Por Edith Casal
Existem pessoas que consideram que o melhor relacionamento que pode existir entre uma mãe e sua filha é o de “melhores amigas”. Contudo, esta situação pode acabar favorecendo a aparição de uma rivalidade mútua, a perda do respeito, a confusão de papéis, e inclusive a invasão da privacidade.
Os filhos precisam de um adulto que lhes dê o exemplo, que seja uma referência de autoridade e de respeito. Que os orientem e lhes deem proteção e apoio, para que estejam em posição de manifestar essa estabilidade emocional e a saúde mental que tanto requerem e que outorga uma ordem à sua existência.
O problema desse tipo de relacionamento esbarra no fato de que o limite saudável desaparece no relacionamento mãe-filha. A princípio este vínculo precisa ser de acompanhamento e educacional, mas uma aparente amizade pode transformá-lo em um elemento controlador e superprotetor. Isto faz com que não se possa construir um modelo de respeito e autoridade, porque a mãe é percebida como um par.
Neste tipo de relacionamento, insana e confusa, cria-se uma elevado nível de insegurança na filha,pois as decisões dela ficam sujeitas ao conhecimento e à aprovação da sua progenitora, que do contrário se sente decepcionada. Este sinal de superproteção tem um resultado nefasto no desenvolvimento da personalidade da filha, pois gera uma dependência nociva entre as duas.
Quando a figura de autoridade não é entendida com clareza pela filha, ela terá uma sensação de falta de proteção. A autoconfiança será abalada. Ela duvidará quando tiver que tomar decisões e isso comprometerá a sua aspiração de independência.
Que o relacionamento mãe-filha não seja de amigas em nenhum momento significa que não possa ser próximo e enriquecedor para ambas. Mas uma coisa é serem amigas, e outra muito diferente é serem mãe e filha. Sem dúvida, uma boa mãe sempre procura o melhor para a sua filha. Contudo, isto não lhe dá o direito de invadir a sua privacidade, com a desculpa de se aproximar da sua filha como uma amiga.
É fundamental compreender a origem desse fenômeno. Na maioria dos casos, este comportamento por parte da mãe evidencia conflitos emocionais relacionados à dependência. E em alguns casos, esses conflitos vêm acompanhados de depressão e temor de que a filha repita os seus mesmos erros. Neste sentido, a mãe é obrigada a resolver tais conflitos por conta própria ou com a ajuda de um profissional.
As filhas sabem que não necessariamente precisam obedecer suas amigas. Por esse motivo uma mãe precisa ser amorosa, mas ao mesmo tempo firme. Além disso, uma filha não tem por que saber de todos os problemas íntimos da sua mãe. Isto acarretará temores infundados, tristeza e confusão com respeito à relação dos seus pais.
O melhor é que este tipo de relacionamento seja transparente. É importante construir a confiança de forma espontânea, e não como uma imposição. Do contrário, cria-se um estado de angústia e desconfiança permanente, que resultará em um desgaste emocional inútil que pode ser evitado.
Por outro lado, tanto mãe quanto filha, se detectam possíveis problemas uma na outra, devem manifestá-lo. Não é saudável calar o que pode estar incomodando. É preciso expressá-lo, sempre com um clima de sinceridade e respeito. Desta forma o relacionamento será saudável e livre.
A filha precisa entender, especialmente se for menor de idade, que haverá decisões sobre a sua vida que a sua mãe deverá tomar. Imagine a fúria que despertaria o fato de que essas decisões fossem tomadas por uma amiga. O que pode ser perdoado de uma mãe, talvez não se possa perdoar de uma amiga.
Os mal-entendidos entre mães e filhas sempre podem ser remediados. É fundamental saber escolher o momento para fazê-lo. Ao afeto e a confiança correspondidas só é necessário acrescentar um pouco de bom senso para resolver as diferenças ou possíveis desgostos que tenham surgido entre as duas.
É importante que a filha aprenda a solucionar os seus problemas e assim ganhe independência. Que saiba que a mãe estará sempre ali, para apoiá-la e aconselhá-la, como só uma mãe sabe fazer. A filha também precisa entender que existem aspectos da sua vida que pode guardar para si mesma. Que não é bom adentrar demais na intimidade, porque cada uma tem a sua própria história e o seu próprio caminho a percorrer.
Imagem de capa: Shutterstock/TairA
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