Desprendimento, desapego, não é se prender a algo ou alguém, pois todos nós desejamos ser livres, ansiamos sempre e lutamos para preservar nossa liberdade. Podemos ver os próprios animais quando aprisionados, sentem-se muito mal, perdem o brilho do olhar e muitas vezes, assim como os pássaros, cantam o dia todo ansiando poderem voar novamente pelo mundo. Todo o ser vivo quer e precisa ser livre, do contrário não existe vida com sentido, tudo torna-se mecânico, aprisionador, destruidor.
A liberdade é a aspiração máxima de todos os homens e também de todas as nações da Terra. Amada e desejada por aqueles que não a possuem e muitas vezes desprezada pelos que já a fruem sem darem-se conta da responsabilidade que carregam. Desejo e aspiração por liberdade é uma coisa, já a liberdade real é outra, pois todos possuímos nossos condicionamentos, firmamos convicções limitadoras, vamos criando correntes e prisões mentais que tolhem a nossa ânsia por sermos e estarmos livres.
O homem contemporâneo precisa acordar com urgência para a necessidade de mudar convicções, libertar-se dos apegos e das prisões mentais que ele próprio criou, enquanto esta meta não começar a no mínio ser trilhada, estaremos sempre de mãos dadas com o sofrimento devido a nossa própria ignorância quanto ao sentido real do “estar e ser livres”.
Muitos profetas, sábios da humanidade, professores e gurus modernos, religiosos, grandes homens da ética e da cultura, sempre estiveram cercados de homens e mulheres, seus discípulos, mas nunca os privaram ou desejaram para eles mesmos a liberdades destes outros.
Eles precisavam seguir e viver a ideia, mas com total liberdade de ação e pensamento, e isto porque onde está o nosso foco, o nosso pensamento, estará aí o tesouro e o nosso coração, como afirmou o Cristo.
Desapego e desprendimento não se trata de dilapidar e jogar fora todos os nossos bens, tudo aquilo que conquistamos com muito trabalho, mente em ação e esforço da vontade, não, isto está longe de ser desapego e muito mais próximo encontra-se este homem do desrespeito e da irresponsabilidade das leis morais da vida.
Somos seres racionais, na sua imensa maioria, providos de raciocínio e senso crítico, desta forma precisamos entender as várias modalidades de desapego, como de pessoas que nos fazem mal, de objetos que não mais utilizamos, de fome de poder que nos traz angústia e depressão, de dinheiro acumulado sem propósito que faz a miséria de muitos e rouba a nossa paz, de ideias e convicções falsas que impossibilitam conquistarmos os nossos sonhos, de atitudes equivocadas provindas de uma educação deficitária que destrói todos os nossos relacionamento, e, principalmente, de emoções e sentimentos perturbadores que roubam nossa alegria de viver e fazem com que percamos o nosso sentido existencial, levando-nos muitas vezes as loucuras dos vícios e do suicídio indesculpável, tais como a mágoa, o ressentimento, o ódio e a incapacidade de perdoar os erros alheios.
Uma vez em um congresso eu escutei uma pessoa dando uma definição maravilhosa sobre o dinheiro, ela dizia: “O dinheiro é como o sangue, se estiver correndo, existe vida, no caso de ele parar é porque está nos matando.” Portanto, pode sim existirem pessoas muito ricas mas com um grande desprendimento e uma nobre atitude quanto ao mesmo, trabalhando para multiplica-lo em favor da sociedade, gerando trabalho, cultura, e progresso. Da mesmo forma vemos também pessoas pobres e totalmente usurárias, porque o egoísmo e o apego aos bens materiais, principalmente ao poder e ao dinheiro, nascem de dentro da alma para as coisas de que ela se utiliza de fora.
Desapegado é aquele que sabe doar, o melhor de si para os outros, é aquele que reparte o seu excesso com aquele que precisa, é aquele que perdoa, que ama e que sabe que todos nesta vida somos um grande conjunto e que dependemos, mais ou menos, todos uns dos outros, nossas ações repercutem não só no outro e na sociedade, mas no equilíbrio do próprio Universo. Desapegado é aquele que entrega algo de si sem perder um por cento que seja da sua paz de espírito e alegria de viver.
Dar, doar-se, também é ciência, pois quem não sabe dar estará sempre caminhando como devedor da vida. Desprendimento e desapego é sabedoria, virtude, ética, do sábio e do santo, do mestre e do discípulo.
Uma das formas mais devastadoras de apego da nossa sociedade atual, hedonista, materialista, sexista, é o apego da imagem, queremos mostrar uma imagem externa daquilo que não somos internamente, esquecendo de nossa própria essência, de nossa própria individualidade, pois somos únicos em todo o Universo, mas queremos ser iguais ao grande todo, perdidos em meio a uma multidão violenta, sofredora, depressiva e profundamente infeliz. Precisamos com urgência desapegar da imagem externa, do contrário estaremos transformando nosso coração e nossa emoção em um pântano de tristeza, depressão e morte.
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