Nossa sociedade é baseada em valores católicos e patriarcais, está se tornando cada vez mais consciente da importância de apresentar um mundo livre de violência, a prova disso é a Lei da Palmada, aprovada esse ano que proíbe quaisquer castigos físicos em crianças.
Mesmo com a aprovação dessa lei, sabemos que as pessoas ainda tem muito o que mudar pra acabar com essa violência. Observamos em Martins e Jorge (2010), Justino et al (2011) e Gawryszewski et al (2012) o mesmo dado: a violência sexual acontece na maior parte em meninas entre 10 e 14 anos, os agressores são na maioria do sexo masculino, a maior parte da violência sexual ocorre na casa da vítima, e cometidos por pais, padrastos, vizinhos, ou alguém muito próximo à vítima. Os estudos foram realizados a partir de denúncias ao Conselho Tutelar, respectivamente em Londrina-PR, Campo Grande-MS e estado de São Paulo.
Segundo Gawryszewski et al (2012), os resultados demonstram como a violência ainda está arraigada na família brasileira pois, o local de maior ocorrência foi a própria residência da criança. Os resultados obtidos nos estudos certamente são subestimados em relação à realidade, como aponta Martins e Jorge (2010).
Os estudos baseiam-se apenas em casos notificados, Justino et al (2011) aponta que o silêncio é a característica da violência sexual doméstica, o agressor utiliza ameaças para evitar a revelação do abuso, os parentes não agressores costumam fechar os olhos, para que não abale ainda mais a estrutura familiar.
Com todo esse quadro patológico as crianças e adolescentes são as maiores vítimas da manutenção do sistema moral atual, onde as pessoas tem vergonha de expor um agressor na família mas, não se importam em ver seus filhos, enteados, sobrinhos e primos serem abusados constantemente.
As consequências desse abuso são desastrosas, Martins e Jorge (2010) dizem: “A maioria das vítimas de abuso sexual apresentou sequelas (97,8%), sendo que a mais comum foi a física (92,9%) acompanhada pela sequela psicológica.” Enquanto as crianças e adolescentes ficam com as sequelas da violência, os muitos abusadores que não foram revelados pela família continuam sem punição alguma.
O atendimento das vítimas e das famílias deve ser feita de forma acolhedora e respeitosa, utilizando uma ampla rede de apoio que deve oferecer o tratamento terapêutico adequado.
Referências bibliográficas:
Martins, Christine Baccarat de Godoy, & Jorge, Maria Helena Prado de Mello. (2010). Abuso sexual na infância e adolescência: perfil das vítimas e agressores em município do sul do Brasil. Texto & Contexto – Enfermagem, 19(2), 246-255.
Justino, Lucyana Conceição Lemes; Ferreira, Sandra Regina Paulino; Nunes, Cristina Brandt; Barbosa, Maria Angélica Marcheti; Gerk, Maria Auxiliadora de Souza & Freitas, Sandra Luzinete Félix de. (2011). Violência sexual contra adolescentes: notificações nos conselhos tutelares, Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Brasil. Revista Gaúcha de Enfermagem, 32(4), 781-787.
Gawryszewski, Vilma Pinheiro et al. Maus-tratos contra a criança e o adolescente no Estado de São Paulo, 2009. Rev. Assoc. Med. Bras., São Paulo, v. 58, n. 6, dez. 2012.
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