Desde 2013, uma fake news ganhou força nas redes sociais. A de que Messi tinha sido diagnosticado com um espectro do autismo. Até Christophe Dugarry, campeão do mundo com a França em 1998, difundiu, segundo publicado em matéira da Uol
‘Garoto meio autista de 1,5 m’, disse Christophe Dugarry na época
Messi jamais se declarou autista. Também nunca houve um familiar ou uma fonte minimamente próxima a ele que confirmasse esse diagnóstico. Mas, de onde saiu essa “informação”, que pode ser encontrada em milhares de sites, e como ganhou repercussão mundo afora?, questionou o Francisco Paiva Jr. em matéria para o site Canalautismo
Segundo o jornalista e editor do site supracitado, essa lenda urbana nasceu em 27 de agosto de 2013, quando o escritor e jornalista Roberto Amado (sobrinho de Jorge Amado) publicou em seu site, à época, o “Poucas Palavras“, um longo texto dizendo que o craque Lionel Messi “foi diagnosticado aos 8 anos de idade, ainda na Argentina, com a síndrome de Asperger”.
Amado enumerou diversas características que “provariam” que Messi é autista, como a timidez com a imprensa e a peculiaridade de sempre dar dribles e chutar a gol da mesma maneira, o que seriam indícios de padrões repetidos, típicos de um “portador da síndrome” (sim, ele ainda usou o termo “portador”!).
No mesmo texto — intitulado “Como o autismo de Messi ajudou-o a ser gênio” —, Roberto Amado destaca o famoso filme “Rain Man”, de 1988, com Tom Cruise e Dustin Hoffman, o que deixa o artigo mais atraente, e acaba por misturar pontos totalmente diferentes do espectro do autismo, comparando síndrome de savant com asperger. Uma confusão só!
Após esse diagnóstico à distância do brasileiro, a história (como toda boa fake news), depois de publicada na internet, se alastrou e ganhou o planeta, completa Francisco Paiva Jr.
Ainda segundo Francisco Paiva Jr., poucos dias depois, em 8 de setembro de 2013, o ex-jogador Romário entrou na polêmica. Ele publicou na rede social Twitter: “Vocês sabiam que o Messi tem Síndrome de Asperger? É uma forma leve de autismo, que deu a ele o dom do foco e concentração acima de tudo e de todos. Newton e Einstein também tinham níveis de autismo. Espero que, como eles, Messi se supere a cada dia e continue nos apresentando esse belo futebol”. Em seguida, postou o link do artigo de Roberto Amado. Isso foi parar na mídia internacional e chegou a Jorge Messi, pai do craque, que disse que processaria o brasileiro. Romário, novamente via Twitter, respondeu: “Sites da Espanha divulgaram que eu havia dito que Messi tem um transtorno mental e estão fazendo sensacionalismo em cima do assunto. Divulguei uma informação que veículos no Brasil têm abordado. Até uma TV abordou o assunto. Então fica aqui a informação: de acordo com o pai do Messi, ele não tem autismo. Não sou médico para confrontar a informação. Ah, ele disse que vai me processar por isso. Pode processar à vontade”, escreveu Romário.
Embora nenhuma biografia sustente as afirmativas de que Messi seria autista, em 2015, no jornal Extra, o sobrinho de Jorge Amado reafirmou a história e ainda desafiou: “Conversei com pessoas envolvidas com o assunto e ninguém sequer contestou o contrário. Se eu cometi uma imprudência é problema meu. Não preciso provar nada para ninguém. Se ele quiser me processar, que vá provar na Justiça. Há dois anos que falo isso porque eu conheço o olhar e pessoas envolvidas nessa questão. Não é demérito nenhum ter autismo. É só uma curiosidade mesmo (sic)”, argumentou.
Autismo é como se denomina o conjunto de condições e funcionamentos mentais e psíquicos que apresentam determinadas características. Estima-se, a partir de dados da Center of Diseases Control and Prevention, dos Estados Unidos, que no Brasil haja cerca de dois milhões de pessoas com autismo. De acordo com o instituto, há uma média de 1 caso a cada 110 pessoas nos EUA – transportando a média de lá para a população daqui, chega-se ao número estimado. O que se sabe, de forma mais precisa, é que só no estado de São Paulo há mais de 300 mil casos registrados.
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Créditos: Canalautismo, em matéria de Francisco Paiva Jr. (recomendo a leitura da matéria completa lá no Canalautismo) Revista Forum e Uol
Imagem de capa: reprodução
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