A desconstrução dos tabus sobre sexo está apenas começando a sua jornada. Após anos de intransigente definição e distinção dos papéis de homem e mulher, é inevitável e compreensível a apreensão sentida pelos pais ao descobrir que o filho não se encaixa perfeitamente no papel pré-estabelecido para seu gênero.
Quem define e refere brincadeiras, cores, roupas e até profissões como masculinas ou femininas é a cultura – a cultura dos adultos. A criança é guiada pela sua curiosidade genuína, sendo moldada através dos padrões sociais aos quais é exposta.
Os adultos são atravessados pela educação sexual que receberam, geralmente encarando o assunto como tabu – que é transferido para os filhos – e muitos estão enraizados em estereótipos pejorativos, o que impossibilita que possam compreender as manifestações sexuais dos filhos com naturalidade e sob a perspectiva vivida pela criança e adolescente.
O que é diferente do padrão aprendido como pertencente à normalidade, desperta a discriminação e o desconforto pelo contanto com o desconhecido. Um filho que não combina com aquilo que a sociedade cultua como adequado também significa um filho que não irá desempenhar o papel imaginado e desejado pelos pais.
É comum que os pais neguem a sexualidade do filho atribuindo seu comportamento a uma fase passageira e confusa, que julgam ser pertinente à adolescência. Tal colocação não ajuda o filho, tão menos os pais. Apesar do jovem se sentir, por vezes, confuso em relação à sua sexualidade, isso não invalida suas vivências. Ademais, quando o adolescente sabe que a família irá recriminá-lo e mesmo assim expõe sua homoafetividade, é presumível que ele esteja convicto de sua orientação sexual, o que o encoraja a se expressar.
Há uma expectativa intrínseca em relação à orientação sexual dos filhos, entrelaçada aos anseios para a vida profissional e social deles. As expectativas dos pais são norteadas pelos seus ideais, conceitos e valores, os quais desejam que os filhos sigam. Embora os filhos necessitem dos pais enquanto figuras de identificação, eles são independentes e precisam construir sua própria identidade, sem a interferência autoritária e sufocante dos ideais paternos. As expectativas sobre o filho refletem aquilo que os pais desejam que ele seja, sem ponderar ou abrir espaço para que o jovem seja, real e simplesmente, quem ele é.
Mergulhados em seus próprios sofrimentos, preconceitos e medos, os pais podem não ser capazes de considerar o sofrimento do filho e dar o suporte necessário para que não se sinta rejeitado. Da mesma forma, o filho pode não perceber o sofrimento dos pais por trás das expressões de preconceito ou hostilidade.
Perceber que o filho não possui os mesmos pontos de vista que os seus e trilha um caminho diferente do esperado para ele provoca frustração e até sentimento de fracasso na função de pais. Depois de saber que o filho não é heterossexual, outros sentimentos como medo, vergonha e culpa, podem aparecer e persistirem conforme a capacidade de entendimento e aceitação dos pais. Apreensões que não envolvem a satisfação pessoal do filho costumam dificultar o processo de aceitação, como, por exemplo, a preocupação com o julgamento dos outros sobre a situação – que nada tem a ver com o que realmente importa: o bem-estar do jovem.
Existem medos reais, como a possibilidade do filho ser vítima de violência em virtude de sua sexualidade. Não há dúvidas sobre a existência de pessoas intolerantes, que no auge de sua ignorância agridem àqueles que possuem características distintas das quais considera corretas. Contudo, convivemos com outros medos reais – como assaltos e doenças – sem engessarmos nossas vidas. Dessa forma, argumentar que é mais seguro o filho não sair de casa, nem se expor, não se deve apenas ao desejo de protegê-lo.
O medo de não ser feliz levando uma vida fora dos padrões heteronormativos é maior nos pais do que no próprio filho. Isso, provavelmente, é decorrente do desconforto que os pais sentem com a situação que evoca seus preconceitos que são projetados nos outros, vistos em frases do tipo “tenho é medo do que ele vai passar, porque eu não tenho preconceito, mas as outras pessoas têm”. Esse discurso também esconde o desgosto em ter um filho homoafetivo, além da dor pela perda de um filho idealizado e a culpa por pensar que foram suas atitudes ou a falta delas que definiram a sexualidade do jovem.
A duração do período de luto pela perda do filho idealizado se dá conforme a capacidade dos pais em desconstruir os pré-conceitos culturais que carregam e os modos de viver que julgam seres os únicos adequados e possíveis, se reconstruindo com base no respeito às diferenças e na incondicionalidade dos laços entre pais e filhos.
Um ambiente familiar desprovido de diálogo ou envolto em tabus e preconceitos, inibe o jovem a falar sobre si. Alguns assuntos podem causar desconforto, entretanto, o diálogo é a ferramenta mais eficaz nos vínculos familiares, possibilitando o estreitamento dos laços com empatia, promovendo o acolhimento das angústias e construindo um espaço de confiança, onde filhos sentem segurança em contar com os pais na resolução de dúvidas e em seu desenvolvimento. Compreender que há perspectivas e entendimentos diferentes dos seus e que não são menos corretos do que aqueles que aprenderam, liberta o filho para ser livre em suas escolhas e forma de ser.
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