SAÚDE MENTAL

Veja 6 situações nos relacionamentos consideradas machistas

Por Raquel Baldo

Em meu último artigo, falei sobre como algumas situações são sexistas em nosso dia a dia e expliquei por que elas representam um machismo. Infelizmente, esse tipo de diferença se reflete também nos relacionamentos. Veja algumas situações a seguir e entenda melhor:

Exigir e esperar que mulheres tem que ter um “corpo perfeito”

Esse pensamento é uma cultura machista, tanto o homem que exige, cobra, busca, comenta, enxerga e seleciona a mulher com base no corpo dela, pois nesta ideia a mulher não é vista ou entendida por quem ela é, ela não é um ser ou uma pessoa, mas somente um objeto, um pedaço de algo que serve para ser desejado e devorado, com intuito de atender os prazeres e fantasias dos homens.

O mesmo vale para as mulheres que pensam assim. Muitas acreditam que precisam ter um corpo “perfeito” (conforme cada conceito) para poder despertar olhares e interesses dos homens. Nisso, elas acabam abrindo mão de sua essência enquanto ser humano e de todos seus conteúdos internos de vida, que possuem muito valor. Essa mulher que pensa e faz isso consigo também é machista, pois não faz por si, mas para servir ao homem.

Vale ressaltar que isso não significa que uma mulher não possa querer se arrumar, ficar bonita e com o corpo que deseja. Existe uma linha bem clara que separa esses conceitos: se a mulher fizer isso para si mesma e por seu amor próprio, não é machismo, assim como um homem achar uma mulher muito bonita e atraente por seu corpo também não é machismo. O machismo acontece quando a mulher se torna apenas seu corpo e usa dele como oferta para que um homem a ame ou deseje e o mesmo para o homem que somente enxerga um corpo ou pedaço dele e avalia uma mulher apenas por este aspecto.

Fazer diferença entre “mulher para pegar” e “mulher para casar”

Classificar mulheres entre as categorias para pegar e para casar é sim um ato e pensamento machista e que carrega um enorme tabu. Ainda apoiado na arcaica ideia de que mulher no casamento deve seguir tal estereotipo, aquele de servir, cuidar e existir para garantir o marido e família, logo tem que ser uma mulher que não deve ou não pode expressar ou mesmo ter grandes desejos, tanto sexuais como de vida.

Isso porque a mulher que possui acesso e conhecimento ao seu próprio desejo e prazer tende a não entender ou mesmo não querer um casamento cujo objetivo é servir seu marido e seu lar. Pelo contrário, ela irá requerer seus direitos e mostrar que os deveres cabem ao casal igualmente.

São os homens que buscam mulheres para servi-los costumam classificar a mulher em “aquela que é para curtir” e “aquela que é para casar” e assim demonstram através de seus pensamentos e atitudes que enxergam a mulher como objeto ou brinquedo para seu prazer somente, tanto a que o diverte e lhe dá prazer quanto com aquela que lhe serve e cuida dele.

Muitas mulheres também costumam se colocar e se enxergar desta forma. Elas são ensinadas e preparadas desde meninas por seus pais e escolas sobre o que é ser uma boa menina: como deve se sentar, falar, vestir para que um dia um rapaz queira namorá-la e tomara que seja um bom rapaz! Elas não aprendem que são especiais, bonitas, divertidas e talentosas por quem são, por sua personalidade e particularidades. Pelo contrário, crescem tentando entrar e achar um padrão que lhe é dito desde cedo e por isso acabam tantas vezes optando por servir um homem, pois em seu inconsciente está gravado que para ser feliz um homem deve dizer que ela é boa ou a escolher.

Achar que só a mulher deve cuidar dos filhos e da casa

Vamos lembrar que até pouco tempo atrás as tarefas domésticas eram funções obrigatórias e necessariamente femininas. Uma mulher aprendia desde cedo esses afazeres e quanto melhor os desempenhasse, melhor seria perante a sociedade. Por um outro lado os homens nasciam e cresciam entendendo que estes tais afazeres domésticos não deveriam ser suas preocupações, pelo contrário, deveriam sair a “caça”: ganhar dinheiro, conviver social e politicamente. Logo não se preocupar em nada com o lar.

Ainda hoje, mesmo com as mulheres estando no mercado de trabalho tanto quanto os homens, é entendido que o homem que realiza alguma tarefa doméstica é um diferencial na sociedade. Isto porque, apesar da mulher trabalhar tanto quanto os homens e possuir a mesma responsabilidade no sustento da família, o tabu de que tarefas do lar e família é exclusividade feminina ainda se mantém.

