Por Pamela Camocardi
Ao falarmos em mudanças, a primeira definição que nos vem à mente é a material. Baseadas na competitividade social, muitas pessoas acreditam que a mudança do físico é mais importante do que o do comportamento e, por essa razão, vivem escravas do que podem consumir e aparentar. Mudam de emprego ou carro para, além do conforto, usarem isso como cartões de visitas. Mudam de casa, mas não abandonam o parceiro violento. Mudam de cidade, mas levam o mesmo comportamento desonesto para a outra, mudam de médico, mas continuam com a mesma patologia.
Entenda: enquanto a mudança for apenas uma palavra solta, ela nunca proporcionará a efetiva transformação que esperam dela. Mudanças acontecem de dentro para fora e não o contrário. Fernando Pessoa afirmava que a mudança era uma forma de respeito próprio: “Assim como lavamos o corpo deveríamos lavar o destino, mudar de vida como mudamos de roupa — não para salvar a vida, como comemos e dormimos, mas por aquele respeito alheio por nós mesmos, a que propriamente chamamos asseio”.
Exercícios físicos sem dieta, não emagrecem. Querer economizar, sem parar de gastar não é possível e aprovação em concurso público sem estudo é ilusão. Então, o que nos leva a acreditar que apenas a força de vontade é necessária para alcançarmos nossos sonhos? O mundo precisa de gente com postura, de palavras o dicionário está cheio.
Queremos amigos fiéis, mas não perdemos a oportunidade de falar mal dos que temos. Queremos um relacionamento leve, mas somos ciumentos e possessivos. Queremos gentilezas, mas quando um mendigo pede ajuda, julgamos que o dinheiro será usado para comprar bebida. Pense bem: quem deve mudar: nós ou o mundo? Aprenda, de uma vez por todas, que querer não é poder. Se assim fosse, estaríamos sarados, ricos e realizados sentimentalmente. O poder está no agir, no planejamento de metas, na ação diante dos seus sonhos e, isso inclui vida sentimental, sim.
Vida sentimental não é algo fácil. A convivência com alguém diferente reflete em divergências e discussões. Normal e compreensível. O problema é que, durante o relacionamento, em vez dos envolvidos respeitarem as diferenças, querem ditar regras de como o outro deveria ser.
É preciso entender que não devemos moldar o amor pela forma das nossas carências. Isso seria limitá-lo a algo muito mesquinho. Para sermos completamente felizes e não carregarmos culpas desnecessárias, precisamos entender que somos mutáveis e passíveis de erros e que, cada um, vive como acha certo.
Há pessoas que ofendem e até traem o parceiro, por não conhecerem a grandiosidade do sentimento dentro deles. Desconhecem o que sentem pelo outro, menosprezam o carinho dado e acreditam que sozinhos viveriam melhor. Mas, quando isso acontece a dor do arrependimento é tão grande que fazem de tudo para terem uma nova oportunidade. E, muitas vezes, merecem mesmo.
Há pessoas que fazem da segunda chance, a primeira, que precisam cair para se levantar melhor. E, a elas, uma única oportunidade dada é suficiente para escreverem uma história diferente. Da mesma forma que há pessoas maldosas que só pedem perdão para não ficarem sozinhas. Escravizam psicologicamente o outro, a ponto de acreditarem que não serão felizes com mais ninguém. Que fique claro: há pessoas que erram e mudam. Há pessoas que nunca mudarão. Por favor, não confunda!
A verdadeira desculpa é a mudança de comportamento. Não é em um jantar romântico ou durante uma viagem ao Caribe que as mudanças acontecem. Elas se efetivam no respeito diário, na fidelidade constante e nas escolhas que envolvem a vida a dois. Pouco importa “desculpa” se ela não vier acompanhada de um arrependimento genuíno. Pouco importa ser tratada bem na frente dos outros, se quando estão a sós ele te ignora. Pouco importa se ela se diz fiel, mas elogia outros caras na sua frente.
Aprenda que mudanças acontecem de dentro para fora. Começamos a nos transformar quando não aceitamos migalhas, mentiras e ofensas. Mudamos quando trocamos as experiências ruins por esperanças de um futuro diferente. Então, mude! Transforme sua vida em algo maior. Seja mais generoso, mais gentil, mais humano. Se o outro não valorizar essa mudança e continuar com as mesmas atitudes abusivas, mude você de parceiro.
Imagem de capa: Shutterstock/WAYHOME studio
TEXTO ORIGINAL DE OBVIOUS
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