A cena é comum: cabeça abaixada, olhos atentos ao celular, interação limitada com o mundo ao redor. O uso excessivo da tecnologia tem sido uma realidade entre adolescentes, tornando-se um fenômeno preocupante. Mas o que acontece quando eles são privados das telas, especialmente neste momento em que os celulares estão proibidos nas escolas? Em alguns casos, a ausência do dispositivo pode levar a sintomas de nomofobia, uma condição caracterizada pelo medo irracional de ficar sem acesso ao celular ou à internet.
Apesar de não ser oficialmente reconhecida como um transtorno pela comunidade médica, a nomofobia afeta significativamente a saúde mental dos jovens. Isso acontece porque, ao usarem os dispositivos móveis, os adolescentes experimentam uma liberação constante de dopamina, neurotransmissor ligado ao prazer e à recompensa.
“O celular oferece estímulos constantes de recompensa rápida, como notificações e interações sociais, criando um ciclo de busca compulsiva. Ficar longe dos dispositivos requer tratamento, adaptação e aumento da tolerância, pois pode gerar ansiedade, insegurança e medo de exclusão social”, explica Larissa Fonseca, psicóloga e doutoranda da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo).
Principais sintomas da nomofobia
- Irritabilidade, inquietação ou angústia;
- Compulsão por atualizar notificações e uso do celular em situações inapropriadas;
- Dificuldade de concentração em atividades offline;
- Problemas no sono, como acordar de madrugada para verificar mensagens.
Diagnóstico e impacto na saúde mental
O diagnóstico da nomofobia deve ser feito por um profissional da saúde mental, com base na observação dos impactos da dependência digital na vida do adolescente. O transtorno pode estar associado a outras condições, como ansiedade e depressão.
O uso excessivo do celular pode ser uma válvula de escape para o sofrimento emocional, tornando-se um mecanismo de dependência. Além disso, a exposição constante às redes sociais pode intensificar sentimentos de comparação e insatisfação, agravando quadros depressivos.
A retirada abrupta do celular pode causar abstinência?
Sim. Segundo a especialista, a privação repentina do dispositivo pode gerar sintomas de abstinência, como irritabilidade e ansiedade. O ideal é que a transição ocorra de forma gradual, com a introdução de atividades que estimulem interação social e novas fontes de recompensa, como jogos e esportes.
“O suporte emocional dos pais e professores é fundamental para minimizar o impacto da transição, garantindo que o adolescente se sinta acolhido”, enfatiza Fonseca.
Prevenção e tratamento
A prevenção da nomofobia envolve o estabelecimento de limites saudáveis para o uso da tecnologia. Algumas estratégias incluem:
- Diálogo: incentivar conversas sobre o impacto do uso excessivo do celular;
- Tempo limitado: estabelecer horários para o uso de telas;
- Momentos offline: criar espaços livres de tecnologia, como durante as refeições;
- Atividades presenciais: estimular brincadeiras, esportes e interações sociais;
- Exemplo dos pais: reduzir o próprio tempo de tela para incentivar os filhos a fazerem o mesmo.
Para os casos em que a dependência já está estabelecida, o tratamento pode ser feito por meio da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). Essa abordagem ajuda a desenvolver estratégias para reduzir a compulsão digital, manejar a ansiedade e incentivar a atenção plena em atividades do dia a dia.
Com a proibição do uso de celulares em escolas, o desafio é garantir que os jovens consigam se adaptar à nova realidade sem prejuízos à saúde mental. O caminho para um equilíbrio entre o mundo digital e a vida real está na construção de hábitos saudáveis e no suporte da família e educadores.