Há quase quatro décadas, a psicóloga de Harvard Ellen Langer estuda como a atenção no que está acontecendo no presente pode mudar os profissionais. Ela é considerada a “mãe do mindfulness“. Os estudos da professora apontam que, quando não estamos observando e sentindo cuidadosamente, é como se não estivéssemos presentes nas situações que vivemos. “A consequência é que sempre perdemos oportunidades”, afirmou em palestra no HSM Expomanagement, em São Paulo.
Ellen é autora de 11 livros e mais de 200 artigos sobre o tema. Ela defende que mudanças simples, como aprender a perceber ativamente novidades e prestar atenção ao que ocorre ao redor pode ter impactos transformadores.
“A falta de atenção não é estupidez”, explica. “Você aprende algo e começa a pensar só daquela forma”. Ela relatou a história de uma mulher que sempre cortava um pedaço da carne antes de colocá-la na panela. Quando questinada sobre essa mania, disse que fazia aquilo porque a mãe fazia o mesmo. A mãe, por sua vez, disse o mesmo. Ao chegarem à avó, a senhora falou que costumava fazer aquilo simplesmente porque sua panela era pequena. Ou seja, é preciso questionar sempre as próprias ações — sair de vez em quando do piloto automático.
“Todos estamos sofrendo com a desatenção”, diz Ellen. De acordo com ela, existe uma dependência excessiva em conhecimentos pré-estabelecidos no passado. Isso deixa pouco espaço para pensar no novo. É como se o passado sempre determinasse o presente. “A consciência plena é algo muito simples, basta reparar nas coisas novas e fazendo isso você já está no presente. Você sente mais vivo, com fôlego de verdade.”
Segundo Ellen, é preciso se libertar dessa “mente restrita” para acompanhar a mudança do mundo. “Às vezes, não vemos o que está na nossa frente, porque achamos que já sabemos das coisas, mas não sabemos. Independentemente do que esteja fazendo, fazer com consciência plena é muito melhor.”
Em outra experiência, um grupo de vendedores de revistas foi orientado a bater de porta em porta com um roteiro padrão, enquanto outros sempre mudavam o discurso. Depois de entrevistar os clientes daqueles vendedores, pesquisadores descobriram que o grupo atento era o mais elogiado. A maior atenção também traduziu-se em maiores vendas. “A plena consciência é a essência do carisma”, diz Ellen.
Na maioria das vezes, tudo depende de mudanças sutis de raciocínio. Um estudo acompanhou idosos de 80 anos morando em um retiro adaptado com um decoração de 20 anos atrás. Surpreendentemente, no ambiente novo, melhoraram a memória, a força, a audição. Simplesmente por tentarem mergulhar em um tempo em que eram mais jovens. Outro estudo, feito com camareiras, mostra que elas melhoraram o condicionamento físico e perderam peso ao passarem a encarar seu trabalho como exercício. “O seu corpo está onde está a sua mente.”
Para Ellen, se aumentarmos a visão plena das coisas, vamos aumentar nosso bem estar e saúde. Mas como ficar no presente se você precisa prever o futuro o tempo todo? Bem, achar que você pode prever o futuro é uma ilusão, diz a professora. Se tornarmos o presente importante, não teremos que nos preocupar com o futuro, segundo ela. “As pessoas confundem. Atenção plena não é preocupação o tempo todo. É a energia gerada, não consumida”.
Fonte indicada: Época Negócios
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