Segundo a Associação Brasileira do Sono (ABS), a insônia atinge 73 milhões de pessoas no Brasil, portanto, não é incomum ver alguém recorrendo a remédios para conseguir pegar no sono depois de uma ou duas noites mal dormidas. E um tipo de medicamento que costuma ser bastante popular entre os insones são aqueles usados contra a gripe. E esta pode ser uma solução fácil, afinal, quase todo mundo tem em casa remédios para gripe – no geral, vendidos sem necessidade de prescrição médica – mas está longe de ser a melhor solução.
Os remédios para a gripe realmente ajudam a pegar no sono, porque costumam conter anti-histamínicos que causam ligeira sedação.
De acordo com Susheel Patil, diretor clínico da Johns Hopkins Sleep Medicine, se você não estiver gripado, “não há problema em usar esses remédios por alguns dias para lidar com sintomas de insônia”. Mas, se o uso for prolongado, há consequências bem sérias.
Depender de remédios para gripe para descansar sem estar gripado não é a melhor decisão a tomar. Se estiver desesperado, Patil sugere usar um remédio que não precise de receita e contenha somente anti-histamínicos – os de gripe contêm diversos outros ingredientes ativos.
“Remédios vendidos sem receita contêm vários conteúdos na fórmula, incluindo analgésicos e ingredientes contra a tosse, além do anti-histamínico”, explica Patil. “Por isso, você pode estar sujeito a efeitos colaterais desses medicamentos.”
Ele ainda acrescenta que é essencial ler a bula desses remédios e entender o que cada um dos ingredientes ativos está tratando. Além disso, é importante saber que os anti-histamínicos, mesmo sozinhos, podem ter efeitos colaterais indesejados.
“Esses remédios têm meia-vida de 10 a 12 horas, ou seja, eles ainda estarão circulando pelo seu sangue quando você acordar.” Isso pode causar atordoamento, inércia do sono, dores de cabeça ou ligeira confusão mental.
Algumas pessoas também relatam “palpitações ou batimentos cardíacos acelerados. Em pessoas mais velhas, pode haver constipação e retenção de urina”, afirma Patil.
Além disso, esses remédios “podem afetar sua coordenação, aumentando as chances de uma queda durante a noite”, diz Nathaniel Watson, co-diretor do Sleep Medicine Center da Universidade de Washington e membro do conselho consultivo científico do SleepScore Labs. Remédios antigripais também podem causar arritmias e convulsão, explica Watson. Por isso, os médicos não recomendam seu uso para o tratamento da insônia.
Nem todo mundo vai ter lindos sonhos depois de tomar um antigripal. E a qualidade do sono também pode deixar a desejar.
“Os efeitos variam muito de pessoa para pessoa. Provavelmente há relação com fatores genéticos, que influenciam a absorção da droga e sua eficácia no bloqueio da ação das histaminas no cérebro.”
Alguns podem ter surpresas desagradáveis: “Um pequeno número de pacientes se sente mais ativo depois de tomar esses remédios”, diz Patil. Este fenômeno pode agravar a insônia.
Então que tal usar remédios que contenham somente anti-histamínicos? Patil diz que essa é uma solução melhor, mas, “se você tem de recorrer a esses remédios durante mais de duas semanas, procure um médico para entender por que está tendo sintomas de insônia”.
Até mesmo suplementos como melatonina podem não ser necessariamente bons para você. Eles deveriam funcionar como auxílio eventual, não soluções de longo prazo.
“Problemas de sono podem estar relacionados a vários transtornos, como apneia, síndrome da perna inquieta, insônia ou narcolepsia”, diz Watson. Antigripais “não são o tratamento adequado para essas doenças”, porque “não lidam com a causa do problema”.
Existem muitos remédios naturais que ajudam pessoas com dificuldades para dormir, caso você esteja procurando alternativas. E você sempre pode procurar a ajuda de um médico – em geral a melhor ideia quando se trata da sua saúde.
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Destaques Psicologias do Brasil, com informações de HuffPost.
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