COMPORTAMENTO

Vanessa da Mata, mãe adotiva de três crianças, fala sobre preconceito quanto à adoção

Vanessa da Mata, cantora brasileira, é mãe adotiva de três crianças. Recentemente a cantora fez um desabafo em sua página pessoal no Facebook. Ela fala de adoção e do preconceito que esse tema encontra no Brasil. É emocionante!

“A vida muda a cada momento! Quase seis anos atrás, depois de não desejar filho da barriga, resolvi exercer a adoção, desejada desde a infância! Mas isso não aconteceu assim, rapidamente! Eu estava pensando em morar fora, Nova York, Canadá, para aprimorar as “aulinhas de inglês”! Estava me separando e resolvendo seguir fase nova na vida. Aí em uma visita a um abrigo, levei brinquedos e cobertores, “saí com três crianças” hahahaha …

Não foi tão fácil assim! Os trâmites de adoção são dificílimos, os pais adotivos e as crianças sofrem com a burocracia e demora e as crianças que muitas vezes chegam bebês, crescem lá dentro, sendo preteridas na adoção por outras menores. Mas NY, como era abstrata e podia ser adiada, ficou pra depois, enquanto as crianças não tinham mais tempo para esperar nem perder. Era uma adoção tardia. “Adoçao tardia” é aquela que acontece com crianças já crescidas! Crianças que têm experiências difíceis, porém um desejo enorme por uma família. Com todas as dificuldades que tiveram e têm, sabem o que é não ter. Então eu, meu ex-marido, quase separados, nos jogamos e assumimos pais com força na responsabilidade que é educar direito os três filhos e com muito amor.

Acabo de ser “apertada, amassada” por um dos filhos: “Minha mamãe é muito fofa meu Deusss”! Isso sim, “não tem preço” oh cartão de crédito! ahaha tão lindo!

Infelizmente há crianças crescendo dentro dos abrigos, sem amor e sem cuidado necessário para pequenos seres que foram deixados por tantos motivos doloridos. Crianças nos “abrigos”, são muito negligenciadas! Claro que não são todos, mas sofrem muito! Em muitos “abrigos”, as crianças são torturadas, mas não podem ter amor! Os “ajudantes” são proibidos de se envolver afetivamente, para não ter apego, caso elas sejam devolvidas as suas famílias de origem ou adotadas! Ficam à mercê da televisão ligada o dia inteiro, funcionários brutos, sem preparo algum, duros, sem cursos preparatórios, tratamentos psicológicos, sem nem o mínimo que seria ter funcionários gostassem de crianças, sem uma mínima sensibilidade para com eles. Não podem exercer o afeto, mas o desafeto… É visível! Ainda bem que existem abrigos aonde há uma educação religiosa, não fundamentalista. Aquelas que ensinam o amor, amar a si e ao próximo, não o ego do ser o único a entrar no reino de Deus! O amor divino, acho que é um alicerce, dá estrutura, é uma companhia que não falha ao acessar e se conectar.

Ainda temos que melhorar tanta coisa neste mundo, que não há tempo para descansar e nem para negligenciar, ficar quieto diante de tantos fardos e dores implantadas pela ignorância e descaso!

Fiz o disco “Bicicletas, Bolos e Outras Alegrias”, quando eles chegaram ainda no início no período de feitura no estúdio. De repente eu tinha trigêmeos. Vieram com cinco anos, seis e oito e meio e muita expectativa, medo, cheios de curiosidade e disposição para amar! Chegaram coincidentemente, ou nem tanto assim, no Dia das Mães, vejam vocês!!! A farra da família grande e nova, inclusive com vários tios adotivos, minha avó teve vinte adotivos e sete da barriga ao longo da vida, primos novos chegando, a calçada na casa de Mato Grosso no interior, sendo montada pelas crianças todas da família em um grande mosaico!

A música “Meu Aniversário”, onde falo deles no final e dessa turminha da família, tudo se descobrindo como se o mundo não tivesse existido.

Eu chorava o tempo todo! Me descobri mãe e as histórias se formando e tudo se transformando na minha frente, me fizeram ver os meus pais, minha avó que foi um ser de luz, um anjo, e a minha vida mudava por inteiro. Em uma semana eles já sorriam! Em duas, me chamavam de “minha mamãe” com um orgulho que doía, em duas e meias eles dormiam como se nunca pudessem podido, em um ano, o mais velho lia. Cada conquista uma celebração! O amor é um milagre, digno de mudar tudo, e todos que queiram e se deixam. Eu, mais do que nunca, acredito nisso!

Enquanto nenhum filho dos outros queria beijar os pais na porta da escola, pois estavam crescidos, os nossos faziam muito gosto, matavam de inveja os outros pais que nos olhavam derretidos: “Que delícia a minha mamãe e o meu papai!!!”.

Meu ex-marido é um pai maravilhoso. Levava os filhos no pescoço pelas ruas, girava-os no ar, ensinava com paciência. Muito orgulho de ter escolhido uma pessoa de caráter, firme, bondoso, saudável, de costumes saudáveis,querendo tanto ser pai, para dar exemplo e educar os meus, porque isso é uma responsabilidade enorme, e acho que é a da mulher. Escolher o pai de uma criança não é brincadeira, pois o poder da escolha do pai, é dela, já que tem o poder da gravidez! E muitos mudam na chegada do filho, mas muitos também pioram, continuam no “Mundo de Bob”, o filho vira apenas um status para os outros, não educam, não brincam, não dão limites, não ensinam sobre o mundo e suas armadilhas, não conversam e só pensam neles! Mas também o homem tem a sua responsabilidade na escolha de sua família. Um mãe maravilhosa é o mínimo!

Vou confessar uma coisa: se eu fosse uma cantora do gênero sertanejo e ganhasse muito mais dinheiro para dar uma estrutura melhor, teria uns dez filhos de coração, estômago, pensamentos, de destino, de canções e arte de viver! “Criança é bom demais” como dizia a minha avó amada!

Tanta gente tendo filho de um transa, sem querer! Eu tive muito tempo desejando, com advogado, esperando, chorando e… sem transa! É muito amor”

Vanessa da Mata

Via Revista Pazes

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