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“Você é louca!”

Quantas vezes, ao tentar reagir à violência psicológica perpetrada por um parceiro abusivo, você ouviu a frase: “Você é louca, está inventando coisas e precisa de tratamento psiquiátrico”? Quantas vezes ouviu isso a respeito de outros alvos de violência psicológica?

Creio que muitas, já que o típico perverso narcisista faz você parecer, de fato, louca. Se você o confronta sobre algo que fez, ele diz que você “tem uma imaginação fértil”. Aliás, esta é uma frase usada comumente por abusadores de todos os tipos para invalidar o depoimento das vítimas.

Com frequência dirá que você não sabe o que diz, ou que ele não tem ideia do que você está falando. Quando confrontado, vai alegar que não se lembra nem dos fatos mais marcantes, simplesmente negando que tenham sequer acontecido, nem mesmo admitindo a possibilidade de ter esquecido.

Esse comportamento trata-se de uma tática extremamente agressiva e especialmente revoltante chamada “gaslighting”, comum a abusadores de todos os tipos. Sua percepção da realidade é constantemente posta em cheque até que você perca toda a segurança em sua intuição, sua memória ou seu poder de argumentação. Isso a torna uma vítima ainda mais fácil para o abusador.

Perversos narcisistas praticam o “gaslighting” de forma rotineira. Ele insinua ou diz diretamente que você é instável, que suas crenças são ridículas e que você é pouco cooperativa.

Sim, você é hipersensível e está imaginando coisas. Você é histérica e completamente irracional. Você está exagerando, “como sempre faz”. Em seguida, pune com silêncio passivo-agressivo, avisando que só voltará a falar com você quando você tiver se acalmado e não estiver “tão irracional”.

Com a maior normalidade, vai caracterizá-la como alguém que tem problema psiquiátricos, que precisa de tratamento. Infelizmente, na maioria das vezes, vai ter êxito em levá-la a buscar ajuda psiquiátrica, vez que a sucessão de técnicas de manipulação e confusão mental utilizado num ritmo cruel, de fato leva seus alvos a exaustão mental.

Depois que o perverso narcisista tiver construído essas fantasias sobre suas patologias emocionais, ele contará aos outros sobre elas, como sempre, apresentando-se preocupado e declarando-se uma vítima da situação insuportável que VOCÊ criou.

As falas variam:

“Você tem problemas mentais”, “é promíscua” (mesmo sem jamais ter traído), “alcoólatra” (mesmo sem por uma gota de álcool na boca), “faz stalking” (mesmo sendo ele a perseguir) e que “só não faz algo contra isso porque não quer prejudicá-la”, pois “gosta, ama ou tem consideração por você”. E ele sofre.

“Sua insanidade e instabilidade” faz da vida do narcisista um tormento e por isso, todas as suas traições, os seus abusos verbais, psicológicos e físicos são justificáveis. Ele tem crédito com você. Você causou tudo isso.

Confrontado, fará a inversão dos fatos e responsabilidades. Não, ele não fez nada. Ele não tem ideia do porquê você estar tão irracionalmente furiosa ou machucada, afinal foi VOCÊ que o magoou terrivelmente. Ele acha que você realmente precisa de tratamento. Ele gosta muito de você e faria qualquer coisa para te ver feliz, mas não sabe o quê, porque você sempre o afasta quando ele tenta ajudar. Às vezes, é ele quem se afasta apenas “para preservar você”.

Assim, o perverso narcisista mata dois coelhos numa cajadada só, ao, simultaneamente, se eximir de qualquer responsabilidade por sua óbvia antipatia, falta de colaboração, descontrole ou desequilíbrio emocional e deixa implícito que há algo fundamentalmente errado com você e por isso está tão furiosa com ele.

Sua “expertise” é minar a credibilidade de seu alvo junto aos outros, pois representa o papel do parceiro/genitor/irmão/amigo abnegado tão perfeitamente que ninguém vai acreditar em você, até porque, muitas vezes você terá, de fato, atingido um grau importante de descontrole emocional.

O problema é que ninguém sabe ou compreende como você chegou a esse ponto e por mais que tente, conseguirá explicar a poucos que na maioria das vezes tiverem um experiência semelhante.

O caminho para fora dessa teia perversa é o autoconhecimento e a ruptura completa de contato com esses tipos. Qualquer tentativa de manter o contato em qualquer nível que seja pode levar você ao total desequilíbrio emocional, a doenças físicas e psíquicas, ao auto-abandono e, na pior das hipóteses, ao suicídio.

Lembre-se que quando qualquer uma dessas alternativas se confirma, seu abusador VENCE. Portanto, reaja, tirando de suas mãos o poder que, sem perceber, lhe conferiu.

Imagem de capa: Shutterstock/Voyagerix

Lucy Rocha

Advogada, personal coach e fascinada pelo estudo de transtornos de personalidade, administra a página Relações Tóxicas, na qual dá dicas e apoio a pessoas que vivem, viveram ou sobreviveram a uma relação abusiva. Seu maior prazer é escrever reflexões sobre a vida e sobre o ser humano.

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