SAÚDE MENTAL

Viver para agradar os outros pode gerar fortes dores no corpo

Você é uma daquelas pessoas a quem todo mundo vem pedir ajuda? Você diz sim com um sorriso quando na realidade você gostaria de dizer não?

Agradar aos outros é uma parte valiosa da vida, e a maioria das tradições espirituais nos ensinam a importância de cuidar e amar nosso próximo. No entanto, quando o fazemos buscando aprovação exagerada ou por medo de não ser amado, esse comportamento se torna um ciclo doentio que nos desconecta de nós mesmos.

Este ciclo é composto de um profundo sentimento de não ser digno de amor, de constantes tentativas de ser ou fazer o que acreditamos que os outros querem de nós, de uma grande preocupação de viver de acordo com essas supostas expectativas e a renúncia do próprio bem-estar.

As pessoas que vivem para agradar os outros deixam de lado sua própria personalidade e se tornam personagens, porque passam o dia fazendo coisas que não querem e perdem completamente o contato com sua identidade e seus verdadeiros desejos. Segundo o psicoterapeuta norte-americano Micki Fine, entre as situações que predispõem a uma vida de busca de aprovação dos outros estão certas experiências relacionadas à infância, como:

1. Receber amor condicional

Isto é, quando as pessoas de referência de uma criança lhe dão amor de acordo com o fato dela preencher certas expectativas, e privá-la quando não estiver de acordo com certos padrões.

2. Não ser valorizado pelo que somos

Neste caso, os pais vêem em seu filho uma extensão de si mesmos e tentam moldá-lo impondo seus próprios desejos, sem respeitar a personalidade e os desejos genuínos da criança, de modo que ela chega à conclusão de que sua pessoa não importa.

3. Não ter voz ou voto

Neste caso, os adultos de referência sempre tomam decisões pela criança. Se as crianças não são encorajadas a explorar e aprender com suas próprias experiências ou seus pensamentos, opiniões ou desejos não são valorizados, elas não aprenderão a encontrar seu próprio lugar no mundo e, ao contrário, sempre buscarão orientação de fora para saber o que fazer.

4. Maus tratos e negligência

O comportamento de complacência provavelmente será mais pronunciado entre aqueles que sofreram negligência ou abuso, uma vez que as crianças abusadas geralmente estão dispostas a fazer o que for necessário para permanecer afetiva com o abusador e evitar novos maus-tratos. Assim, internalizam que o mundo funciona dessa maneira.

Mindfulness

No entanto, de acordo com esse psicoterapeuta, autor do livro A necessidade de agradar, há uma saída para a busca constante pela aprovação dos outros: a atenção plena. Essa ferramenta, ele explica, é uma jornada “rumo ao desapego do medo, à abertura ao amor, à cura da ferida que produz a busca pela aprovação dos outros, ao aumento do respeito por si mesmo, à criação de um equilíbrio nos relacionamentos e a libertação para escolher o seu próprio caminho na vida “. A minúcia, segundo Micki Fine, pode nos ajudar a aceitar a vida como ela é, a ter a liberdade de dizer “não” quando necessário, a enfrentar conflitos com nossos entes queridos e a resolvê-los em paz, no lugar de se sentir em culpa com eles.

Como começar?

A maneira mais simples, segundo os especialistas, é retornar ao corpo. As pessoas que vivem para agradar aos outros tendem a sentir alguma dormência ou distanciamento de suas sensações físicas, o que acontece justamente por causa do desejo lógico de se desconectar da dor de não se sentir digno de ser amado. No entanto, como o corpo é a nossa casa e o lugar onde sentimos amor, Fine explica: “Ser insensível ao corpo nos separa do amor. Portanto, reconectar com ele é essencial para viver no momento presente e se curar “.

Imagine que estamos preocupados em não saber agradar a alguém, ou que nos sentimos em conflito, porque no fundo não queremos fazê-lo. Talvez o corpo fique tenso, dê um nó no estômago ou nossos ombros se contraiam. Mas se normalmente nos sentimos desligados de nossas sensações físicas, podemos não percebê-los, ignorá-los ou tentar afugentá-los, perdendo assim uma mensagem que nos convida a cuidarmos de nós mesmos. Pode ser difícil, a princípio, permitir essas sensações novamente, mas com a prática podemos alcançar isso e tirar proveito dessa sabedoria.

Uma maneira simples de começar a fazer isso pode ser: quando você está em um momento delicado de busca de aprovação, talvez sendo excessivamente amigável com alguém ou dizendo “sinto muito” quando um pedido de desculpas não é necessário, pare e observe seu corpo . Nomeie para si mesmo as sensações que você percebe, por exemplo: formigamento, tensão, dor … “Nomear as sensações fornece um espaço no qual você pode tentar liberar resistências e ter uma idéia mais clara do que está acontecendo”, explica Micki Fine.

Outra prática útil é perceber seu nível de energia. A próxima vez que você estiver em uma situação em que você pode estar carregando mais do que consegue, por exemplo, veja o que acontece com seu corpo. Você percebe mudanças no seu nível de energia? Existem outras sensações físicas associadas à sobrecarga? Os especialistas também recomendam que nos demoremos durante o dia. Podemos fazer alguns alongamentos suaves, dar um passeio, fechar os olhos para respirar conscientemente ou sentar em silêncio e tomar um chá. Vamos tentar observar então quais sensações aparecem em nosso corpo quando nos permitimos esse parêntese do autocuidado.

Para esse psicólogo especialista em mindfulness, livrar-se da busca crônica pela aprovação dos outros não significa deixar de desejar agradar ou nunca fazê-lo. Não se trata de adotar atitudes egoístas ou indiferentes, mas de nos importar profundamente com aqueles que nos rodeiam e com o bem-estar deles, pelo amor e não pelo medo. Desta forma, nossa identidade e nossa sobrevivência não residirão exclusivamente no cuidado dos outros. “Ao se livrar da busca crônica por aprovação você pode amar mais livremente, você vai parar de se preocupar tanto com o que os outros pensam de você, você vai se envolver mais em sua própria vida e em seus valores para entender o que dá sentido e alegria e se tornará seu próprio aliado.”

TEXTO TRADUZIDO E ADAPTADO DE CLARÍN

REDAÇÃO PSICOLOGIAS DO BRASIL

Os assuntos mais importantes da área- e que estão em destaque no mundo- são a base do conteúdo desenvolvido especialmente para nossos leitores.

Recent Posts

Veja esta série na Netflix e ela não sairá mais da sua mente

Esta série que acumula mais de 30 indicações em premiações como Emmy e Globo de…

2 dias ago

Filme premiado em Cannes que fez público deixar as salas de cinema aos prantos estreia na Netflix

Vencedor do Grande Prêmio na Semana da Crítica do Festival de Cannes 2024 e um…

2 dias ago

Série ousada e provocante da Netflix vai te viciar um pouco mais a cada episódio

É impossível resistir aos encantos dessa série quentíssima que não pára de atrair novos espectadores…

3 dias ago

Influenciadora com doença rara que se tornou símbolo de resistência falece aos 19 anos

A influenciadora digital Beandri Booysen, conhecida por sua coragem e dedicação à conscientização sobre a…

3 dias ago

Tatá precisou de auxílio médico e passou noites sem dormir após acusação de assédio, diz colunista

"Ela ficou apavorada e disse que a dor de ser acusada injustamente é algo inimaginável",…

4 dias ago

Suspense psicológico fenomenal que acaba de estrear na Netflix vai “explodir sua mente”

Será que você é capaz de montar o complexo quebra-cabeça psicológico deste filme?

4 dias ago