Na psicologia “popular” ou “das ruas”, o transtorno bipolar foi definido como aquele em que a pessoa muda de humor com mais frequência e menor contenção do que o normal (às vezes está triste e de repente está feliz, outras irritado e em pouco tempo, calmo). No entanto, isso não está totalmente certo, e é necessário definir esta condição com mais detalhe e rigor.
Existem duas formas de transtorno bipolar: o tipo I e o tipo II. O transtorno bipolar tipo I se caracteriza fundamentalmente pela presença de um episódio maníaco (estado eufórico), e o tipo II pela presença de um episódio hipomaníaco e de depressão maior. A seguir, definimos claramente cada um destes conceitos.
De acordo com o DSM-5 (Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais), um episódio maníaco se caracteriza por um período bem definido de estado de ânimo anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável, e um aumento anormal ou persistente da atividade ou energia.
Um estado no qual a pessoa estaria na maior parte do dia, quase todos os dias, durante um período de pelo menos uma semana (ou independentemente da duração se for tão agudo que a pessoa precise de uma hospitalização).
Acompanhado de ao menos três sintomas adicionais (diminuição da necessidade de dormir, aumento da autoestima ou sentimento de grandeza, participação excessiva em atividades que têm muitas possibilidades de consequências dolorosas, etc).
O estado de ânimo em um episódio maníaco costuma ser descrito como eufórico, excessivamente alegre, alto ou “sentindo-se por cima do mundo”. Por exemplo, o indivíduo pode começar de modo espontâneo longas conversas em público com estranhos. Os pensamentos vão mais rápido do que podem ser expressados verbalmente.
O estado de ânimo em um episódio maníaco costuma ser descrito como eufórico, excessivamente alegre, alto ou “sentindo-se por cima do mundo”.
O humor expansivo, o excesso de otimismo, a grandiosidade e a falta de juízo podem levar a fazer atividades imprudentes, como gastos excessivos, a doação das posses, a direção perigosa, investimentos insensatos em negócios, e uma promiscuidade sexual que é incomum para o indivíduo.
Iniciativas que, em muitas ocasiões, só causam perdas para a pessoa, sejam financeiras ou em sua rede de apoio social.
Este episódio é suficientemente grave para causar uma deterioração importante no funcionamento social ou profissional, para precisar de hospitalização ou porque existem características psicóticas (delírios, alucinações, etc).
Segundo o DSM-5, um episódio hipomaníaco é um período bem definido de estado de ânimo anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável, e um aumento anormal e persistente da atividade ou da energia, que dura pelo menos quatro dias consecutivos.
Diferentemente do episódio maníaco, o episódio hipomaníaco não é suficientemente grave para causar uma alteração importante do funcionamento social ou profissional, ou requerer hospitalização. Além disso, não existem características psicóticas.
A depressão é um conceito melhor conhecido pela população geral. Coloquialmente utilizamos a palavra “depressão” para descrever estados de tristeza, melancolia, falta de energia, sonolência, lentidão, etc. Como fizemos com a mania e a hipomania, vamos ver quais critérios precisam ser cumpridos para diagnosticar um episódio de depressão maior.
Para diagnosticá-lo, o DSM-5 requer a presença de pelo menos cinco dos seguintes sintomas quase diariamente e durante a maior parte do dia, por ao menos duas semanas. Além disso, é necessária a presença de estado de ânimo deprimido ou perda de interesse ou prazer.
Pelo menos 90% dos pacientes deprimidos parecem estar tristes ou abatidos. É importante perguntar qual é o pior e o melhor momento do dia, ou se há algo que faz com que o paciente se sinta melhor, pois estes aspectos estão relacionados à melancolia.
Trata-se da diminuição do prazer nas atividades cotidianas. Assim, nada faz com que a pessoa se sinta bem (nem sair, nem ver os netos ou sobrinhos, ver um programa de televisão…).
O critério empregado é um aumento ou redução de peso em um mês de 5% sobre o peso habitual, embora às vezes possa ser complicado avaliar este sintoma.
A insônia sempre é considerada um sintoma depressivo, embora com a hipersonia existam mais dúvidas, podendo chegar a ser atípica. Aqui deveríamos explorar tanto a insônia inicial quanto a média e terminal, e analisar como é o estado de sonolência do paciente durante as 24 horas do dia, assim como se o sono é reparador ou não, o tempo que se passa na cama, etc.
