“Tenho vários amigos, mas parece que não tenho ninguém, eu sou sozinho”.
“Não tenho ninguém para conversar. Parece que ninguém me escuta”.
“Acho que não tenho ninguém. Ninguém me entende, nem se importa comigo”.
Escuto corriqueiramente afirmações como essas no meu trabalho com pessoas; e as escuto de gente de todas as idades (especialmente de jovens – o que é intrigante e “assustador”). As pessoas estão solitárias. E isso as tem feito sofrer.
Uma das necessidades básicas de todo ser humano é a de pertença. Precisamos nos sentir parte de algum grupo ou comunidade. É por isso que nos associamos aos mais diversos movimentos – religiosos, culturais, esportivos. Porque com eles nos identificamos (encontramos algo de nosso interior projetado ali) e, por isso, nos sentimos reconhecidos. O isolamento social, ao contrário, mobiliza em nós estados emocionais de ansiedade e angústia.
Mas por que as pessoas estão tão solitárias?
Se levarmos em conta, por exemplo, a quantidade de amigos colecionados nas redes sociais, estes deveriam ser os tempos mais agregadores da história.
Creio eu que estamos passando por uma crise nas relações humanas e que a causa disso é a nossa pouca habilidade de comunicação.
Nós mandamos mensagens instantâneas a dezenas de pessoas pelo smartphone, mas temos dificuldade em nos colocar de verdade em uma conversa profunda com a maioria das pessoas que, de fato, convivem conosco – familiares, colegas de trabalho, vizinhos.
Aliás, a comunicação nas famílias, observo, tem se dado de forma extremamente superficial, quase sempre utilitarista; isto é, conversa-se apenas sobre questões cotidianas: o que vai ter na janta, onde está determinado objeto etc. Não se falam de sentimentos, de emoções, de expectativas, planos e projetos de futuro. Não se trocam experiências pessoais, íntimas. Pais e filhos pouco interagem, pouco se conhecem, e, consequentemente, ainda que denotem ter grande afeto, não possuem vínculos fortes.
Nós perdemos a habilidade de expressar nossas emoções de forma aberta e verdadeira; evitamos falar sobre como nos sentimos por conta de um medo irrefletido de não sermos aceitos e compreendidos.
Ao nos colocarmos a escutar alguém, enquanto o outro fala, ao invés de ouvirmos com atenção, já estamos pensando no que responder (sobretudo em ocasiões de conflito, quando há grande mobilização emocional).
Para não nos sentirmos sozinhos e nos entregarmos à solidão, precisamos reaprender a nos comunicarmos.
A tecnologia nos possibilitou quebrar as barreiras do tempo e do espaço, mas ainda não nos ajudou a superar os muros que nos separam das pessoas que estão ao nosso lado.
Comentei anteriormente que é paradoxal considerar a solidão um sintoma da contemporaneidade, visto que temos milhares de amigos(?) nas redes sociais. Por outro lado, não podemos deixar de ponderar que a própria (super)exposição da vida cotidiana na internet é fator que contribui com este fenômeno do sentir-se solitário. Na rede social, o que se apresenta é que todas as pessoas vivem continuamente rodeadas por amigos, viajando, festejando. A publicação do comum tenta dar a ele, ao cotidiano, um quê de extraordinário – é esse o papel da rede social. Ao que vê do outro lado da tela, a comparação com a própria vida é inevitável. Ainda que ninguém esteja totalmente feliz, saudável ou satisfeito, é preciso mostrar que se está – perdemos a espontaneidade.
Comunicação real é outra coisa. É partilha de si, de vida. É pela via da comunicação que criamos vínculo, que experimentamos e doamos afeto e que temos supridas as nossas necessidades de pertença (identificação e reconhecimento). Comunicação é movimento: para nos comunicarmos é preciso sair do nosso comodismo e nos colocarmos ao encontro do outro.
Sem comunicação não existe relacionamento. E, perdidos nos nossos próprios pensamentos e sentimentos, nos sentimos sozinhos.
Que tal procurar e “bater um papo” com um velho amigo hoje?
Sua saúde emocional agradece! 😉
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