Por Elisangela Siqueira
A traição não é algo dos tempos modernos, sempre existiu em todas as sociedades. Sempre foi um tema abordado em filmes, livros, novelas e outras artes. Entretanto, o que é novo é a forma de traição: virtual.
Cada vez mais, tanto no consultório convencional quanto no virtual, recebo essa demanda: “Estou traindo virtualmente ou fui traída(o) virtualmente. O que fazer? É considerado traição?”
E na grande maioria das vezes, as pessoas têm dúvidas se um relacionamento extraconjugal virtual é considerado uma traição de fato ou apenas um passatempo “inocente”.
Para algumas pessoas, a resposta parece ser óbvia, entretanto percebo que para a grande maioria, a dúvida impera a ponto de engessar qualquer atitude ou decisão sobre o assunto e não é para menos.
Observo que tal dúvida seja por essas três principais circunstâncias: 1. A traição virtual é relativamente nova, comparada ás traições “convencionais”, existe há menos de 20 anos e, dessa forma, não há um exemplo de como “resolver” a situação; 2. crença de que enquanto não houver o contato físico, não há traição consumada; e 3. A visão de que o mundo virtual existe totalmente a parte do mundo real.
O conceito de traição:
Em uma breve pesquisa pelo significado da palavra “Traição”, encontramos: Ação de trair alguém; perda completa da lealdade que resulta de uma ação traiçoeira.
E essa ação pode acontecer no ambiente de trabalho, social ou em relacionamentos amorosos. Entretanto, nesse texto, falemos de traição na relação afetiva.
Os principais antônimos de traição são: fidelidade e lealdade.
Principais motivos que levam as pessoas a traírem:
1-Insatisfação com o parceiro e com a relação afetiva e sexual;
2-Busca pela sensação de perigo;
3-Monotonia da relação amorosa;
4-Procura por sensações novas;
5-Controle excessivo do parceiro (a);
6-Falta de habilidades em lidar com as dificuldades da relação;
7-Novas experiências afetivas e sexuais;
8-Ausência de objetivos comuns;
9-Falta de diálogo entre o casal.
Consequências da traição:
Estas são diversas, mas se dão de acordo com algumas variáveis, por exemplo: as mulheres tendem a perdoar mais facilmente por questões culturais, dependência afetiva e econômica e para preservar a família. No caso dos homens, na grande maioria das vezes, tendem a não admitirem que foram traídos, pois a sociedade aceita melhor a traição masculina que a feminina.
Entretanto, o fator relevante para as consequências é se a traição tornou-se pública ou se foi confidenciada apenas ao traído (a), nesse caso é mais fácil de se perdoar, enquanto que a pessoa traída publicamente, sente a necessidade de tomar uma atitude perante a sociedade.
E a traição virtual?
Diferente da traição que ocorre há milênios, onde qualquer pessoa pode dar sua opinião a respeito do assunto, a traição virtual, por ser um comportamento relativamente novo, há grandes divergências de pensamentos.
Homens e mulheres traem por diversos motivos, entretanto isso não significa necessariamente que não haja amor, mas, certamente, deixa exposto que há um problema na relação e que deve ser revisto pelo casal.
A internet acaba por ser um terreno fértil para a traição, pois permite o anonimato (pode-se criar um personagem), existe uma proteção da pessoa que trai ( deleta-se e-mails e até a outra pessoa facilmente) e, por ser virtual, a imaginação e a fantasia constroem uma relação com a pessoa do outro lado da tela, totalmente idealizada e que jamais será alcançada num relacionamento real.
Creio que a traição virtual é um tema que deve ser conversado entre o casal. Faz-se importante saber o que os conjugues pensam a respeito do assunto.
Duas perguntas simples, mas que podem abrir para uma grande reflexão: Havendo um relacionamento virtual afetivo com outra pessoa é infidelidade? É considerado traição apenas o contato físico?
Obviamente que a traição não é uma ação adequada e muito menos a melhor forma de resolver os conflitos dos relacionamentos, entretanto não dá para fechar os olhos diante desse comportamento. Em tempos onde a internet proporciona diversos serviços e facilita relacionamentos entre as pessoas, faz-se importante pensar nesse tema.
Proponho que conversem com seus amigos, familiares, parceiros ou cônjuges, tenho certeza de que se surpreenderão com as opiniões diversas sobre esse assunto.
Elisangela Siqueira é psicóloga com especialização em Psiquiatria e Psicologia da Infância e da Adolescência e em Psicoterapia Psicanalítica Breve. Mais de 10 anos de experiência. Atendimentos presenciais e online. Saiba mais pelo site A Psicanalista Online.