No mês dedicado aos namorados, quando o imaginário avermelha-se de paixão, são mais perceptíveis os mecanismos psicológicos presentes no fenômeno do enamoramento.
Sob o domínio das pulsões, os amantes ou os desejosos por enamorar-se pelo menos nesse período, são tomados pela vontade de voar a quatro asas e, assim, expressam afetos exacerbados pela imaginação e pelas sensações.
A expressão namorar tem raízes em palavras com significados (atrair, cativar e cortejar) sugestivos da essência afetivo-relacional dos atos que fazem o namoro. E o que seria o namoro do ponto de vista da psicologia do afeto? Um ritual que ratifica o desejo de pessoas que se querem juntas. Pessoas que buscam o encantamento do desejo de ser parte do desejo do outro.
No enamoramento, a percepção é tocada por uma aura romântica que imprime aos ambientes uma atmosfera em que lugares e objetos se metamorfoseiam em fetiches. Tudo tem sentido afetivo: a mesa do restaurante, o quarto de hotel, os lençóis, o papel de bombom, o ingresso do cinema.
Os objetos viram símbolos da vontade de enlaçar-se. O castiçal silencioso é cúmplice; as velas irradiam luz que homenageia o amor; flores viram confissões de admiração; os presentes e mimos são promessas de que o futuro será revestido de felicidade fiel; vozes comuns falam desatinos que soam como carícias de veludo em ouvidos dóceis e o olhar é abismo de onde se lança a esperança de ser mais que apenas um.
A despeito das experiências divergentes, ninguém há de negar o forte apelo emocional que o amor romântico exerce sobre nós. E o namoro dando concretude aos jogos da afetividade romântica não pode ser desconsiderado como fenômeno de forte valência emocional.
O fato é que somos seres relacionais e sensuais, daí se origina a busca humana de criar laços, ser alvo de terno apreço e sensual deleite. Fatores que dão papel significativo às emoções em jogo na experiência sensível do namoro.
No ritual do namoro, a primeira impressão tem forte peso na formação do conceito dos amantes, por isto, a fase de atração é crítica. Muitos casais atravessam crises por estarem apoiados em recordações agradáveis (com forte caráter promissório) que guardam da fase inicial do relacionamento.
Como em todo fenômeno relacional e rico de subjetividade, não há fórmulas para garantir atração imediata ou firmar uma situação feliz de namoro. Contudo, as pessoas gostam de cortejar, quando percebem que estão em companhia de quem as fazem se sentir bem. Assim, quem exibe ânimo, espontaneidade e empatia, costuma ter abordagem relacional agradável e, portanto, tende a atrair companhias.
Na fase de manutenção do namoro, costumam ser mais bem sucedidos os namorados com boa noção de que amar é um verbo transitivo, ou seja, amar carece de objeto. Então, é preciso lembrar que a gente ama ‘outro’ diferente de nós e não um espelho que refletirá fielmente nossa identidade.
Um aspecto fundamental para consolidar a relação amorosa é quando os parceiros enxergam o amor como uma força. Amar não nos torna vulneráveis. Ao contrário, pela expressão de afetos, exprimimos força emocional. O que nos fragiliza são formas de dependência que podem estar presentes no jeito de partilhar a relação amorosa.
Namorar, enfim, é conectar-se com a aptidão generativa do amor e daí, firmar-se como alguém capaz de dar e receber afeto, por meio de trocas amorosas que fortalecem pelo encontro com o outro.
Imagem de capa: Oziel Gómez on Unsplash
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