Por Márcia Carvalho
“Qual a natureza do tempo? Um dia ele chegará ao fim? Podemos voltar no tempo? Talvez, um dia essas respostas se tornem tão óbvias, quanto saber que a terra orbita o sol, ou tão ridículas quanto a teoria das tartarugas gigantes. Apenas o tempo, seja lá o que for dirá.” (trecho do filme)
Como saber se não vivê-lo?
A Teoria de Tudo, de James Marsh, não ganhou o Oscar de melhor filme. Levou cerca de 10 anos para ficar pronto, inspirou-se em um drama real, abstraindo com a licença poética que a história permite, as dores de Stephen e Jane Hawking para se tornar nas telas do cinema a maior e mais bela história de amor dos últimos anos.
Não se trata, aqui, de classificar a produção, nem os atores, nem os meios, nem o quanto custou a obra. Mas, de falar da mensagem muito bem contada em cada cena do longa inspirado no livro Viagem ao Infinito de Jane Hawking.
A Teoria de Tudo é – apesar da omissão dos dramas pessoais vividos pelos protagonistas reais- o exemplo daquilo que o amor é capaz: transformar, superar, suportar, perdoar, cativar e manter vivo. Fica muito bem explícita a ideia de que o milagre do amor que pode tornar a vida especial. O amor de Stephen pela física e por Jane, de Jonathan por Jane, de Stephen por Jane e Jonathan, de Stephen pelos filhos, dos filhos por Stephen, dos pais de Stephen por ele e dos amigos. O amor, só o amor, na sua forma mais genuína.
É a história real de um romance, onde as dificuldades ficam subentendidas para que cada telespectador – mesmo encantado com as cenas muito bem traçadas pelo roteirista e diretor nos cerca de 123 minutos da película – compreenda que amor e sacrifício às vezes andam juntos e, que para amar de verdade, é necessário, também, de compromisso e respeito. Algo raro no mundo em que muitas relações são superficiais.
Compreender que na década de 1960 uma doença, até hoje tão assustadora- esclerose lateral amiotrófica (ELA) – foi incapaz de derrotar, não apenas o Stephen Gênio mas, antes de tudo, o Stephen homem de carne, ossos, órgãos e incertezas, como todos nós, é reconhecer a capacidade de superação que o ser humano possui quando se permite.
E se nem tudo são flores, a Teoria de Tudo ainda nos causa repulsa, quando Hawking deixa a mulher para ficar com a enfermeira, após anos de dedicação de Jane. Mas, por que não? Ele não poderia ser feliz ou amar outra vez? Jane também não teria esse direito? Que tipo de felicidade ou definição de amor ditados pela sociedade estamos condenados? Você saberia me dizer? O que sabemos sobre o amor? Teorias, ou práticas reais?
Ora, sabemos da nossa vivência e tendemos a traçar opiniões sobre a vida a partir dessas experiências, inclusive, sobre a vida de outras pessoas. Na leveza em que a história do filme foi contada, essas relações poderiam ser consideradas ideais, e se transformar em mais uma lição de resignação para espectador. Afinal, essa civilidade dos personagens, impressiona! Beira a fantasia! Bela fantasia!
Quem não gostaria de superar com sucesso o calvário de uma vida na qual não se sabe quantos dias exatos ainda lhe restam, ou quanto tempo poderá contar com as pessoas que lhes cercam. É preciso ter muita fé em si mesmo, muita esperança e paciência. Quantas histórias reais de superação você conhece?
Durante o filme é fácil apanhar-se em pensamentos inquisitores é natural questionar a própria condição e lembrar da falta de amor por si, ou pelos outros. É fácil também sentir-se incomodado com a família de Stephen recriminando Jane quando, finalmente, uma terceira pessoa começa a fazer parte da vida do casal, aliviando-os das dores cotidianas da dura rotina.
Nesse ponto o filme nos faz admirar a ideia da tranquilidade com que Stephen recebe Jonathan como parte dessa família. Ele tinha medo da morte e queria alguém para cuidar dos filhos e da esposa. Como recriminá-lo? Seria isso possível? O amor é isso? Ou, isso seria a ausência do amor?
Gosto de filmes que me fazem refletir sobre a condição humana. A Teoria de Tudo traz à tona o fato de que somos responsáveis por nossas próprias escolhas. Decidimos viver, ou morrer? Lutar ou se entregar? Amar? Deixar o outro amar? Ir quando deve ir, voltar quando deve voltar?
E o que mudou de uns anos pra cá? Quanto amor deixamos de sentir quando a primeira dificuldade bateu na porta? Nem a curta expectativa de vida do físico fez a protagonista desistir do relacionamento. Embora os motivos desse casamento na vida real possam ter sido outros, a mensagem do filme sempre será sobre o poder transformador do amor.
Amor, o mais puro amor; sentimento capaz de dar a Stephen e Jane Hawking, ao longo dos quase 30 anos de casamento, força suficiente para encarar a doença degenerativa que tirou do físico os movimentos do corpo, mas não tirou a capacidade de acreditar em si mesmo.
O discurso do filme em nenhum momento admite a ideia de que para manter um casamento é necessário subjugar-se. Ao contrário, prega a liberdade de escolha, mesmo diante de uma vida de dificuldades. Tão brilhante quanto o Stephen Hawking, muito bem representado por Eddie Redmayne, a Teoria de Tudo conta a trajetória de sucesso do jovem astrofísico, entra para história do cinema sem o tão almejado Oscar de melhor filme, mas vem ganhando o respeito e a gratidão de centenas de espectadores, com uma mensagem mais do que bem-vinda para todos nós: Enquanto há vida, há esperança.
TEXTO ORIGINAL DE OBVIOUS
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