Por Eva Carnero
Se você já tentou com o humor, com a ironia e com a sinceridade, talvez este ano seja o momento de colocar seu primo, seu cunhado ou seu tio-avô nos devidos lugares, com um pouco de criatividade e sutileza. Há ceias de Natal que, mais do que felizes e harmoniosas reuniões, parecem um campo minado. Se este for o seu caso, e se decidiu “colocar em prática” a mudança em relação à intromissão, aqui vão algumas sugestões para que você comece a ensaiar sua melhor resposta.
A metodologia escolhida é a seguinte: imaginamos cinco casos nos quais um familiar pergunta, impertinentemente, sobre a sua condição de solteiro; e os especialistas dão dicas para sair da areia movediça.
Use o humor! Essa é a atitude que a psicóloga Eva Hidalgo aconselha. Propõe encarar essa situação com uma resposta divertida. “Há quanto tempo estou solteiro? Desde que estou sozinho!” Alerta que não podemos permitir que a comunicação não verbal nos denuncie, ela deve acompanhar as palavras. “Não é possível ser engraçada e ao mesmo tempo ficar com cara de cachorro.”
Se o comentário do seu parente cair como um balde de água fria, e você se sentir incapaz de encontrar uma resposta original, pode recorrer à sinceridade, como aconselha a coach Carmen Terrasa (CTG Coaching). Uma resposta do tipo “Adoro a vida que levo e não tenho nenhuma necessidade de encontrar alguém” pode ser uma boa maneira de encarar o golpe. Além disso, Terrasa sugere terminar a conversa com um toque de ironia: “Se eu mudar de ideia, você será o primeiro a saber”.
Por outro lado, desaconselha convictamente recorrer à mentira, porque, ainda que seja seu primeiro impulso ao ver que não será capaz de rebater o comentário como gostaria, uma mentira ajudaria apenas no primeiro momento. “Depois ficaria com uma desagradável sensação de inferioridade por não ter conseguido encontrar uma resposta adequada”, adverte a especialista.
Antes de responder, respire profundamente e conte até 10. Para Terrasa, uma boa resposta seria: “O que significa essa história de ficar encalhada? Não gostei desse comentário e agradeceria que, se quiser me dizer alguma coisa, diga de outra maneira”.
Eva também acrescenta que aqui ninguém precisa ser comedido, porque o comentário é suficientemente de mau gosto. “Expresse, diretamente, o que sentiu”, conclui.
Esse é o momento de colocar limites. Assim acredita a psicóloga Eva Hidalgo, que assegura que “uma autoestima sã começa pelo respeito a nós mesmos e, consequentemente, não permite que os demais nos faltem com o respeito”. Por isso, uma boa resposta seria: “Sim, vim sozinho de novo, porque continuo solteiro. Considero que o importante seja compartilhar esse dia e me divertir com todos que estão aqui. Não é o bastante para você?”.
Posicione-se. Você pode se sair com uma resposta clara e serena, que o deixe por cima do seu interlocutor. Eis a de Carmen Terrasa: “A verdade é que, para mim, a coisa não está complicada, porque isso de ter namorado não é para mim. Prefiro os amigos íntimos”. Também pode defender sua postura com contundência e convicção, como propõe Hidalgo: “Não sei se está difícil ou não. O que sei é que gosto de mim mesma o suficiente para não estar matando cachorro a grito”.
Siga o jogo. Esquivar-se das provocações lançadas da outra ponta da sala pode se transformar em uma arte. De fato, o que Carmen Terrasa propõe é quase isso. A coach quer que a impertinência do familiar volte-se contra ele, e para isso emprega seus mesmos argumentos em resposta: “Sim, meu aniversário vai ser o máximo. Meus amigos e eu estamos planejando uma viagem especial para comemorar. Quer vir com a gente?”
E se o problema é seu?
Você se sente como um alvo gigante, todos os anos colocado no centro das ceias natalinas, para o deleite dos seus familiares? Se for assim, não estaria exagerando? Talvez sua susceptibilidade ao estado civil tenha aumentado, e qualquer comentário de seus parentes incomode. Ou pode ser que não seja assim, e que a ofensa tenha sido totalmente justificada, já que, como opina a coach Carmen Terrasa, “um comentário é impertinente a despeito da interpretação que a pessoa que o recebeu lhe dá. Outra coisa é que, por determinados motivos, estejamos sensíveis ao assunto”.
Essa hipersensibilidade sobre estar solteira faz com que “apesar de ter mantido dez conversas diferentes com pessoas sem preconceitos sobre o seu estado civil, você só se lembra daquela outra conversa na qual um familiar impertinente repreendeu-o, ridicularizou-o e o fez se sentir inferior por não ter um par”, conclui a psicóloga Eva Hidalgo.
Imagem de capa: Shutterstock/RossHelen
TEXTO ORIGINAL DE EL PAÍS
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