De acordo com um novo estudo da Universidade de Texas, em Austin, aceitar uma proposta de emprego que utilize ou considere menos habilidades que um sujeito possui pode afetar significantemente suas próximas oportunidades de emprego. A ideia proposta é que uma pessoa que aceita tal subordinação é vista pelos empregadores como menos competente e compromissado.
Podemos nos perguntar o que é um trabalho que exija menos habilidade e capacidade de um sujeito. Afinal, o que os pesquisadores querem dizer com isso? Ao que parece, é algo do tipo: aceitar propostas de emprego temporárias, substitutas, freelances em áreas que não fazem parte do núcleo de habilidades do sujeito.
Muito se sabe a respeito de como o desemprego influencia nas futuras empreitadas laborais do cidadão do século XXI, porém pouca atenção é dada a essa condição especial de trabalho. David Pedulla, um dos autores do estudo, afirma : “Embora milhões de pessoas estejam neste ramo laboral, providenciados por agências, procura objetiva, concursos, pouca atenção é dada ao que realmente acontece com o percurso de carreira de freelancers e trabalhadores substitutos e subestimados.”
Para avaliar esta situação positivamente, Pedulla espalhou milhares (2.420) de currículos fictícios em milhares de oportunidades e entrevistas de emprego (1.210) ao redor dos Estados Unidos. Os dados dos concorrentes eram constantes: 6 anos de experiência de trabalho. O que mudava se referia apenas ao último ano, que era o gênero (1), se era turno integral (2), meio-turno (3), trabalho que subutilizasse as habilidades do contratado (4), freelance (5), emprego obtido por assistência pública ao desemprego (6), ou enfim, estava desempregado (7).
O estudo concluiu que 5% dos que ingressaram em trabalhos que julgavam “utilizar precariamente as habilidades oferecidas pelo candidato” nos últimos anos (4) foram chamados para uma entrevista pessoalmente ou obtiveram uma resposta positiva. É interessante contrapor esse dado com os 10%, o dobro, de respostas positivas para os candidatos que trabalhavam em turno integral em área de habilidades (2). Menos de 5% dos homens que trabalhavam em turno particionado receberam respostas positivas. Ao mesmo tempo, tais dados não fizeram diferença nas candidatas mulheres. Parece que não se vê diferença em tempo integral ou particionado para a mulher, tampouco o fato de o emprego ter sido assistido por uma agência de emprego aos necessitados teve grande impacto nos resultados.
“O estudo então oferece evidência de que aceitar um trabalho que possa subestimar e utilizar precariamente as habilidades pode influenciar seus prospectos laborais no longo prazo”, afirma Pedulla. Além disso, o estudo evidencia que trabalhos de meio-turno ferem as chances de indivíduos serem contratados no futuro.
Para fundamentar mais seus dados, Pedulla conduziu uma pesquisa com 903 entrevistadores e aplicadores de processos de seleção, a fim de saber suas percepções acerca dos candidatos em questão. A ferramenta que usou foi os mesmos tipos de perfil currícular, e dessa vez ouviu as avaliações dos entrevistadores em primeira-mão. O estudo e respostas revelam que:
O estudo de David Pedulla não oferece respostas nem dados incontestáveis. Oferece apenas dados territoriais que podem fazer-nos entender melhor o processo de escolha de um candidato ou não num processo de seleção. Parece ser evidente que os sujeitos que trabalham em qualquer tipo de ofício que desvie o padrão (8+ horas diárias) são penalizados e vistos como menos compromissados, o que reduz suas chances significativamente de serem escolhidos dentre outros candidatos (50% menos chance). Sujeitos que trabalham em áreas diferentes são vistos como incompetentes. E os resultados denotam que existe, em geral, uma indiferença quanto o papel da mulher no mundo do trabalho.
Referências:
Pedulla, D (2016, March 2). Penalized or Protected? Gender and the Consequences of Nonstandard and Mismatched Employment Histories. American Sociological Review.
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