Reflexões

Você conhece a belíssima fábula do “Mundo das Velas”?

Era uma vez um mundo onde viviam muitas velas… Mas quase todas estavam apagadas.

Nesse mundo prevalecia a escuridão… Era um mundo sombrio, onde tudo era incerto, apagado, frio, onde prevalecia a cegueira, a confusão e os conflitos.

A maioria das velas desse mundo estava apagada. Por esse motivo, a escuridão as impedia de enxergar as coisas. As velas acesas existiam, mas eram em número muito reduzido.

Cada vez que uma vela acesa aparecia, ela era disputada por todas as outras, muitas vezes com agressões, desentendimentos, ofensas e caos.

Havia velas de todos os tipos, tamanhos e cores. As velas apagadas desse mundo adoravam expor seus pavios e o brilho de sua cera. Eram vidradas na beleza da cera uma da outra; gostavam de admirar as formas do pavio e a textura da cera. O pavio quase sempre era adornado, pintado e embelezado. A cera era conservada a todo custo. Quanto mais bela a cera, mais valorizada socialmente era a vela e mais admirada ela se tornava.

Certo dia, as velas acesas foram embora dali e o mundo das velas ficou ainda mais escuro e confuso. Uma das velas resolveu então que deveria sair em busca das velas acesas. A luz era uma necessidade para todas, pois sem luz no mundo o resultado não seria outro senão mais confusão, mais conflitos e mais cegueira. Essa vela foi chamada de “vela aventureira”.

Depois de muito caminhar, a vela aventureira conseguiu chegar ao desfiladeiro das velas acesas. Encontrou-se com as outras velas e perguntou como ela poderia levar a luz ao mundo das velas apagadas. Uma das velas acesas disse: “Você precisa acender a chama de seu pavio e deixar que ele seja consumido”. A vela aventureira ficou transtornada com essa informação, pois o pavio representava beleza, status, conhecimento, etc. De certa forma, todas as velas eram apegadas ao seu pavio e a cera de seus corpos, por isso, deixar que tudo isso se tornasse chamas era algo quase impensável para ela. “Essa é a única forma de você se transformar em luz” – disse uma das velas acesas – “Você precisa deixar que a chama vá consumindo seu pavio até atingir a cera, que vai derretendo aos poucos”.

A vela aventureira decidiu então que aceitaria renunciar a tudo para poder se transformar em luz. Nesse momento, uma das velas inclinou-se sobre ela e colocou sua chama em contato com o pavio. A vela aventureira sentiu uma dor imensa, pois a chama começou a consumir seu pavio e foi aos poucos a derretendo sua cera. A dor era física, mas muito mais emocional e psicológica. Ao mesmo tempo em que sentia uma dor lancinante, ela olhou a sua volta, e percebeu que podia ver tudo… Para sua surpresa, ela podia agora enxergar o mundo e cada coisa tal como era. A escuridão foi dissipada e agora ela via a verdade de cada coisa.

A vela aventureira agradeceu a vela acesa que havia lhe transmitido à chama e voltou para o mundo das velas apagadas, contando tudo o que havia acontecido consigo. Contou ainda sua descoberta sobre a chama e todas as instruções que lhe foram transmitidas. Explicou que, para que todas elas pudessem ter sua própria chama, era imprescindível abrir mão do seu pavio e deixar sua cera derreter. Uma das velas disse: “Você está louco? Jamais vou abrir mão do meu pavio. É ele quem me garante a sobrevivência aqui”. Outra vela bravejou “Despojar-me da minha cera? Nem pensar… ela tem belas formas”. Outra ainda reagiu “Nada disso é verdade. Se queimarmos nossa vela, deixamos de ser quem somos. Além disso, me dá medo essa mudança”.

Depois de tanto insistir, pouquíssimas foram as velas apagadas que abdicaram de seu pavio e cera para permitir que a chama brilhasse nelas. O mundo das velas apagadas continuou na escuridão e no caos, pois quase nenhuma delas aceitou desfazer-se de seu apego ao pavio e a cera.

Enquanto isso, a vela aventureira, que foi buscar a luz entre as velas acesas, vivia agora em permanente claridade. Ela descobriu que, apesar de existirem velas de diferentes tipos, cores e formas, a chama que brilhava nelas era sempre a mesma. Agora ela não esbarrava mais em nada, enxergava tudo plenamente e estava liberta da confusão e dos conflitos. Com sua chama acesa, ela vivia em paz…

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Imagem de capa: India Picture/shutterstock

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