Por Raquel Baldo
Relacionamentos amorosos possuem o um movimento muito similar a nossa vida enquanto ser humano e indivíduo. Primeiramente, deve nascer, depois ser construído e desenvolvido, para então se tornar firme e sólido. Assim como também deve passar continuamente por cuidados e atenções para que se tenha uma previsão de longevidade. Exatamente, como o movimento de nascer e desenvolver de um ser humano.
Uma relação deve ser cuidada e alimentada e receber investimento contínuo, no tempo e limite certos, para poder chegar a algum futuro saudável. Então, partindo da ideia que toda relação nasce e cresce, devemos então entender que toda relação morre ou pode morrer. Tanto sentimentalmente (em perdas de certos encantos) como por vezes na concretude (separação).
Por vezes, uma relação amorosa acaba passando por uma angustia maior do que, aqueles dois indivíduos ou as vezes somente um deles podem suportar, como decepções, traições, agressões, mentiras, egoísmos desmedidos, ciúmes intensos… Situações como estas podem ser a justificativa para determinar o fim, isto é, a morte, daquela relação. Esta morte não precisa estar ligada somente a ideia de separação. Muitas vezes o casal opta por continuar ou recomeçar sua história e ficam juntos. Mas aquele impacto ou abalo vivido, com certeza, alterou suas histórias e daqui por diante tendem a ser um outro casal, logo essa será uma nova história, pois aquela primeira acabou, morreu, restando então o luto. E este luto, deve ser vivido e assumido, para que possam ter uma chance real de um novo futuro, ou viverão amargurando a frustração experimentada.
O luto é uma reação sentimental ligada às perdas importantes em nossas vidas. É uma fase transitória, mas com tempo indeterminado de duração, pois sua vivência é sempre particular para cada indivíduo e com certeza sua intensidade, impacto e tempo será determinado pela ideia que aquela pessoa possui sobre perdas. O luto de uma relação amorosa é muito próximo da ideia que temos de luto, quando morre um ente querido.
As fases do luto
Existem diversos estudos que abordam as fases e reações das pessoas presentes no luto, dentro das mais diferentes situações. Apesar das diferenças abordagens em cada estudo, de um modo geral todos eles acabam chegando nos conceitos abaixo ou bem próximo desta ideia. Mostrando que frente a grandes perdas, o ser humano transita entre fases, etapas reativas:
Negação ou isolamento – que envolve se isolar, não falar sobre ou não admitir a ideia de perda, é um mecanismo de defesa para se proteger da dor;
Sentimento hostil – surge a raiva, agressividade, hostilidade, inveja entre outros similares por não conseguir mais se manter negando aquele fim;
Negociação ou barganha – após perceber que a hostilidade também não resolveu a dor da perda, começa então, uma tentativa desesperada de negociação com a própria emoção ou com quem achar ser o culpado de sua perda. Promessas, pactos, orações e outros recursos são muito comuns;
Depressão ou choro – este é um momento de desolamento, tristeza, culpa e desgaste. A consciência já não permite mais que se negue ou que camufle aquele fim e a dor é percebida na realidade;
Aceitação – neste momento os movimentos da pessoa são em busca de uma superação, um desejo de lidar com aquela realidade e dor e não mais lutar contra. As emoções se tornam mais contidas e a busca de paz se torna o rumo;
Esperança – após certo tempo na aceitação a pessoa passa a apresentar uma ideia de continuidade vital, voltando a fazer planos, desejar algo novo e acreditando que pode ter outro futuro. E este movimento faz uma transição ou um fechamento do luto para uma nova história.
Importante firmar que nem todas as fases são vivenciadas sempre e também não necessariamente nesta ordem. As particularidades do indivíduo é que irão determinar o estilo e tempo do luto. Há pessoas que parecem compreender mais a inevitabilidade da perda, não que sofram ou sintam menos, mas lutam menos contra a ideia. E há aqueles que não suportam a ideia, nem mesmo pensar ou falar a respeito, e que com certeza reagem com mais intensidade e desespero frente às perdas e as fases do luto.
O luto é um processo natural na vida do ser humano e auxilia muito na retomada do equilíbrio emocional, após o impacto de uma grande perda ou angústia (real ou fantasiosa). As fases são estudos sobre as reações vivenciadas dentro dos lutos e estas quando bem orientadas e acolhidas tendem a abrir espaço para uma vida nova. Mas quando usamos nossos esforços emocionais para negar um fim ou rejeitar qualquer possibilidade de perda ou mudança em nossa história, podemos desencadear reações patológicas que resultarão na necessidade de cuidados especiais e profissionais para serem superados.
Saber que a morte faz parte da vida não nos faz desejar a morte ou acelerá-la, mas ao contrário, nos permite ter maior conhecimento de nossas necessidades enquanto seres humanos e isto nos orienta como melhor investir em nossa saúde para aumentar nosso tempo de vida em conjunto a qualidade.
Da mesma forma podemos entender que o fim de uma relação é algo real e muito possível sempre, mas que se assumido antes de adoecermos nossa história amorosa, podemos cuidar e tentar conduzir nossa parceria para um tempo longo em conjunto e com movimentos saudáveis para ambas as partes. Ou mesmo que se chegue ao fim daquela história, algo triste normalmente, podemos superar com o tempo, admitindo nossas dúvidas, dores e fraquezas e abrindo assim as portas para construirmos novas possibilidades no tempo certo.
Imagem de capa: Shutterstock/wavebreakmedia
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