Você que está aí lendo! Eu sei que existe uma grande possibilidade de você não passar do primeiro parágrafo caso as palavras deste artigo não sejam decodificadas pelo lobo temporal esquerdo do seu cérebro, de maneira a produzir impulsos elétricos que ativam as regiões neurológicas responsáveis por suas lembranças e emoções… Em outros termos, menos técnicos, minhas palavras só lhe alcançarão caso você se transporte para o centro da ideia que eu abordar aqui, e nela se encontre como o protagonista, se identifique como o protagonista desta história…
Você é um animal gregário, eu sou um animal gregário. O homem é próprio das multidões, estruturado historicamente com a tendência de abandonar algumas de suas características individuais para, mesmo que momentaneamente, ser rebanhado, se juntar ao todo e se agregar aos seus semelhantes, buscando a sobrevivência da espécie. A história e a cultura nos conduz ao inconsciente coletivo de pertencer, fazer parte do grupo, se locomover, se comportar, se posicionar igual aos demais da espécie para, juntos, prosperamos… mas…
Sempre existe o ‘ mas ‘ pois é justamente o ‘ mas ‘ que nos torna indefectíveis diante da previsibilidade dos outros seres vivos, pois apenas o humano, em incontáveis circunstâncias as quais deveria seguir os instintos, o rebanho e as regras grupais, destoa enfurecidamente para sair dos padrões usuais e se destacar diante da multidão.
Quem, em uma peça de teatro, já não ficou tentando adivinhar o que se passa do lado de trás das cortinas, antes e depois do espetáculo? Quem, em um espetáculo musical, ficou se imaginando estar com o ídolo no camarim, comendo o que ele come, vendo o que ele vê, vivendo o que ele vive antes da apresentação?
Durante minha adolescência, por um tempo integrei uma equipe que organizava entretenimentos em uma cidade do interior de São Paulo. Minha participação era subalterna, com expressividade minoritária, e o escasso dinheiro que eu ganhava não me importava nenhum pouco. O máximo era ver a multidão chegar, e pagar para participar de um evento no qual eu fazia parte da comissão organizadora. Eu podia transitar por lugares restritos, os quais para frequentadores pagantes eram vetados. Me via ocupando uma posição de destaque, a qual os bastidores me era permitido e ficava a imaginar quantas pessoas gostariam de saber o que se passava ali, e que essa realidade não as alcançavam, e só poderia estar no imaginário delas, enquanto que para mim era condição concreta.
O pequeno exemplo pessoal serve para ilustrar que, a identificação com o protagonismo é uma ferramenta essencial, que possibilita o ser humano caminhar ao encontro da satisfação de sua necessidade básica de autorrealização. Acredito muito que a vida se torna insustentável se nós vivêssemos apenas à margem dos acontecimentos que movem o nosso envolvimento com as experiências vividas socialmente. E olha que essas experiências sociais não necessariamente precisam se tratar de uma comissão organizadora, um destaque esportivo, ou manifestações artísticas…
A necessidade de protagonizar urge nos pequenos acontecimentos cotidianos, ela nasce na relação do indivíduo com o seu trabalho, dentro do seu casamento, no cumprimento dos papéis familiares, no posicionamento diante dos desafios e dificuldades da vida… A todo momento temos a urgente necessidade de reinarmos soberanos nos bastidores da nossa própria história, de sermos a estrela que brilha incandescente no palco da nossa própria vida, pois isso nos rende a deliciosa sensação de sermos agentes modificadores do ambiente em que vivemos.
E neste momento, convido-vos a uma reflexão:
Se é primordial em nossas vidas a sensação sentirmo-nos protagonistas da nossa própria história, para que nos enxerguemos autorrealizados, como entendemos quando alguém entra no camarim da nossa vida, e deturpa esse momento?
Pois bem, todas as vezes que ousamos caminhar nos bastidores dos sentimentos alheios, é preciso muito cuidado. É preciso se movimentar no campo das emoções alheias de maneira a não tirar nada do lugar, nem acender e nem apagar qualquer luz, não tropeçar, não quebrar qualquer convicção ou qualquer sonho, caso contrário, a invasão se torna ameaçadora de todo e qualquer crescimento pessoal do Outro. Não podemos nos esquecer que nos bastidores alheios, somos meros coadjuvantes, porque se não for assim, seria como que, hipoteticamente em uma peça de teatro, no momento ápice da apresentação em que o artista protagonista fosse eternizar o ato com sua performance, um anônimo invadisse o palco e, criminosamente, arrebentasse com o espetáculo…
Nossas experiências acumuladas daquilo que vivemos não suporta a triste realidade de compreender outro protagonista recebendo os aplausos no palco da nossa própria história, e nem temos o direito de tolher os direitos autorais e o sabor do sucesso da trajetória alheia!
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