O ministro da propaganda na Alemanha Nazista, Paul Joseph Goebbels, disse certa vez: “Uma mentira dita mil vezes torna-se verdade.” Essa fatídica frase nos leva a refletir sobre as funções das mentiras ou notícias falsas nos dias atuais.
As mentiras que se apresentam nas mídias sociais seguem a mesma linha propagandística de Goebbels, que fazia o uso da glorificação da violência e da discriminação das minorias. Um breve histórico das mentiras nazifascistas mostram que elas estavam ancoradas na fé e no mito, que serviam as neuroses e psicoses de seus líderes, que mentiam ao povo e acreditavam nas suas próprias mentiras.
Essas estratégias se repetem em relação à pandemia do coronavírus e seus resultados são letais. O problema é que as notícias falsas são difundidas nas redes sociais, como se fossem um “bem maior” e verdadeiras, mas estão sendo contraditadas e desmentidas pela ciência e pelo jornalismo.
Além disso, tem gente que leva as mentiras ao cúmulo do absurdo, que são os corruptos, vigaristas e malandros que buscam o lucro fácil, dando golpes nos outros. E temos os mitômanos, ou seja, sujeitos que mentem compulsivamente, porém, eles precisam de ajuda psicológico.
É evidente que as mentiras fazem parte da natureza humana, exercendo um poderoso controle sobre indivíduos e grupos. Segundo as estatísticas têm pessoas que mentem cerca de 200 vezes por dia e em média uma vez por cada 5 minutos e a maioria das mentiras circulam milhões de vezes na internet.
No entanto, as mentiras são decodificadas pelas expressões, gestos e movimentos, que revelam divergências entre a linguagem verbal e não verbal, inclusive no espaço virtual. Na perspectiva psicanalítica nem os mentirosos mais experientes conseguem controlar seu inconsciente, já que a mente corpórea clama pela verdade.
Assim, Freud demonstrou que a verdade escapa nos atos falhos, nos chistes, nos sonhos e nos rastros da vida social, evidenciando que as mentiras se manifestam em escala patológica, pois a saúde mental só é compatível com a verdade.
Em razão disso, as mentiras no estado neurótico não são elaboradas pela consciência, uma vez que os neuróticos são intolerantes e por motivos inconscientes as mentiras tornam-se vantajosas para eles. E no estado psicótico, as mentiras surgem na forma de delírios, que levam os psicóticos a não reconhecer o caráter estranho de seu comportamento.
No sentido filosófico, a ética e a verdade estão intimamente ligadas e não permitem que a realidade seja mascarada. Aliás, os antigos gregos utilizavam os mitos como uma metáfora para falar da psique, que revelavam os pensamentos e os desejos reprimidos no inconsciente dos homens. Então, quando deparamos com a palavra mito, associamos a algo que não é verídico e crível.
Portanto, não podemos esquecer que durante a história da humanidade, as mentiras deram origem às doenças psíquicas e causaram sofrimento e ceifaram vidas na sociedade. Enfim, é dever dos homens e mulheres de boa vontade lutar pela verdade, porque as mentiras cedo ou tarde aparecerão, mesmo que ditas mil vezes.
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Jackson César Buonocore é sociólogo e psicanalista.
Foto de Capa: TOPHEE MARQUEZ/Pexels