Uma relação real com a confiança

Quando falamos de confiança, na maioria das vezes, a imagem que nos vem é de relação sólida, uma certeza de que se pode contar com o outro em todas as áreas e momentos, e, geralmente autenticamos essas relações com pessoas que nós classificamos como aquelas que são “para o que der e vier”.  Um dos conceitos de confiança é crédito, fé e de confiar é ter esperança em alguém ou em algo. Podemos assim pensar que quando confiamos damos crédito, fazemos várias expectativas sobre os outros e esperamos uma correspondência de acordo com os nossos critérios e necessidades a serem atendidas.

Algumas vezes as expectativas são corroboradas, mas outras tantas não. Normalmente este é o momento em que dizemos que o outro traiu a nossa confiança e a tendência, como reação, é de nos fecharmos para essa relação restringindo o contato em algum nível, ou até, totalmente. Dificilmente, fazemos uma avaliação da situação como um todo. Ou seja, pensar se a expectativa era muito alta, se a pessoa tinha ou não condições de dar o que esperávamos, se é uma questão circunstancial ou se entra no modo-de-ser do outro, se nós contribuímos de alguma forma para aquele desenrolar, etc. Simplesmente julgamos o outro localizando o seu defeito e ponto final.

Por que esse caminho é mais utilizado? Fazer essa avaliação exige que verifiquemos como está a relação, como foi construída, como está o conhecimento sobre o outro que se dá na convivência e isso implica em avaliarmos a nós mesmos também. Podemos faltar por não querer ver como somos e como os outros são e daí levar essas condições em consideração para nos posicionarmos. Ou, lidamos conosco e com os outros como se fosse uma questão de tempo de convivência para conhecermos tudo sobre ambos. Buscamos uma permanência no ser humano que não é real pois não somos como cadeiras.

Lembrando que o homem é um ser aberto de possibilidades exatamente no quesito existência ele é o ser mais desconfiável e duvidoso sob esse ponto de vista de contar com uma permanência de atitude, de modo-de-ser, ainda que possamos identificar os hábitos e características das pessoas. É comum dizer que sabemos como agiríamos em tal situação, e por vezes agimos, mas sempre existe a possibilidade de uma reação diversa porque somos seres permeáveis pelas diversas contingências e, especialmente, pela condição de sermos abertos para ser o que vier. Isso que parece ser um fator de alta insegurança e fragilidade para a relação humana, essa abertura é a maior riqueza que o homem tem porque confere a possibilidade real de mudança. Então, assim como as surpresas desagradáveis desse aspecto virão, podemos ter esperança na capacidade do ser humano estar diferente positivamente. Vale dizer que o que importa é não fixar definitivamente padrões de comportamento para si e para o outro.

Quando encaramos dessa forma torna-se possível construir relações mais coerentes, claras e com menos sofrimento para ambos, inclusive na relação consigo mesmo!






Psicóloga com Mestrado em Psicologia Clínica pela UFRJ e Formação em Psicoterapia Fenomenológico-Existencial. Consteladora Familiar. Dedica-se aos atendimentos clínicos individuais de crianças, adolescentes e adultos desde 1998, realiza atividades em grupo como oficinas vivenciais sobre temas da existência, tendo trabalhado como co-terapeuta de grupo inclusive.