Muitas mulheres inclusive são responsáveis por isso, pois argumentam que somente elas possuem o jeito e tato adequado para cuidar da casa e filhos, que os homens nada sabem. Muitos homens pensam assim também e não precisam se esforçar para aprimorar suas habilidades com tais tarefas, acreditam, aprenderam e possuem confirmação feminina, além da masculina, de que essas tarefas não são para eles.

Portanto quando as pessoas dizem ou acham que um homem é bom porque ajuda em algo na casa ou com os filhos, estão dizendo na verdade que aquela mulher deve ser agradecida por ter alguém que aceita fazer uma tarefa que é sua. Este conceito de “ajuda” parece algo bom, mas na verdade é um reforço de ideia de que as tarefas domésticas e familiares são exclusividades femininas e não do casal. Usar as palavras ajuda ou participa das tarefas é machista, porque diz em conjunto que é uma atividade da mulher e que ainda devemos agradecer e reconhecer aquele homem como um diferencial, enaltece-lo.

A palavra que talvez melhor signifique igualdade, seja a divisão. Sim divisão, homens e mulheres que dividem tarefas, habilidades e talentos, conforme as necessidades de suas vidas em conjunto, afinal é uma escolha de ambos os lados e logo o interesse no bom resultado também deve ser de ambos.

Falar que quando uma mulher sabe cozinhar, então já está pronta para casar

Esta frase que muitas vezes é usada com tom de brincadeira, inclusive entre mulheres, vem também da cultura histórica de que uma mulher tinha que ser preparada para poder casar um dia.

Assim podemos entender que esta frase, citada acima, é sim um machista e que resgata e mantém presente, ainda nos dias de hoje, o machismo ao redor. Usá-la, mesmo que em tom de brincadeira, é reforçar que a mulher de alguma forma tem seu valor reconhecido pela sua eficiência na cozinha e não por quem ela é, isto é, que um cara vai querer mais casar com ela, pela comida que sabe fazer, do que por quem ela é em si. É uma frase e ou brincadeira que desvaloriza o gênero feminino.

Homem insistir em pagar a conta, esperando sexo em troca

Talvez não aja uma única analise ou resposta neste caso. Se um homem sai com uma mulher e oferta certos cuidados com único objetivo de ter sexo, não significa necessariamente machismo, mas sim e também que ele gosta de sair para ter sexo com as pessoas e investe nessa satisfação para ele. A mulher que sai com esse homem porque também gosta de certos cuidados, mas está afim de ter sexo livre e casual, pode acabar se dando muito bem neste caso, pois ambos os lados tendem a ser atendidos e não precisam firmar relação alguma além do interesse sexual.

Agora quando um homem cobra o sexo da mulher que ele vem conquistando, por exemplo levando para jantar, dando a entender que ela deve isso a ele ou quando a mulher se obriga a fazer sexo com o homem que lhe dá presentes e a leva para jantar, aí sim, temos um contexto machista. Pois tanto o homem quanto a mulher resumem seus papeis a estereótipos masculino e feminino, reforçando qual o papel de cada um na relação. O homem de pagar e a mulher de lhe servir.

Essa é uma situação machista que é ruim não só paras mulheres, mas para os homens também, que se veem presos a conceitos e obrigatoriedades e são cobrados por mulheres inclusive que para conseguir sair ou ter alguma chance com elas é preciso pagar, investir, fazer cena. Tanto para o homem quanto para mulher, esta pode ser uma situação altamente desrespeitosa, pois ninguém enxerga a outra pessoa que há ali, mas somente o corpo ou dinheiro.

Cobrar mulheres por não estarem em um relacionamento ou não terem tido filhos ainda

O machismo aqui depende da situação. Apesar de muitas mudanças culturais e sociais em torno do assunto casamento e de não mais necessariamente ser preciso casar ou estar casado como obrigação social hoje em dia, estar com alguém (seja namorando ou casando) acaba sendo quase sempre uma cobrança tanto para homens quanto mulheres, principalmente da família e pessoas íntimas, que se preocupam em ver uma pessoa solteira. Esta preocupação carrega uma herança histórica de que para ser feliz era preciso cumprir com regras da vida e uma delas era estar casado e ter filhos.

Por conta de uma ideia social machista a mulher acaba ouvindo ou sendo cobrada mais que um homem, por estar solteira ou por não querer um filho (ainda ou nunca). É um conflito histórico instalado no período atual, pois apesar de toda liberdade de escolha alcançada, ainda somos cobradas nos moldes antigos: seja esposa e mãe, para cumprir com sua função feminina, mesmo sabendo ou aprendendo que hoje em dia as mulheres são mulheres antes de tudo e não precisam ser esposas e mãe para serem boas, felizes ou bem-sucedidas.

Imagem de capa: Shutterstock/Antonio Guillem

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