Um critério que costuma ser usado para a insônia inicial é demorar mais de 30 minutos para pegar no sono. A insônia média ocorre quando o paciente acorda por mais de 30 minutos durante a noite com dificuldade para voltar a dormir. A insônia tardia existe quando o paciente acorda entre 1 e 3 horas antes do normal e não consegue dormir novamente. Para a hipersonia não há um critério estabelecido.
Faz referência tanto ao retardo quanto à agitação psicomotora, e seu diagnóstico requer alguma manifestação de conduta que seja visível para os demais.
Às vezes os entrevistados dizem não ter energia, mas na verdade trata-se de uma diminuição do interesse.
Costuma ser valioso pedir ao paciente que descreva a si mesmo e que indique como seus conhecidos ou familiares o descreveriam.
Aqui, as perguntas típicas tentam identificar se o paciente é capaz de seguir uma conversa ou um programa de televisão, se concentrar no trabalho, etc.
Entre 60% e 80% dos suicídios cometidos ocorrem em pacientes diagnosticados com depressão. Ter depressão aumenta em cerca de 30 vezes o risco de suicídio em relação à população geral.
Quando uma pessoa apresenta 5 ou mais destes sintomas, isso não significa que é possível diagnosticar automaticamente a presença de um “estado depressivo maior”. Além disso, é preciso haver uma deterioração psicossocial importante, e toda esta condição não pode se dever a efeitos de substâncias ou doenças (como, por exemplo, a demência), e nem aos efeitos de uma reação de luto normal.
Para diagnosticar um episódio depressivo maior é necessária a presença de estado de ânimo deprimido ou perda de interesse ou prazer.
Como vimos anteriormente, o transtorno bipolar tipo I se caracteriza pela presença de um episódio maníaco. Antes ou depois pode haver episódios hipomaníacos ou de depressão maior.
Durante os episódios maníacos os pacientes não costumam perceber que estão doentes nem reconhecer que precisam de tratamento e resistem de forma veemente a recebê-lo. Costumam mudar sua forma de se vestir, a maquiagem ou a aparência pessoal por um estilo mais chamativo ou sugestivo do ponto de vista sexual.
Alguns pacientes podem se tornar agressivos e proferir ameaças físicas; se estão delirantes, podem atacar fisicamente outras pessoas ou se suicidarem.
Como consequência da capacidade de julgamento prejudicada, da escassa consciência da doença e da hiperatividade, o episódio maníaco pode ter consequências catastróficas.
O estado de ânimo pode variar muito rapidamente até a irritação ou até a depressão. Durante os episódios maníacos podem surgir sintomas depressivos que duram minutos, horas, ou mais raramente, dias.
O transtorno bipolar tipo I se caracteriza pela presença de um episódio maníaco.
“Estima-se que o risco de suicídio ao longo da vida dos pacientes com transtorno bipolar seja 15 vezes superior ao da população geral. De fato, o transtorno bipolar representa um quarto de todos os suicídios consumados.” (DSM-5)
Como vimos anteriormente, o transtorno bipolar tipo II se caracteriza pela presença de um episódio hipomaníaco e de depressão maior. O episódio maníaco é uma característica exclusiva do tipo I. Os pacientes com transtorno bipolar II normalmente consultam um médico durante um episódio depressivo maior e é pouco provável que se queixem inicialmente de hipomania. Normalmente, os episódios hipomaníacos não causam, por si mesmos, disfunção.
A disfunção é consequência dos episódios depressivos maiores ou de um padrão persistente de mudanças imprevisíveis e flutuantes do estado de ânimo, e de um padrão de relações interpessoais ou profissionais pouco confiáveis. Os pacientes com transtorno bipolar II podem não ver os episódios hipomaníacos como patológicos ou desfavoráveis, embora o comportamento errático do indivíduo possa incomodar outras pessoas.
Um traço comum deste transtorno é a impulsividade, que pode contribuir para as tentativas de suicídio e transtornos por consumo de substâncias.
O transtorno bipolar tipo II se caracteriza pela presença de um episódio hipomaníaco e de depressão maior.
“O risco de suicídio é maior no transtorno bipolar II. Aproximadamente um terço dos pacientes com transtorno bipolar II tem antecedentes de tentativas de suicídio. A letalidade das tentativas, definida por uma menor taxa de tentativas em relação aos suicídios consumados, é maior nos pacientes com transtorno bipolar II do que nos pacientes com transtorno bipolar I.” (DSM-5).
Bibliografia:
American Psychiatry Assiciation. Manual diagnóstico e estatístico dos transtornos mentais (DSM-5)
Imagem de capa: Shutterstock/luisrsphoto
TEXTO ORIGINAL DE A MENTE E MARAVILHOSA
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