Toda criança tem um pai, seja ele responsável e ciente de seu papel ou ausente. É necessário tratar do assunto com transparência, sem romantizar a falta e nem dar uma responsabilidade extra para as mães. Libertar a história familiar é lidar com a verdade, esta que pode doer, mas acaba por fazer um grande bem.
Nas diversas configurações de relações amorosas em que há filhos no núcleo familiar, são eles, na maioria das vezes, os mais prejudicados diante uma separação ou o afastamento de um dos cuidadores. Quando é o pai (ou aquele que exerce a paternalidade) quem se ausenta, as consequências para a vida dos filhos, principalmente as crianças, costumam perpetuar por muito tempo, são feridas que necessitam de cuidado e atenção.
A figura do pai possui muita importância já que representa a chance de equilíbrio no processo de desenvolvimento infantil. Na relação familiar, o pai é o “terceiro elemento” da relação, é a primeira pessoa distinta da mãe e é ele que promove uma visão de mundo exterior mais ampla, quem permite novas possibilidades, pois inicialmente a mãe e a criança estão em um vínculo simbiótico. A influência paterna também possui grande relevância no período da adolescência, esta que é uma fase de turbulências e transformações psíquicas, corporais e comportamentais.
A ausência do convívio paterno, pode gerar no filho o sentimento de culpa e a desvalorização de si mesmo, entendendo erroneamente que ele foi responsável por tal fato familiar. Há igualmente uma forte relação de dependência e insegurança que a criança geralmente acaba levando para a vida adulta.
Com isso, seus relacionamentos interpessoais se tornam mais difíceis e muitas vezes até superficiais, já que o elo verdadeiro de confiança demora muito tempo para ser estabelecido. Ocorre do mesmo modo, uma ansiedade perante a não superação de expectativas mediante ao afeto, os filhos passam a não saber a quem podem se apegar e se terão trocas efetivas de carinho e amor.
Com isso, quando ocorre uma separação conjugal, é imprescindível que a figura materna não exclua da vida dos filhos o pai dos mesmos, é necessário deixar claro para eles que o que não deu certo foi a relação matrimonial, pois pode acontecer das filhas, principalmente, assumirem inconscientemente as dores de suas mães e sentirem raiva e mágoas de seus pais, não diferenciando assim, os papéis de mãe e filha. A alienação parental também é um forte desencadeador de sofrimento, pois há um sentimento de vingança por uma das partes que não consegue elaborar a separação, desta forma, os filhos são usados como meios para atingir o outro genitor, tentando romper a ligação afetiva entre eles.
Quando há um falecimento ou abandono paterno, é necessário deixar manifesto para criança que mesmo assim, ela teve um pai, independentemente das condições, pois do contrário, há a possibilidade dela acabar por desenvolver um sentimento profundo de incompletude e desesperança.
Assim, as mães comumente têm “assumido” a função paterna, entretanto fazer isto, é dar uma responsabilidade que a mulher não pode carregar, cada um tem seu papel e sua funcionalidade essencial na vida psíquica dos filhos. É preciso muita clareza nas relações, porque tudo aquilo que for mal resolvido pode desencadear problemas posteriormente. Assumir e diferenciar o pai do mau esposo, do traidor, do doente é difícil, mas é uma tarefa necessária que denota maturidade, comprometimento e acima de tudo, amor. É saber que independente da resposta do pai, a criança terá suporte, contudo ela precisa encarar a verdade da sua história para trilhar seu caminho.
Imagem de capa: Shutterstock/A and N photography
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