembranças de conflitos assimilados, relacionamentos frustrados com namoradas antigas, dos próprios pais, sobretudo, a mentir e enganar seu par.

Deixando-o acreditar que a relação está acontecendo, mas na verdade, está em outro.

Porque, diferentemente de mostrar-se insatisfeito, e verbalizar. “Estou me interessando por outra pessoa”. ” O que podemos fazer com isso? …” ou …”quero romper e, se for o caso, conversarmos “. É uma forma atenuadora de ao menos, permitir ao outro a chance de se manifestar ou participar de alguma forma.

Quando as formas de adoecimento da relação se mostram em mentiras, tramas mal contadas de sumiços repentinos, viagens inesperadas. Telefonemas estranhos. Superar uma traição pode ser uma tarefa árdua demais.

Mentiras e enganações quando fizeram parte da rotina da vida que envolveu tanto o que traiu quanto o que foi traído, quando tudo é descoberto, inevitável que o cônjuge traído perca “o chão”. “Afinal, quem é essa pessoa com quem me casei? ”. Costumamos ouvir inúmeras vezes esta frase. “Não reconheço mais o homem ou a mulher com quem me casei”. Outro dificultador de reconciliações, envolvendo infidelidade, é a vida social, interferências de familiares e amigos próximos ao casal.

Se você estiver passando por uma fase destas, com questões de grande complexidade, trate com muito cuidado. Principalmente quando existir a disposição e o desejo de permanecerem juntos.

Atentem-se:

  1. Evite contar para os outros seus dramas, permitir muitas intromissões, muitos palpites podem prejudicar mais do que ajudar. Isto pode levar você a fazer e agir em desacordo com sua vontade e o arrependimento será certo no final. O drama é seu, você é o gerenciador de sua vida, você é quem precisa saber quais são os seus limites.
  1. Oportunidade para refazimento dos laços de afetividade

O impacto da traição pode sim trazer muitos malefícios para o casal, mas o significado é diferente para cada um, em cada caso em particular. Se ainda existe o desejo de ficar de ambos é possível refazer os laços, ainda que exija muita maturidade do casal para lidar com a crise. A autora do livro “Resgate de um Casamento”, terapeuta Anna Sharp, escreveu: ” O que é mais importante, ter razão ou ser feliz?”.

 

  1. Não use a vitimização

Obvio, que não estamos aqui justificando a traição, mas assumir o papel de vítima ofendida e rancorosa só irá contribuir para o seu adoecimento físico e emocional.

As vezes a posição de vítima é tão cômoda e atrativa, que dá mais ibope , mais paparicos. Que se tornam os ganhos secundários. Mas, também a armadilha perpetuadora do rancor e da infelicidade. Além de um papel degradante.

Bom mesmo, é assumir responsabilidades e mudanças em si mesmo, em seu próprio comportamento. Ainda que não se justifique uma traição, acusar, apontar, maltratar o marido ou a esposa que traiu, em toda oportunidade, só piora a qualidade do relacionamento. Levando-o ao esgotamento. Se existir real intenção de perdão ou de permanência, melhor redirecionar as energias, favorecendo um recomeço mais harmonioso.

  1. Flexibilize seu entendimento:

Todos nós temos defeitos e carências. Não foi algo direcionado unicamente para lhe trazer sofrimento, pois ambos sofrem neste processo todo. Lembre-se que somos feitos de falhas e temos fraquezas. Nada que a presença atenta e sincera em ambos não possa suprimir.

  1. Há convicção na superação?

Há disponibilidade de quem traiu, mentiu ou omitiu informações tão importantes de reconsiderar, de rever seu comportamento, de se comprometer com a mudança mais genuína a partir dessa crise? Há respeito e consideração apesar disto entre ambos? São suficientes para recomeços mais inteiros, mais honestos? Ou melhor seria cada um seguir seu próprio caminho?

 

É preciso não perder de vistas, que a traição no casamento, evoca o lado sombrio da relação, que ambos podem ter percebido existir, mas que por serem dolorosos, ou desconfortáveis, acabaram sendo ignorados, negligenciados ou empurrados para debaixo do tapete.

O lado carente, abandonado da relação vai explodir, podendo ser terríveis os estragos. Culminando em agressões físicas e/ou verbais. Formas equivocadas, danosas, destruidoras de pedir ou exigir atenção!

Pode ser uma oportunidade de reencontro entre o casal?

Lógico, não em um primeiro momento onde há dor, indignação, desconfiança. Quando há maturidade e tolerância! O mais indicado é procurar uma boa psicoterapia de casal, para melhorar este processo todo.

Quando os ânimos começarem a retomar seus lugares, arrefecendo-se. Poderá dar lugar à grande chance desse amor, se tornar um reencontro. Onde ainda exista: vontade, desejo, motivação e alegria para com a vida em comum!

Laila Ali Wahab Morais

Advogada, psicóloga clínica e escolar

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