DESTAQUES PSICOLOGIAS DO BRASIL

Todos nos tornamos pais dos nossos pais quando se aproxima a partida deles

Atualmente e pela lei da vida, nossos pais atingem ou chegarão a idades muito avançadas. Isso acarreta uma deterioração que exige proteção e cuidado dos mais velhos, um momento que exige especial carinho e contemplação.

É por isso que se diz que todos nós nos tornamos pais de nossos pais quando se aproxima o momento de sua partida. Porque temos que abraçá-los, alimentá-los, acariciar sua alma com as palavras e com o nosso cuidado. Tornamo-nos o bastão de sua alma quando nos lembramos com nosso carinho do calor que eles nos deram ao longo da vida.

É comum abordarmos a velhice e a última fase da vida de forma negativa. No entanto, muitos são os motivos que nos ajudam a pensar que se trata justamente de uma bela etapa e, além disso, essencial para nos preparamos para encarar o luto.

Compartilhar esse momento com nossos pais ou avós significa compartilhar uma necessidade de carinho que, de alguma forma, também simboliza o início de um adeus. Significa segurar algo que nos fez crescer e nos deu vida com a mesma força com que se despede.

Pixabay.

“Quando eu ficar velho”, uma mensagem dos pais aos seus filhos

Quando, em algum momento, eu perder a memória ou o fio da conversa, dê-me o tempo necessário para lembrar. Quando não conseguir comer sozinho, não conseguir segurar o vaso sanitário ou não conseguir me levantar, por favor, ajude-me pacientemente.

Não se desespere porque eu sou mais velho e tenho doenças. Não tenha vergonha de mim. Ajuda-me a sair, a respirar ar puro, a contemplar a luz do sol. Não ceda à impaciência porque eu ando devagar, não se irrite se eu gritar, chorar ou “incomodar” com questões do passado ou do presente.

Lembre-se do tempo em que tenho ensinado você a fazer o mesmo com o que preciso que você me apoie. Tenho uma nova missão na família, por isso peço que não percam a oportunidade que nos foi dada. Me ame quando eu ficar velho porque ainda serei eu mesmo, embora com fios de cabelo prateados na cabeça.

Pexels.

O último adeus à vida

Para refletir sobre o papel dos filhos diante da velhice dos pais, Fabricio Carpinejar nos deu um texto maravilhoso que pode nos iluminar em um palco nem sempre iluminado. Além disso, de fato, geralmente é difícil sentir-se bem, porque não podemos esquecer que a velhice é um adeus à vida de quem nos ensinou a falar, a crescer, a pegar na colher ou a andar.

“Há uma quebra na história familiar onde as idades se acumulam e se sobrepõem e a ordem natural não tem sentido: é quando o filho se torna pai de seu pai.É quando o pai envelhece e começa a trotear como se estivesse dentro de uma névoa. Lento, devagar, impreciso.
É quando aquele pai que segurava com força nossa mão já não tem como se levantar sozinho. É quando aquele pai, outrora firme e instransponível, enfraquece de vez e demora o dobro da respiração para sair de seu lugar.

É quando aquele pai, que antigamente mandava e ordenava, hoje só suspira, só geme, só procura onde é a porta e onde é a janela – tudo é corredor, tudo é longe.

É quando aquele pai, antes disposto e trabalhador, fracassa ao tirar sua própria roupa e não lembrará de seus remédios.

E nós, como filhos, não faremos outra coisa senão trocar de papel e aceitar que somos responsáveis por aquela vida. Aquela vida que nos gerou depende de nossa vida para morrer em paz.

Todo filho é pai da morte de seu pai.

Ou, quem sabe, a velhice do pai e da mãe seja curiosamente nossa última gravidez. Nosso último ensinamento. Fase para devolver os cuidados que nos foram confiados ao longo de décadas, de retribuir o amor com a amizade da escolta.

E assim como mudamos a casa para atender nossos bebês, tapando tomadas e colocando cercadinhos, vamos alterar a rotina dos móveis para criar os nossos pais.

Uma das primeiras transformações acontece no banheiro.

Seremos pais de nossos pais na hora de pôr uma barra no box do chuveiro.

A barra é emblemática. A barra é simbólica. A barra é inaugurar um cotovelo das águas.

Porque o chuveiro, simples e refrescante, agora é um temporal para os pés idosos de nossos protetores. Não podemos abandoná-los em nenhum momento, inventaremos nossos braços nas paredes.

A casa de quem cuida dos pais tem braços dos filhos pelas paredes. Nossos braços estarão espalhados, sob a forma de corrimões.

Pois envelhecer é andar de mãos dadas com os objetos, envelhecer é subir escada mesmo sem degraus.

Seremos estranhos em nossa residência. Observaremos cada detalhe com pavor e desconhecimento, com dúvida e preocupação. Seremos arquitetos, decoradores, engenheiros frustrados. Como não previmos que os pais adoecem e precisariam da gente?

Nos arrependeremos dos sofás, das estátuas e do acesso caracol, nos arrependeremos de cada obstáculo e tapete.

E feliz do filho que é pai de seu pai antes da morte, e triste do filho que aparece somente no enterro e não se despede um pouco por dia.

Meu amigo José Klein acompanhou o pai até seus derradeiros minutos.

No hospital, a enfermeira fazia a manobra da cama para a maca, buscando repor os lençóis, quando Zé gritou de sua cadeira: Deixa que eu ajudo.

Reuniu suas forças e pegou pela primeira vez seu pai no colo. Colocou o rosto de seu pai contra seu peito.

Ajeitou em seus ombros o pai consumido pelo câncer: pequeno, enrugado, frágil, tremendo.

Ficou segurando um bom tempo, um tempo equivalente à sua infância, um tempo equivalente à sua adolescência, um bom tempo, um tempo interminável.

Embalou o pai de um lado para o outro.

Aninhou o pai.

Acalmou o pai.

E apenas dizia, sussurrado: Estou aqui, estou aqui, pai!

O que um pai quer apenas ouvir no fim de sua vida é que seu filho está ali…”

Pexels/Pixabay.

Embora cuidar dos pais possa ser desgastante, não podemos esquecer que essa tristeza e cansaço fazem parte do luto que precisamos elaborar. Faz parte da despedida, do adeus a uma parte da nossa alma, da nossa infância.

Com eles se vai tudo o que não compartilhamos com mais ninguém e do qual não haverá testemunhas. Isso, sem dúvida, requer um grande trabalho interior que a vida nos oferece a oportunidade de fazer. Não podemos perder isso.

***
Destaques Psicologias do Brasil, com informações de La Mente Es Maravillosa.
Foto de capa: Reprodução.

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