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Tristeza, solidão e carência podem levar à compulsão por comida

Por Cléo Francisco, via Uol 

Eventualmente, todo mundo se acaba de comer em uma churrascaria, na ceia de Natal, em um almoço de domingo com a família. Comer além do necessário e ficar com aquela sensação de estômago estufado acontece. Porém, se devorar alimentos em maior quantidade do que o normal for frequente e vier associado a sentimentos de culpa, atenção. “Pode ser baixa autoestima e dificuldade de lidar com questões difíceis, como frustrações, críticas e mágoas”, afirma a psiquiatra e terapeuta de família Liliane Kijner Kern, do Programa de Atenção a Transtornos Alimentares da Unifesp.

Emoções negativas também podem nos levar a atacar geladeira. “Geralmente, são sensações como tristeza, abandono e carência afetiva”, diz o psiquiatra Fabio Salzano, vice-coordenador do Programa de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do HC (Hospital das Clínicas). O médico também culpa as dietas muito rígidas por alguns episódios de ataques furiosos à comida. “É o caso, por exemplo, de quem fica dois meses sem comer doces e, ao ver um bolo na padaria, compra e o come inteiro. Essa pessoa está doente? Não. Isoladamente, isso não é problema médico. Mas não é o ideal em termos comportamentais”, declara o psiquiatra Fabio Salzano, vice-coordenador do Programa de Transtornos Alimentares do HC.

Mas há outros sentimentos ruins que resultam no desejo incontrolável de mastigar todo alimento que vemos pela frente. “Ansiedade, estresse e depressão podem detonar um daqueles momentos em que comemos demais. Nesses casos, é como se fossem confundidas as emoções com a fome, e se tenta atenuá-las comendo, o que poderá se tornar um círculo vicioso”, explica Marco Antonio De Tommaso, psicólogo e psicoterapeuta especializado em transtornos alimentares e emagrecimento.

Mas o contrário também pode acontecer: comer demais por estar muito bem. “As pessoas confundem alimentação com sentimentos e emoções. Podem comer aquele mesmo bolo inteiro porque estão felizes. Alimento não é para se premiar nem martirizar. É algo de que nosso organismo precisa”, declara Salzano, que critica dietas muito restritivas. “Nada tem de ser proibido. Não é errado comer doces. Depende da proporção na alimentação”, afirma o médico.

É muito comum buscarmos a sensação de conforto na comida. “Ela pode suprir um lado nosso que está meio capenga”, diz a psiquiatra Liliane, que aconselha a observação do comportamento. “Se for algo eventual, tudo bem. Mas, caso sentar-se na frente da TV e desandar a comer se torne um hábito, é bom questionar se a comida não é apenas um meio de afogar as mágoas.”

Quando comer demais é um transtorno

É muito importante dar atenção à frequência e sentimentos que aparecem após os episódios de comilança. Eles podem sinalizar algo mais grave.  O psicólogo Marco Antonio De Tommaso costuma atender modelos em seu consultório. Algumas dessas jovens perceberam nessas situações um problema. “A imprevisibilidade do meio em que vivem estimula a ansiedade. Muitas mudaram de cidade ou estado, estão distantes da família, sofrem pressão para emagrecer. Algumas se submetem a dietas malucas e não aguentam. Muitas podem começar, a partir daí, a ter o transtorno alimentar”, declara o psicoterapeuta.

Esses casos já se enquadram no Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica (TCAP). Os indivíduos com esse problema comem exageradamente ao longo do dia, com sentimento de descontrole, culpa e vergonha por ingerir tanta comida de uma vez. “Se isso acontece pelo menos duas vezes por semana e por um período de seis meses seguidos, já é um transtorno médico”, afirma Salzano. No caso do TCAP, a pessoa não faz nada para compensar os exageros –diferentemente da bulimia, em que as vítimas provocam vômitos, usam laxantes e fazem exercícios à exaustão.

O psiquiatra Fábio Salzano concorda que uma dieta restritiva pode ser o gatilho para o problema. “Mas se vier acompanhada de sentimentos negativos como ansiedade, depressão e a pessoa tiver predisposição genética. Além disso, há questões biológicas que podem estar influenciando também. É multifatorial”, diz Salzano. A psiquiatra Liliane Kern acrescenta outras características presentes em quem sofre desse mal: “Essas pessoas costumam ter dificuldade de controlar os impulsos, grande insatisfação com relação ao peso, baixa autoestima e viveram o efeito sanfona no decorrer da vida”.

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