“Um sonho não interpretado é como uma carta não aberta”

Sigmund Freud revolucionou os estudos do inconsciente ao escrever seu primeiro livro: A interpretação dos sonhos, em 1900. Assim, Freud apresentou o método de relato e interpretação dos sonhos como uma via de acesso ao nosso inconsciente.

Além disso, foi Freud com a interpretação dos sonhos liderou uma das maiores rupturas na ciência: o saber sobre o sujeito. Ele explicou como advém e operam os sonhos e suas conexões com o nosso lado culto, onde seus conteúdos eram trazidos por experiências anteriores, desejos e traumas. Então, caracterizou quatro tipos de fontes de sonhos:

1. Excitações sensoriais externas (objetivas, onde todos os ruídos indistintamente percebidos provocam imagens oníricas correspondentes);
2. Excitações sensoriais internas (subjetivas dos órgãos dos sentidos);
3. Estímulos somáticos internos (orgânicos);
4. Fontes psíquicas de estimulação (material importante ao alcance do inconsciente caminho para o tratamento psicanalítico).

Nesse campo teórico, os sonhos apresentam três entidades distintas: o sonho manifesto, os pensamentos oníricos latentes e seu funcionamento. São nos sonhos que matamos ou morremos como “mocinhos” ou “bandidos”, construímos e destruímos coisas, espaços, cenários, pessoas, etc., conforme os absurdos soniais.

É por isso, que em geral, os sonhos são inquietantes e provocações que temos que enfrentar, e que podem ser de fácil interpretação. Porém, existem os sonhos de difícil decodificação, por serem desagradáveis ou pesadelos, porque eles estão em um ambiente de imprevisibilidade, que se manifestam de modo simbólico, para compensar a repressão dos nossos desejos.

Por conseguinte, Freud encontrou na interpretação dos sonhos um itinerário eficiente para decifrar a linguagem do inconsciente, que era articulada com as reminiscências biológicas, psíquicas e culturais de seus pacientes, demonstrando que os sonhos possuem a função de integrar os próprios “enigmas” na vida dos sujeitos.

A psicanálise desvendou que as imagens dos sonhos têm a força das palavras, que estão impregnadas de mensagens, que confundem os sonhadores. E, por esse motivo, que as narrativas dos sonhos realizadas pelos pacientes aos médicos ou terapeutas, da era vitoriana, eram vistas como destituídas de sentidos. É como diz o Talmude: “Um sonho não interpretado é como uma carta não aberta”.

Entretanto, foi Freud que mostrou que os sonhos têm significados e uma linguagem própria, que podem ser interpretados. Ele também percebeu através da escuta de seus pacientes, que os sonhos contribuem para estruturar os quadros patológicos, que eram fenômenos da vida cotidiana.

Enfim, podemos concluir que os sonhos são comunicações importantes de nós para nós mesmos. Se não conhecermos a linguagem em que são escritos, esqueceremos uma grande parte do que sabemos e falamos a nós mesmos, nas horas em que estamos desocupados com as coisas do mundo exterior.

***

Jackson César Buonocore é Sociólogo e Psicanalista






Jackson César Buonocore Sociólogo e Psicanalista