Doenças do coração e depressão, não raro, andam de mãos dadas. Estudos de longo prazo mostram que pessoas com o transtorno psíquico apresentam risco significativamente maior de desenvolver problemas cardíacos, e vice-versa. Uma pesquisa recente revela que essa associação pode começar ainda na juventude, sendo causada, provavelmente, por inflamação crônica.
Cientistas dos Estados Unidos, Austrália e China publicaram uma pesquisa na edição de novembro de 2014 da Psychosomatic Medicine sobre um estudo em andamento que analisava a saúde dos australianos. Eles consideraram a pontuação de 865 jovens num questionário que avaliava sintomas do transtorno emocional e outras medidas de saúde mental. Levaram em conta também o diâmetro interior dos vasos sanguíneos da retina, um possível marcador de doença cardiovascular precoce.
Considerando sexo, idade, tabagismo e índice de massa corporal, os cientistas descobriram que os participantes com mais sinais de depressão e ansiedade tinham arteríolas retinianas mais dilatadas, o que poderia afetar a funcionalidade dos vasos sanguíneos do coração e cérebro. “Não sabemos se a associação é causal”, diz a neurocientista Madeline Meier, professora de psicologia da Universidade Estadual do Arizona e coautora do estudo. “Mas os resultados sugerem que sintomas de problemas psíquicos podem ajudar a identificar jovens em risco para doenças cardiovasculares.”
Outra pesquisa relaciona a depressão a inflamações no corpo e no sistema nervoso. “Alguns especialistas acreditam que o estresse e a infecção podem desempenhar um papel causal no transtorno psíquico”, diz Madeline. A inflamação crônica também é um fator de risco para problemas do coração. A relação é complexa: em alguns casos, essa reação do organismo parece preceder o transtorno e as patologias cardíacas; em outros, há indícios de que essas doenças podem causar ou exacerbar a inflamação.
Um estudo publicado em 2014 sugere que a depressão atípica, um tipo específico do transtorno, pode ser fortemente associada com a inflamação e, portanto, com os problemas cardiovasculares. Essa variação é responsável por 15% a 40% do total de casos. É caracterizada por maior flexibilidade no humor em relação aos quadros típicos, além de aumento do apetite, sensação de peso nos ombros e sensibilidade à rejeição.
Os resultados, publicados no Journal of Behavioral Medicine, mostram que os níveis sanguíneos de anticorpos em jovens com depressão atípica eram pelo menos 55% maior do que naqueles com outros tipos do transtorno ou nos saudáveis. O número de participantes com essa variação do transtorno afetivo e com alto risco cardiovascular era quase o dobro.
A boa notícia é que cuidar dos sintomas da depressão pode de fato ajudar a prevenir doenças do coração, segundo um estudo publicado em 2013 na Psychosomatic Medicine. Alguns pacientes com o distúrbio emocional (com ou sem patologias cardíacas) receberam 12 meses de tratamento com antidepressivos e psicoterapia, enquanto outros na mesma situação foram orientados a fazer acompanhamento com um prestador de cuidados primários. Ao longo de oito anos, aqueles sem problemas no coração e que receberam tratamento para a depressão apresentaram probabilidade 48% menor de ter ataque cardíaco e acidente vascular cerebral do que os que não passaram por esse tipo de acompanhamento. Os cientistas não observaram alteração no risco para quem já tinha doenças do coração no início do estudo, o que destaca ainda mais a necessidade de intervenções a tempo.
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