Antes de conceituar trauma emocional, eventos traumáticos e suas consequências para o indivíduo, gostaria de fazer uma metáfora da vivência traumática como um quebra-cabeças que se reorganizou em uma imagem desfigurada e que necessita ser decifrada. Sendo assim, a imagem do quebra-cabeças seria o significado do vivido configurado de modo em que o ego muitas vezes não consegue decifrar, mas que o psicossoma se ressente e grita através dos sintomas psicossomáticos. Em outras palavras, no trauma, somos prisioneiros de nossa própria experiência que anseia por um significado, um todo vivido, uma vivência que deveria ter sido completada, com sentido, mesmo que dolorosa, porém libertadora. É a necessidade de passar pelo deserto devastador do caos para alcançar os campos verdes de uma existência integrada, sendo os sintomas o caminho de acesso ao trauma.
Durante o período em que pesquisei os Transtornos de ansiedade, mais especificamente o Transtorno de Pânico, senti a necessidade de estudar a importância do trauma para a evolução de um distúrbio ansioso. O estudo da Psicotraumatologia tornou-se fundamental junto com formação em Psicossomática, visto que ambos se complementam.
A Psicotraumatologia e a Psicossomática se complementam, visto que o trauma está diretamente relacionado com a própria experiência somática. Em outras palavras, o trauma vai se expressar através de sintomas que desembocam no psicossoma para manifestar suas memórias dolorosas e mal elaboradas mediante a exteriorização de uma doença psicossomática que foi eliciada por uma vivência traumática.
Trauma é uma vivência subjetiva onde ocorreu um impacto psicológico significativo e que causou uma ruptura na estrutura psíquica em que o indivíduo necessita de um processo de readaptação para que esta mesma estrutura sobreviva de maneira funcional. É uma vivência que ultrapassa, que transborda todos os nossos recursos psíquicos. Por ser uma experiência subjetiva, o que é vivenciado como trauma para um indivíduo, pode não o ser para um outro. Existem também os traumas indiretos, em que indivíduos testemunham situações impactantes como acidentes ou homicídios de entes queridos. Também são considerados traumas, não somente a experiência individual, mas também a experiência coletiva, tais como catástrofes naturais, enchentes, terremotos, incêndios, tsunamis, dentre outros acidentes coletivos.
A Psicotraumatologia trata dos traumas psicológicos, da cura das feridas emocionais, das memórias dolorosas, das cargas emocionais estagnadas, aprisionadas e não ressignificadas, bem como dos transtornos a estes relacionados, objetivando a “renegociação” do trauma. Talvez a pior ferida seja a emocional, visto que a ferida física é materializada, observada, representada. O sangramento da ferida emocional muitas vezes não estanca, pois não damos a devida importância. Contudo, esta vai nos devastando a vida.
Alguns eventos são potencialmente traumáticos, tais como: acidentes, perdas, divórcio, luto, agressões físicas e psicológicas, abuso sexual, relacionamentos abusivos, bullying, sentimento de desamparo e vulnerabilidade, mudanças abruptas que desestruture a rotina e o bem estar do indivíduo.
A pessoa traumatizada e não tratada se desestrutura facilmente com experiências cotidianas, evocando através destas uma ferida emocional que não foi cicatrizada. Dependendo de sua magnitude e intensidade, o tempo não cura feridas emocionais profundas, requerendo cuidado e tratamento profissional competente, no caso um psicólogo, para o fortalecimento da resiliência, da auto-imagem e autoestima. Vale à pena salientar que no caso de traumas na infância, a dor emocional é sentida, mas “não sabe de onde vem” (inconsciente), se configurando como forma de exprimir o que foi eliciado por eventos cotidianos que são os gatilhos para a (re)vivência do trauma. Exemplo: Uma criança que vivencia um abuso sexual, seu agressor(a) estava usando uma roupa de determinada cor, usava determinado perfume, etc. Cor da roupa e perfume, neste caso, são os gatilhos para a revivência do trauma.
Os traumas quando bem elaborados e ressignificados nos oportunizam o fortalecimento da nossa resiliência, da capacidade de mudar como lidamos com as circunstancias adversas, as crises, rupturas e reorganizações que são dinâmicas inerentes da vida.
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