A violência no cotidiano

Quando falamos sobre violência, logo nos vem à mente imagens de filmes com muita pancadaria e tiros, ou brigas no trânsito, ou até mesmo cenas dos noticiários criminais. Todas lembranças aparentemente distantes do nosso dia a dia pessoal, da nossa família, do nosso trabalho. Mas será que a violência está tão distante de nós assim? Será que a violência só atinge “os outros”?

Chamamos de violência a ação de um agente sobre uma VÍTIMA. Essa ação caracteriza-se por ser uma violação da privacidade da vítima, que, por não ter poder para evitar o que esta ação desencadeou, arcará com os resultados do que foi produzido (sofrimento físico ou psicológico). Assim, violência significa sofrer uma ação de outrem que nos produz sofrimento, nos atinge sem nosso consentimento, cuja possibilidade de reação está completamente fora de nosso controle.

Para facilitar o entendimento da temática, dividimos a violência (que não é sinônimo de agressividade) em 4 categorias:

ARBITRARIEDADE

 

É o caso de quando uma criança, um adulto ou um idoso sofrem violências que acontecem de forma imprevisível, isto é, sem qualquer relação com determinada lei (e aí não há como evitar). Por exemplo, impor um castigo ao seu filho sem que ele tenha sido informado antes da regra (“se você fizer isso você, vai de castigo”), configura um gesto de arbitrariedade e de violência, que produz inevitavelmente reações de defesa na criança, tal como comportamento delinquente, ou pior, muita ansiedade.

Assim, o que acontece com um lutador de MMA ao entrar no octógono para disputar uma luta não é uma violência para com ele: trata-se de uma escolha pessoal, uma vez que ele tem como se defender do oponente, pois os golpes se dão dentro de um conjunto de regras (uma lei). No entanto, expor uma criança a esse espetáculo pode ser uma violência psicológica contra esta criança, já que ela estará exposta a cenas de extrema gravidade que ainda não tem condições de relativizar (como o adulto).

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

 

São situações de violência praticadas no interior de uma família. De modo geral, são mais evidentes as que envolvem agressões físicas – do marido contra a esposa, das mães contra os filhos, dos filhos contra os pais. O melhor a se fazer nesses casos é a prevenção:

  • Evitar discussões quando algum dos membros estiver embriagado (ou intoxicado por alguma outra droga);
  • Evitar ao máximo castigos corporais para com as crianças, pois castigos assim tendem a produzir na criança a noção de que não há limite do que uma pessoa pode fazer com outra, desde que seja mais forte. É o que em nossa cultura se conhece como “o que pode mais chora menos”, e, infelizmente um pensamento estruturante na maneira como muitos brasileiros relacionam-se socialmente.

ASSÉDIO MORAL

A violência, quando presente no ambiente do trabalho, configura o ASSÉDIO MORAL. Um exemplo bastante corriqueiro é o de expor um funcionário a situações de constrangimento público ou a intimidações (“se você não fizer isso, então eu te mando embora”). Essa forma de violência, além de ser passível de penalidade judicial, invariavelmente produz um clima de medo e insegurança nas equipes de trabalho. Na época das primeiras grandes indústrias, a partir da revolução industrial acreditava-se que essas violências aumentavam a obediência do funcionário e, portanto, a produção. Hoje sabe-se que essa estratégia produz o efeito contrário: gera ações de boicote entre as equipes de trabalho e falta de cooperação, DIMINUINDO, assim, a criatividade e a efetividade do trabalho.

VIOLÊNCIA SEXUAL

Por último, mas não menos importante, está a VIOLÊNCIA SEXUAL, que ocorre quando alguém é forçado (ou seja, sem ser de sua escolha) a submeter-se a determinada ação que visa produzir prazer sexual no agressor. Ao contrário do que se pensa, essa situação acontece inúmeras vezes dentro de famílias, e não na rua – são os casos de abuso de crianças ou relações sexuais forçadas entre os adultos.

Como identificar essas situações? Há como preveni-las? Se você estiver interessado em continuar essa conversa, deixe um comentário com a sua sugestão.

Sugestões de temas, dúvidas sobre algum conceito de nossos artigos? Participe da nossa nova coluna “Pergunte ao Psiquiatra”! Envie um e-mail para: [email protected], que nosso colunista Dr. Maurício Silveira Garrote terá o prazer de respondê-lo!






Médico especialista em Psiquiatria Clínica pelo HC FMUSP (1985) e Mestre em psicologia clínica pela PUC-SP, com a tese "De Pompéia aos Sertões de Rosa: um percurso ao longo da Clínica Psicanalítica de pacientes com diagnóstico de Esquizofrenia" (1999).