Para nós ocidentais, temer o futuro é uma tendência arraigada.
É compreensível que certa apreensão quanto ao futuro apareça, pois quando pensamos nas ações e escolhas que o definirão, constatamos que nelas há sempre um elemento de aposta, o que nos impõe sentimentos de incerteza.
Ocorre que diante das incertezas e apostas, costumamos assumir duas posturas: apegamo-nos a ilusões ou fugimos para não nos confrontarmos com receios e temores.
De fato, ter alguma ilusão em momentos de desespero pode ajudar a ganhar tempo até ver a realidade de forma menos crua e se recompor para voltar à luta.
Ter medo não é ruim em si. O medo é um afeto. Ele produz percepções do alcance dos fatos para nossos interesses. Assim sendo, o medo tem funções protetivas, permite-nos minimizar riscos e potencializar benefícios.
Mas, existem outras atitudes possíveis.
Podemos manter uma postura realística, mas esperançosa e revestir decisões com ousadia calculada, temperada com a emoção do risco e a segurança da atitude previdente que enxerga o futuro como um lugar desejável, mas para o qual precisamos estar preparados.
Essa fixação em posturas ilusórias ou medrosas decorre de hábitos de enxergar o futuro apenas como risco. Parece que nossas referências existenciais se constituem mais pelo que tememos do que pelo que desejamos.
A ilusão e o medo excessivo nos tornam vulneráveis então, acabamos agindo como criaturas, cuja vontade é subjugada pela desesperança.
Segundo a Psicanálise, o medo excessivo pode ser fruto de inadaptações. É o medo neurótico, fixado em conflitos que nos esmagam. O medo que enfraquece e ofusca nosso potencial. O temor pode ser um sintoma que anuncia algo reprimido. Algo que nos constitui e por isto mesmo, tem força inapelável sobre nossas ações e escolhas, por isso, o autoconhecimento é fundamental para enfrentar esse afeto, quando ele nos imobiliza.
Para os existencialistas, quando nos comprimimos pelo medo, adotamos um estilo de vida neurótico e nos movemos em um apertado espaço existencial.
E efetivamente, se pensarmos na vida como o espaço no qual nos movemos, veremos que o predomínio incessante do medo aniquila a vontade, cessa o gosto pela ação, frustra relações. Conviver com pessoas positivas e confiantes pode ajudar a lidar com o medo do futuro.
Rudyard Kipling, poeta britânico, dizia: ’Entre todos os mentirosos do mundo, às vezes, os piores são os nossos próprios temores’.
Ele fala com propriedade do medo inventado pelas nossas fantasias de desamparo, desesperança e solidão e nossas ilusões megalomaníacas, mas que infelizmente, acabam definindo nossas escolhas.
E quantas vezes não temos apenas esses medos e seus subprodutos como conselheiros?
Carreira, amores, amizades, condição material. Não importa o campo sobre o qual recairão nossas decisões. O maior antídoto para o medo imobilizante é a ação consciente, confiante e esperançosa.
O ensaísta Ralph Waldo Emerson dizia em um de seus brilhantes textos: ‘Fazes o que tu temes e a morte do medo será certa’.
Sua exortação é inspiração para uma visão ativa de como devemos nos sentir quando confrontados com o medo do futuro e nos convida à autoconfiança e ao entusiasmo ao assumirmos as escolhas que a vida propõe.
O que nos conduz ao futuro é ter um pé firme no presente e agir de forma afirmativa e autodeterminada, sem esquecermos de que o medo pode ser administrado com boas doses de esperança.
Imagem de capa: Shutterstock/beeboys